Jornal Estado de Minas

ELEIÇÕES 2022

Prefeitos na linha de frente no segundo turno

Em Francisco Sá, o prefeito tenta virar votos para Bolsonaro (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A PRESS)
Francisco Sá – No primeiro turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) com folga no Norte de Minas. Nos 92 municípios da região, o atual presidente levou a melhor em apenas duas dois – Pirapora e Taiobeiras. Lula obteve votações expressivas sobretudo nas pequenas cidades, considerados redutos petistas. Na campanha do segundo turno, prefeitos norte-mineiros correligionários do governador Romeu Zema (Novo), viraram cabos eleitorais de Bolsonaro e fazem uma mobilização junto aos eleitores para tentar diminuir a diferença em favor de Lula.





Um dos prefeitos do Norte do estado empenhados na busca de votos para Bolsonaro é Mario Osvaldo Casasanta (Avante), de Francisco Sá (26,3 mil habitantes). Ele gravou um vídeo pedindo aos eleitores da cidade uma virada na votação da cidade no próximo dia 30. No primeiro turno, Lula recebeu 9.788 votos (71,59% dos válidos) enquanto Bolsonaro teve 3.222 votos (23,56%) em Francisco Sá. Na disputa para o governo, Alexandre Kalil (PSD), 6.473 votos (52,49%) e Zema, 5.027 votos (40,76%).
Entre os eleitores da cidade, as opiniões diante do apelo do chefe do Executivo se dividem. A cuidadora Ana Maria de Jesus, que trabalha em uma unidade de ensino infantil do município, disse que votou no representante do PT em 2 de outubro e que vai votar em Bolsonaro no próximo dia 30. “Eu votei em Lula. Mas, no segundo turno, vou votar no 22 (número do candidato do PL). Acho que tem que ir (sic) para o melhor”, afirma.

Ana Maria diz que ouviu o pedido do prefeito Mário Osvaldo, ao qual faz elogios. “Nós nunca tivemos um prefeito tão bom como ele. Tudo de bom que tem na cidade foi ele que foi atrás”, diz a moradora, acrescentando que o chefe do executivo também é “amigo” da família dela.





Contudo, a eleitora nega que tenha mudado o voto “só” por causa do apelo do prefeito. “Eu mudei o voto não foi só porque o prefeito pediu. A gente vota pelo nosso bem-estar”, diz a mulher, acrescentando que na sua família são seis pessoas que vão acompanhá-la na mudança de voto no segundo turno da eleição presidencial.
 
"Eu votei em Lula. Mas, no segundo turno, vou votar no 22 (...).Eu mudei o voto não foi só porque o prefeito pediu. A gente vota pelo nosso bem-estar" diz Ana Maria de Jesus (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A PRESS)
 

Já auxiliar administrativa Flávia Priscila Silveira declarou ter votado em Mário Osvaldo para a prefeitura, mas desta vez não vai acompanhá-lo. “Votei no Lula no primeiro turno porque pra mim ele é a melhor opção. No segundo turno vou votar nele de novo”, garantiu. Flávia Priscila, que não quis tirar fotos, alegou que não tem acompanhado a campanha eleitoral na televisão. “Não estou por dentro, não. Para falar a verdade, é muito difícil eu ver televisão, internet, essas coisas..” Perguntada sobre as denúncias de corrupção contra o petista, a eleitora respondeu: “Acho todos erram, né”.

Também morador de Francisco Sá, o mototaxista Ednei Alves Barbosa, de 37 anos, declarou que votou em Lula no primeiro turno e no segundo turno vai repetir o voto. “No primeiro turno, votei no Lula e segundo turno será o 13 (número do candidato) de novo”, afirma. Ele justifica: “Espero que o Lula (se ganhar) faça uma boa gestão, igual às outras que ele fez. Ele não foi um presidente ruim, não. Pra mim, ele foi o melhor que já teve”. Ednei diz que “sempre foi petista” e que não muda o seu voto em Lula, o qual defende das denúncias de corrupção. “Não conseguiram provar (nada), ele está solto. E está concorrendo à eleição de novo. Ele foi acusado e estaria preso se tivesse roubado”, questionou. Ednei disse ainda que os três eleitores de sua família votam em Bolsonaro.





