A dona da Rádio JM de Uberaba, Lídia Prata, considerou que a emissora ficou "no olho do furacão" de uma forma "maldosa e cruel" na polêmica sobre as inserções eleitorais supostamente favoráveis à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conforme denúncia da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL).
A proprietária do veículo de comunicação se manifestou por meio da coluna Alternativa, um dia depois da exoneração de Alexandre Gomes Machado do cargo de assessor de gabiniete da Secretaria Judiciária da Secretaria-Geral da Presidência.
“Vários veículos de comunicação, inclusive de Uberaba, noticiaram a consulta que a Rádio JM fez ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ao sabor de suas conveniências, com o deplorável tempero do fígado”, escreveu Prata, que é jornalista e advogada.
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Lula sobre Bolsonaro e acusação contra rádios: 'Sabe que vai perder'Bolsonaro recorrerá de decisão de Moraes sobre inserções no rádioMoraes nega pedido de Bolsonaro para investigar inserções em rádiosDona da rádio que não veiculou inserções de Bolsonaro apoia presidente“No primeiro turno das eleições, partidos e coligações enviavam a programação dos comerciais dos candidatos para serem divulgadas nas emissoras de rádio. Porém, no 2º turno, essa história mudou e essa programação deixou de ser enviada por email pela campanha do PL".
"Ao perceber o fato, a Rádio JM tomou a iniciativa de acionar a Justiça Eleitoral para saber como deveria proceder em relação aos comerciais não divulgados. Da mesma forma, entrou em contato com a campanha do PL, questionando os motivos pelos quais o material não estava chegando aqui. Resultado: a campanha do PL restabeleceu o envio do material, de imediato. Mas o TSE não respondeu à consulta sobre como a emissora deveria proceder.
Faltando uma semana para o fim da propaganda eleitoral e temendo consequências pela desproporção dos comerciais das duas campanhas, a Rádio JM fez consulta por escrito ao TSE, reiterando o pedido de ORIENTAÇÃO sobre como fazer. Até agora NENHUMA RESPOSTA”.
Ainda segundo a jornalista e advogada, “uma simples consulta se transformou num debate político dessa natureza, gerando uma discussão sem pé nem cabeça, e colocando a emissora numa posição altamente desconfortável".
"Veja como são as coisas: se você pergunta o que deve fazer, porque quer fazer o que é certo, acaba sendo “massacrado” pela opinião pública. Será que daqui pra frente devemos “esconder” os erros, camuflar os equívocos, mentir? Estou sinceramente em dúvida sobre quais os valores que prevalecem hoje e prevalecerão no Brasil daqui pra frente, porque aprendi em casa que “quem fala a verdade não merece castigo”. Mas, na prática, parece que essa máxima já não vale mais…”, finalizou.
A direção da emissora citada por Machado já publicou nas redes sociais presenças em eventos que apoiam a reeleição de Bolsonaro. Em um de seus últimos posts no Instagram, Lídia Prata esteve em encontro com a primeira-dama Michelle Bolsonaro em Uberaba.
Confira a nota da Rádio JM
“A propósito das informações veiculadas nesta quarta-feira, a RÁDIO JM FM, de Uberaba, Minas Gerais, vem a público esclarecer o seguinte:
1) Desde o início da propaganda eleitoral do 1º Turno, a Rádio JM vinha recebendo diretamente dos partidos e coligações os mapas de mídia e respectivos materiais para veiculação na programação diária da emissora.
2) Todavia, no início do segundo turno das eleições presidenciais, os mapas e materiais de uma das campanhas deixaram de ser enviados. Tal fato foi detectado no dia 10 de outubro, oportunidade em que a emissora questionou a Justiça Eleitoral, por telefone, solicitando orientação sobre as medidas a serem adotadas. Da mesma forma, a emissora acionou o Partido Liberal, expondo a questão e pedindo que os mapas e materiais voltassem a ser encaminhados por email, a exemplo do que ocorreu no 1º Turno. Essa providência foi, então, adotada pelo Partido Liberal.
