Jornal Estado de Minas

ELEIÇÕES

Nada 'recatadas': Michelle e Janja protagonizam campanhas eleitorais

Antes “belas, recatadas e do lar”, agora protagonistas da disputa entre o candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL), e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Michelle Bolsonaro e Janja Lula são consideradas vitais na campanha dos maridos. Essa é a primeira vez na história política do Brasilem que as campanhas são conduzidas por primeiras damas ou companheiras/esposas de candidatos. 





No início da República no Brasil, cabia às primeiras-damas aquele que era tido como o papel das mulheres à época: cuidar dos afazeres domésticos. Além disso, elas acompanhavam os maridos nos eventos oficiais. Com o passar do tempo, as esposas dos presidentes começaram a adquirir papel social. E apenas agora, em 2022, elas tomam os lugares em palanques, com palavras de ordem e mobilização social.

De acordo com o cientista político e professor da Faculdade Arnaldo Vladimir Feijó, a atuação das mulheres dos presidenciáveis é uma tendência das campanhas dos Estados Unidos e da Argentina. No Brasil a tendência é que estejam a “tiracolo para transmitir a imagem de família e homens responsáveis”.

No Brasil, três presidentes homens concorreram à reeleição. Foram eles: Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula e Jair Bolsonaro.

No primeiro cenário, a presença da Ruth Cardoso foi bastante ativa em pautas sociais durante o primeiro mandato de FHC implementando muitos dos serviços de assistência social em caráter embrionário. Ela teve papel discreto na campanha da reeleição, mas os programas foram explorados juntamente com o plano real como pautas para ajudar na reeleição. 



Presença da Ruth Cardoso foi bastante ativa em pautas sociais durante o primeiro mandato de FHC (foto: ARQUIVO)


No segundo cenário, a presença da Marisa Letícia, apesar de ter sido uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT), foi mais discreta no primeiro mandato do Lula, tendo se recolhido a funções mais domésticas e familiares mesmo tendo assumido patronagem de causas sociais. Sua presença na campanha foi sempre próxima, mas em plano de fundo.

A presença da Marisa Letícia, apesar de ter sido uma das fundadoras do Partido dos Trabalhadores (PT), foi mais discreta no primeiro mandato do Lula (foto: ARQUIVO)

Agora, no terceiro cenário, em busca de diminuir a rejeição de Jair Bolsonaro entre as mulheres, a primeira-dama vem sendo uma das estrelas da campanha do marido. Michelle Bolsonaro corre o Brasil em campanha relacionada à igreja. A primeira-dama vem viajando sozinha, com apoiadores focados nela, e ainda faz comícios pedindo a reeleição do marido.


Michelle já estrelou horários eleitorais e vem sendo citada pelo presidente em discursos como exemplo de “mulher da pátria”.



Michelle já estrelou horários eleitorais e vem sendo citada pelo presidente em discursos como exemplo de 'mulher da pátria' (foto: AFP/REPRODUÇÃO)

“Michele Bolsonaro prometeu que teria papel ativo no governo, mas seu patrocínio de causa social foi muito modesto. No fim de 2021, ela foi escalada para tentar melhorar a imagem de ‘torrão, extremamente machista’ do presidente e acabou, assumindo agenda específica em especial junto ao povo evangélico”, explica Feijó.

Do outro lado, Janja Lula aparece como braço-direito de Lula. A esposa do ex-presidente cumpre importante espaço na campanha eleitoral. Responsável pelo jingle “Brilha uma estrela”, é Janja quem vem mobilizando a campanha na questão de pautas femininas. A mulher de Lula também é responsável pela aproximação de Lula com as redes sociais e influenciadores. Tirando a imagem do ex-presidente de antiquado.


“Sempre fisicamente próxima, nos palcos e carros elétricos cuidando da alimentação e hidratação de Lula, Janja também é responsável pela agenda dele evitando sobrecarga e tentando incluir o máximo possível de eventos que contenham diferentes públicos e pautas. Ela tenta sempre incluir a presença feminina nos eventos, chamando para cantar e abraçar. Mas faz a mesma coisa também com aliados do sexo masculino. Apesar de ter sido sugerido que tenha agenda própria, ela tem se recusado a fazer isso”, seguiu Feijó.



Janja Lula aparece como braço-direito de Lula durante campanha eleitoral (foto: Ricardo Stuckert/PT)

Papel social


No Brasil, as primeiras-damas carregam um papel social e não carregam título oficial e nem cargo de estado. A princípio, a primeira-dama não possui funções oficiais dentro do governo, mas costuma participar de cerimônias públicas e organizar ações sociais, tais como eventos beneficentes.

Segundo Feijó, durante os anos o Brasil seguiu o modelo americano de republicanismo trazendo com ele, a participação mais efetiva de primeiras-damas. A ação, que em 2022, parece estrelas de campanhas, já é feita nos Estados Unidos a muitos anos.