Jornal Estado de Minas

eleições 2022

Foco nos indecisos e na menor abstenção



O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encerrou ontem sua segunda passagem por Minas no segundo turno das eleições. Depois de visitar Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, e Juiz de Fora, na Zona da Mata, na sexta-feira, o petista fez caminhada entre a região de Venda Nova, em Belo Horizonte, e Ribeirão das Neves, na região metropolitana. 





Na Grande BH, a campanha direcionou o discurso para a redução de abstenções e convencimento de eleitores que anularam o voto ou não escolheram nem Lula, nem Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno. 

A incursão foi a primeira que teve a senadora Simone Tebet (MDB) ao seu lado em atos públicos e também foi marcada por discursos da deputada federal eleita Marina Silva (Rede).     

Além de Tebet e Marina, na Grande BH, Lula foi acompanhado pelo ex-prefeito da capital e candidato apoiado pelo petista ao governo do estado Alexandre Kalil (PSD), pelo prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), pelo ex-governador Fernando Pimentel (PT), pelo senador Alexandre Silveira (PSD) e diversos deputados eleitos neste pleito, como Beatriz Cerqueira (PT), Reginaldo Lopes (PT), Macaé Evaristo (PT), Célia Xakriabá (Psol) e Andreia de Jesus (PT). 

Lula trouxe à tona a estratégia de buscar votos de indecisos, nulos e abstenções logo no início do discurso. O petista disse a apoiadores que eles devem fazer eleitores recordarem sua gestão em comparação à de Bolsonaro para conseguir mais votos em 30 de outubro.





“Eu começo minhas palavras agradecendo a cada homem e a cada mulher porque se dependesse de Ribeirão das Neves eu teria vencido no primeiro turno. Mas essa nossa passeata de hoje tem uma razão de ser e eu queria explicar pra vocês. Nós temos milhões de pessoas que não foram votar no dia 2 de outubro. Aqui em Minas Gerais, nós temos 30% dos jovens que tiraram título de eleitor e não foram votar. Temos outros milhões que não votaram por qualquer razão. Ou porque não queria, ou porque não tinha o dinheiro do ônibus ou porque não tinha sido convencido por nós. Então eu queria começar dizendo para vocês que nós temos de segunda a sábado para conversar com essa gente e explicar por que essa gente tem que votar e eles têm que derrubar esse fascista que governa nosso país”, afirmou.

A fala de Lula foi precedida por Simone Tebet, que fez sua primeira aparição em atos públicos com o ex-presidente nesta jornada por Minas. Ela também começou seu discurso com foco nas abstenções. 

“Nós, de hoje até o dia 30 de outubro, temos um compromisso e um compromisso apenas. Através das redes sociais, dos círculos dos nossos amigos, nas nossas igrejas, nas nossas casas. Levanta a mão aqui quem conhece alguém que anulou o voto. Quem conhece alguém que votou em branco. Que votou em Ciro ou em Simone. Agora é hora de falarmos para essas pessoas, Ciro está com Lula, Simone está com Lula. Quem anulou o voto tem que dar o voto no 13 pela democracia”, afirmou a senadora.





Lula fez críticas a Bolsonaro durante pronunciamento, falou sobre a política armamentista do atual presidente em comparação ao investimento em educação, e reforçou propostas de retomada de projetos em universidades públicas, escolas técnicas e programas como o Minha casa, minha vida. Tebet e Marina reforçaram as críticas a fala recente do atual presidente, quando disse ter “pintado um clima” com adolescentes venezuelanas que, segundo Bolsonaro, estariam se prostituindo.

Marina Silva também discursou em Ribeirão das Neves. A ex-ministra e ex-senadora reforçou o apoio a Lula ao lado de Tebet e recordou sua experiência com a alfabetização tardia e a dificuldade no acesso à educação. 

