Durante a corrida eleitoral de 2018, um então deputado do chamado "baixo clero" transformou a casa do empresário Paulo Marinho, no Rio de Janeiro, em um verdadeiro "Quartel General" de campanha.
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Ex-aliado de Bolsonaro, André Marinho: Presidente é 'um sociopata sedutor'Bolsonaro: Forças Armadas não dão 'selo de credibilidade' as eleiçõesTebet sobre Bolsonaro: 'Vamos tirar a faixa do que desrespeita as mulheres'Paulo e André Marinho homenageiam Bebianno após derrota de BolsonaroApoiadores não aceitam derrota e fecham BR-163 no Mato GrossoOs bastidores desta empreitada são narradas no recém lançado livro "O Brasil (não) é uma piada", de André Marinho. Com o bom-humor típico do autor, a obra destaca como Jair Messias Bolsonaro foi alçado ao cargo de presidente.
Confira trechos da obra
De 'esquerdista' para aliado
"Em novembro de 2017, a Veja tinha convidado Jair Bolsonaro para a sabatina "Amarelas ao Vivo" (...). Ele seria entrevistado pelo jornalista Augusto Nunes, até então publicamente descrente do seu potencial eleitoral e, por conseguinte, seu desafeto, a quem vituperava aos quatro cantos de 'esquerdista, safado e sem-vergonha'". (p.49-50)
Justiça pro bono
"Bolsonaro era réu em duas ações penais que tramitavam no Supremo Tribunal Federal (...). Uma corrente no Supremo alertava para o artigo 15 da Constituição, que prevê a suspensão dos direitos políticos de quem tiver condenação transitada em julgado (...). Meu pai, embora relutante, concordou em providenciar uma assessoria jurídica à altura das 'causas impossíveis'. (...)
Bolsonaro de pronto indagou: 'Mas quanto isso vai custar? Porque eu não tenho nenhum tostão'. Ficou satisfeito ao saber que meu pai conversaria com Pitombo para assumir a defesa pro bono."
Arthur Weintraub, homem de caráter
"Bolsonaro acreditava em uma espécie de conspiração contra a sua candidatura. Bebianno auscultou coração e pulmões do STF e soube que não havia conspiração alguma. (...) Arthur Weintraub foi taxativo ao afirmar que Bolsonaro tinha que renunciar ao mandato na semana seguinte, pois havia um 'golpe' em curso no Supremo para tornar o Capitão inelegível. (...) Bebianno suplicou que Arthur não desse sua opinião a Bolsonaro, pois ele certamente arriaria. Arthur prometeu. No dia seguinte, Arthur Weintraub e Jair Bolsonaro se encontraram casualmente no aeroporto de Brasília. Weintraub, homem de caráter irretocável, homem de palavra, deu a letra e traiu a confiança de Bebianno"
Pesquisas eleitorais
"Bolsonaro era obcecado por pesquisas eleitorais. (...) Nada mais longe da verdade do que a imagem que pretendeu passar de que não se importava com os números e não confiava nos institutos de pesquisa"
Preparação para Sabatina GloboNews
No ensaio, quando os apoiadores fizeram um semicírculo, Bolsonaro sacou a pistola da cintura, colocou na mesa e perguntou de forma séria se "vai ser pelotão de fuzilamento ou não?".
'Janaína é chata pra cacete'
"Janaina Paschoal era a favorita de Bebianno para o posto de vice. Em tese, seria ideal para mitigar a rejeição de Bolsonaro junto às mulheres e consolidar de vez o sentimento antipetista rumo à candidatura, dado que Janaina ganhou notoriedade como uma das autoras do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (...).
Notei Bolsonaro impaciente, resmungando. Até que não se aguentou e verbalizou o que estava na cabeça: 'Puta que pariu! Essa Janaína é chata pra cacete!'"
Paulo Guedes x Pérsio Arida
"Notei a presença, à esquerda, de Pérsio Arida, um dos artífices do Plano Real e conselheiro-mor econômico de Alckmin, e à direita, Paulo Guedes, seu desafeto, persona non grata na academira e avalista liberal de Bolsonaro. Era nítido o desprezo entre eles".
Após a facada
"O cardiologista Roberto Kalil, do Hospital Sírio-Libanês. (...) Atendeu pessoalmente Lula, Dilma, Temer, Collor e Sarney. (...) Mobilizou um jatinho com sua equipe, capitaneada pela dra. Ludhmila Hajjar, com uma UTI móvel para o hospital onde estava Bolsonaro. (...) Acontece que Carlos e Eduardo alegando que Kalil e sua equipe eram 'árabes comunistas' que matariam o pai deles, frustraram todo o plano".
Caroço no angu
"'Chegando lá, se não fizermos tudo certo, nós vamos sair presos', disse Bolsonaro. Foi o primeiro indício que Bebianno e meu pai tiveram que poderia haver caroço no angu de Bolsonaro"
Míriam Leitão como assessora de imprensa
"A correspondente do jornal argentino Clarín, Eleonora Gosman, perguntou se o Mercosul seria "desmontado". (...) Exageradamente irritado, o então futuro ministro disparou: 'O Mercosul não é prioridade' (...).
Meu pai ponderou que Guedes deveria priorizar (leia-se: contratar urgentemente, antes da próxima bobagem) uma assessoria de imprensa à altura do cargo que estava prestes a ocupar. Guedes concordou. (...) Guedes pensou um pouco sobre o incidente com os jornalistas, refletiu em silêncio por alguns minutos e mandou 'tenho o nome ideal para essa função e já vou falar com ela. O que que você acha, Paulo, da Míriam Leitão?"
"Pedir desculpas ao Brasil"
A interlocutores, pouco depois (de Gustavo Bebianno ser demitido do governo), fez um desabafo: "Preciso pedir desculpas ao Brasil por ter viabilizado a candidatura de Bolsonaro. Nunca imaginei que ele seria um presidente tão fraco".
O BRASIL (NÃO) É UMA PIADA, de André Marinho
Editora Intrínseca
Páginas: 240
Livro impresso: R$ 59,90
E-book: R$ 29,90