A atendente de farmácia Alexia Brito revelou que, no dia 2 de outubro, votou no petista, mas que vai votar no atual presidente em 30 de outubro. Ela nega que o apelo do prefeito da cidade tenha influência em sua decisão., “No primeiro turno, votei no Lula por uma opção pessoal. Mas, no segundo turno, resolvi votar no Bolsonaro por causa de um pedido do meu pai. Ele é caminhoneiro, vive nas estradas e pediu para eu votar no Bolsonaro. Mudei o voto de forma consciente”, declarou. “Espero que as coisas melhores. Pra mim que tenho meu emprego, tudo bem. Mas, ainda tem muita gente passando dificuldades e as pessoas estão esperançosas”, completa Alexia Brito.

Abstenção


O pequeno comerciante Samuel Lázaro de Oliveira disse que não votou no primeiro turno. “A fila na seção de votação estava muito grande e acabei desistindo de votar”. Ele afirmou que pretende abster de votar no segundo turno novamente. “Fica só um (candidato) brigando com outro na mídia. Acho que o que entrar (ganhar) não vai mudar nada”, diz.

Já a diarista Beatriz de Jesus revelou ter anulado o voto para presidente no primeiro turno e ainda não decidiu se vai fazer a mesma coisa no segundo turno. “Até lá (30 de outubro), eu vou ver em quem votar. Talvez o Lula”, disse Beatriz.





Gratidão ao presidente

O prefeito de Francisco Sá, Mario Osvaldo Casasanta (Avante), que foi reeleito para o segundo mandato em 2020 com quase 80% dos votos da cidade, disse que na eleição do primeiro turno deste ano não se empenhou no pedido de votos para presidente da República, pois se concentrou na campanha dos candidatos a deputado que foram majoritários no município.

Ele garante, no entanto, que no segundo turno está sendo diferente e que está empenhado na campanha do presidente Jair Bolsonaro, “por gratidão”. “Não estou obrigando ninguém a votar, mas apenas pedindo votos para o Bolsonaro. Nos últimos anos, recebemos muitos recursos do Governo Federal que transformaram o nosso município. Então, acho que devemos votar no atual presidente como forma de gratidão”, afirma. O chefe do executivo afirma que, como produtor rural, também vota no representante do PL pelo apoio ao homem do campo.
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Mário Osvaldo prefere não arriscar qual o percentual de votos que Bolsonaro poderá alcança em sua cidade no segundo turno. “Estou conversando com as pessoas e pedindo votos. Mas, com qualquer quantidade que a gente conseguir a mais e o presidente se reeleger, ficarei satisfeito”, afirma.




 
 
 

Cabo eleitoral petista

 
Itaúna – Na contramão de Francisco Sá, a cidade de Itaúna, no Centro-Oeste de Minas, deu a maioria dos votos no primeiro turno ao presidente Jair Bolsonaro. O candidato do PL obteve 58,54% dos votos, contra 32,48% do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

Para tentar mudar este cenário, o prefeito do município, Neider Moreira (PSD), assumiu o papel de cabo eleitoral do petista. Chegou inclusive a gravar um vídeo em apoio ao candidato, que tem sido compartilhado principalmente no WhatsApp por aliados do petista. Neider é do mesmo partido do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, que dividiu palanque com Lula ao disputar o governo de Minas.
Com um resultado em Itaúna tão desfavorável a Lula no primeiro turno, o trabalho do prefeito como cabo eleitoral se torna bastante complicado. Ele próprio admite não acreditar em converter o seu apoio e em votos capazes de mudar o resultado do primeiro turno no município. Neider aponta como resistência “o setor conservador”. “Acho difícil por que existe um setor conservador na cidade muito arraigado e que não entende que o governo não pode ser para um setor só, que quando você governa, você governa para a comunidade como um todo. Esse setor da elite, não aceita isso, não aceita uma posição diferente da dele. Acho difícil isso mudar aqui na cidade, mas estamos fazendo o possível para contribuir com a eleição do Lula”, pondera.





Nas ruas de Itaúna, os eleitores dispostos a manter o voto no segundo turno, indiferentes aos apelos do prefeito, são encontrados com facilidade. É o caso do estudante Fernando Batista, de 17 anos. Sem revelar o voto, ele diz acreditar que o prefeito não tem capacidade para influenciar na decisão dos eleitores. “Pretendo manter o voto porque a pessoa que votei vai ser melhor. O que ele está propondo é melhor. E acho que o prefeito não tem essa capacidade de influência para alterar os votos”, diz.

Nas urnas pela primeira vez, o adolescente contou que a decisão de votar, mesmo sem se enquadrar entre aqueles obrigatórios, foi para exercer a cidadania. “Acho que é importante para a geração futura. Vou ter um sobrinho e quero que ele cresça em um país pelo menos organizado”, destaca.