“Eu decidi que não quero ver o povo preto, o povo pobre, os nossos jovens entrando por frestas, nós queremos entrar pela porta da frente e quem ajuda a entrar pela porta da frente é Luiz Inácio Lula presidente. No dia 30, quem vai sair pela porta dos fundos é Bolsonaro.”




Governador 

A segunda passagem de Lula por Minas foi marcada também por críticas mais incisivas à aliança entre Romeu Zema (Novo) e Bolsonaro, construída no segundo turno. 
     
Ontem, ele voltou a tratar sobre o apoio declarado pelo governador reeleito menos de 48 horas após o primeiro turno, quando ele manteve a naturalidade sobre o pleito presidencial. 

“Eu acho estranho, porque eu nunca falei o nome do Zema em nenhum discurso, porque não o conheço. Eu o respeito como governador do povo mineiro, e eu faria questão de não falar mal de governador. Ele também não falava o nome do Bolsonaro, e não falava por quê? Porque tinha 48% dos votos dele que eram votos com Lula. O que é triste é que, terminadas as eleições, ele, que passou a ideia para o povo que não tinha nenhum candidato a presidente, assume o bolsonarismo. O que é uma coisa, na minha opinião, ruim, negativa. Como você pode ter dois comportamentos, sabe, em momentos, sabe, quase iguais? Porque os candidatos são os mesmos”, questionou.

A declaração foi dada em coletiva de imprensa concedida antes da passeata em Venda Nova. Na mesma entrevista, Lula voltou a falar sobre Zema quando comentou sobre o metrô de Belo Horizonte. 

Ele afirmou que a ampliação do modal depende de um trabalho conjunto de presidente e governador e citou as obras para a finalização da linha 1 do modal durante seu primeiro mandato.





“Quando eu era presidente, a gente fez a linha 1 do metrô. O metrô, para ser construído, é preciso que tenha parceria entre governo do estado e governo federal. O Aécio (Neves), a gente discutiu metrô no meu primeiro mandato, depois o Aécio disse que ia privatizar o metrô, que ia tentar fazer concessão, e é muito fácil falar em fazer concessão, mas é muito difícil”, disse o petista.

O candidato do PT voltou a prometer prioridade para a expansão do metrô de BH. “Quando nós ganharmos as eleições, e estamos certos que vamos ganhar as eleições, eu pretendo, na primeira semana, convocar todos os governadores eleitos, independentemente do partido a que eles pertençam, para conversar as prioridades de cada estado e pedir para cada um pelo menos apresentar três projetos que são imprescindíveis para o estado. E quem sabe, então, o governador coloca o metrô como imprescindível? É importante”, disse.

Marina Silva é atacada em BH

Simone Tebet abriu seu pronunciamento à imprensa na manhã de ontem se solidarizando com Carmen Lúcia, ministra do Supremo Tribunal Federal, chamada de prostituta pelo pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) na véspera, e com Marina Silva, que também foi atacada na sexta-feira. A senadora e a própria Marina relataram posteriormente momentos vividos pela deputada federal eleita em um restaurante da Região Centro-Sul de Belo Horizonte na noite de sábado.





De acordo com Marina, enquanto ela e outros integrantes da comitiva de Lula jantavam, apoiadores de Bolsonaro em uma outra mesa do restaurante começaram a gritar “mito” e o nome do presidente e depois a xingaram diretamente com palavras como “traidora” e “vagabunda”.

“Quando se trata de uma mulher, é sempre nessa questão de natureza moral, sexual. Parece que o bolsonarismo não sabe lidar com as mulheres, não sabe lidar do ponto de vista político e ético”, afirmou Marina. Ela registrou a ocorrência em uma delegacia e disse que o fez para que a atitude não se repita. Lula comentou o ataque à aliada, disse que pertence a uma “escola” do fascismo. “É um canalha da pior espécie. A companheira dele tentou segurá-lo porque ela sabe que se uma filha dele soubesse o que ele estava fazendo, ele ia ficar desmoralizado”, disse o petista. (BE e MM)