O otimismo do estudante vai na contramão da desmotivação da doméstica Maria Aparecida do Carmo, de 63 anos. “Vou manter o voto. Votei no Bolsonaro, mas não faz diferença se é o Lula ou se é Bolsonaro. Vai vencer o que Deus quiser. A escolha foi minha, sem interferência, e não altero por causa de ninguém. A escolha é de Deus”, enfatiza.




 
"Vou repetir meu voto e acho que o prefeito não tem força para alterar o resultado. A minha opção foi para não repetir os erros dos anteriores e pela busca de melhorias", disse Vanessa Bernardes (foto: Amanda Quintiliano/Esp. EM.)
 

O pedreiro Denio Eustáquio, 45 anos, compartilha o mesmo ponto de vista. Sem entrar no mérito da atuação do prefeito, afirmou apenas que ainda há muito a ser feito pelo atual presidente. “O que está lá, está por dentro das coisas. Ele pegou uma pandemia e mesmo assim está indo bem. Ele merece mais quatro anos”, diz.

Com o argumento de não voltar ao passado, a esteticista Vanessa Bernardes, 35 anos, também diz que irá confirmar na urna o mesmo número do primeiro turno. “Vou repetir meu voto e acho que o prefeito não tem força para alterar o resultado. A minha opção foi para não repetir os erros dos anteriores e pela busca de melhorias”, comenta.
  
"Com o Lula estava mais barata a vida, agora com o preço está difícil de se viver, está cara a vida. Não sei se a culpa é do Bolsonaro, mas acho que com o Lula será melho", disse Isaias Luiz (foto: Amanda Quintiliano/Esp. EM. Brasil)
 
 
Mesmo sem acreditar que o líder do executivo vai influenciar nos resultados, o motoboy Isaias Luiz, 39 anos, tende a seguir a mesma linha. “Com o Lula estava mais barata a vida, agora com o preço está difícil de se viver, está cara a vida. Não sei se a culpa é do Bolsonaro, mas acho que com o Lula será melhor”, avalia.





A estudante Natalia Ribeiro, 20 anos, também manterá o voto do primeiro turno. “Ainda acredito no meu candidato, que ele pode fazer mudanças”, destaca. Mesmo com o voto definido, para ela o posicionamento do prefeito pode ajudar, principalmente, os indecisos. “Acompanho o voto do prefeito. É o mesmo posicionamento do meu. E vejo que é importante ele se manifestar porque muita gente ainda não se posicionou. Tem gente que votou na terceira via e agora temos apenas duas opções”, afirma.

Contrafilé na brasa x ovo cozido

O prefeito Neider Moreira justifica seu apoio a Lula comparando o governo dele com o de Bolsonaro. Na sua opinião, a administração petista foi “infinitamente superior”. “O governo Bolsonaro governa só para elite. No governo do Lula o cidadão financiou a casa onde ele mora, Minha Casa Minha Vida, hoje não consegue pagar prestação. Ele comprava contrafilé para assar com a família no domingo; hoje, no máximo, está cozinhando um ovo. Financiou o carro, que hoje ele não anda nele porque não consegue colocar combustível”, argumenta.

O líder do Executivo aponta como erro de Lula a indicação de Dilma Rousseff (PT) para sucedê-lo. “O governo da Dilma foi muito ruim (...) na condução econômica, faltou compreender o mercado”, aponta. Hoje, ele alega ter um governo que “interfere mais na economia” e que prejudica os estados e os municípios. “Quando Bolsonaro fez a redução do ICMS via aprovação de uma PEC no Congresso, ele não pensou que isso atingiria estados e municípios. Não tira do dele, faz cortesia com o chapéu do outro”, pontua.





Vice neutra


A cidade tem um cenário, no mínimo, curioso. Moreira tem como vice-prefeita Glaucia Santiago. Filiada ao mesmo partido de Bolsonaro, o PL, ela disputou, nestas eleições, o cargo a deputada federal. Alcançando 11.297 votos e no rastro dos 1,4 milhão conquistados pelo vereador de Belo Horizonte, Nikolas Ferreira (PL), terminou o pleito como primeira suplente. Apesar de filiada ao PL, ela se mantém neutra na disputa à presidência. “Que vença o melhor”, afirmou por meio da assessoria de comunicação. Ela diz ter colocado o nome dela na disputa com foco em Itaúna e o Centro-Oeste. Como suplente, ainda nutre a esperança de assumir cargo, seguindo a linha da neutralidade.