3) Faltando uma semana para o término das eleições, e diante da ausência de orientação da Justiça Eleitoral sobre eventual necessidade de reposição das inserções não veiculadas, a emissora houve por bem formalizar a consulta ao egrégio Tribunal Superior Eleitoral, reiterando por escrito o PEDIDO DE ORIENTAÇÃO sobre como deveria proceder, se repondo as inserções que faltaram e de que forma. No entanto, até a presente data a emissora não obteve a resposta que busca desde o dia 10 de outubro, infelizmente.
Lamentamos que o assunto tenha motivado um debate político acirrado e absolutamente desproporcional sobre um questionamento que poderia ter sido resolvido com a simples resposta pedida pela emissora, que assim o fez baseada no princípio da boa-fé e transparência, sempre no propósito de defesa da democracia e de seus ideais, bem como na intenção de sempre bem informar os eleitores, de forma correta e com a lisura que caracteriza sua atuação nas comunicações do país.
Desde 2010 a Rádio JM sempre recebeu e veiculou a propaganda eleitoral gratuita, mantendo relacionamento cordial com todos os partidos e cumprindo fielmente a legislação eleitoral em todos os seus termos. Não há histórico, em eleições pretéritas, de qualquer problema da emissora com a Justiça Eleitoral ou com partidos e coligações. Pelo contrário, a emissora sempre recorreu à Justiça Eleitoral em busca de informações e esclarecimentos quando necessários, sem passar pelo constrangimento a que ora está exposta, desnecessariamente.
Por fim, a Rádio JM se coloca à disposição da Justiça Eleitoral, dos partidos e coligações, e a todos os órgãos de transparência que compõem a Missão de Observação Eleitoral Nacional (MOE), para os esclarecimentos que se fizerem necessários”.
Entenda o caso
A campanha de Bolsonaro entregou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um relatório acompanhado de um link público do Google Drive com acesso a uma planilha de horários que comprovaria que oito emissoras de rádios teriam reproduzido mais inserções a favor do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do que do presidente.
Entre as citadas estão as rádios Bispa FM e Hits FM, de Recife (PE); Clube FM, de Santo Antônio de Jesus (BA); Povo FM, de Feira de Santana (BA); Viva Voz, de Várzea da Roça (BA); Povo FM, de Poções (BA); Integração FM, de Surubim (PE); e Extremo Sul FM, de Itamaraju (BA).
Na segunda-feira (24/10), Fábio Faria, ministro das Comunicações, disse que o presidente teve 154 mil inserções de rádio a menos que Lula nas últimas duas semanas.
Contudo, o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, negou o pedido da campanha de Bolsonaro (PL) para investigar eventuais irregularidades. Para ele, os dados apresentados pela equipe do presidente são inconsistentes.
Contudo, o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, negou o pedido da campanha de Bolsonaro (PL) para investigar eventuais irregularidades. Para ele, os dados apresentados pela equipe do presidente são inconsistentes.
Moraes acionou Augusto Aras, Procurador-Geral Eleitoral, para averiguar "possível cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito", além de eventual desvio de finalidade no uso do Fundo Partidário para a contratação de auditoria pela campanha do presidente. O caso foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito sobre a atuação de "mílicia digital" que atenta contra a democracia.
Em pronunciamento à imprensa nessa quarta-feira (26), em Brasília, Bolsonaro prometeu recorrer da decisão proferida por Alexandre de Moraes. "Com toda a certeza, nosso jurídico deve entrar com recurso, já que foi para o Supremo Tribunal Federal. Nós vamos às últimas consequências, dentro das quatro linhas da Constituição para fazer valer aquilo que nossas auditorias constataram, um enorme desequilibro no tocante as inserções".
Em pronunciamento à imprensa nessa quarta-feira (26), em Brasília, Bolsonaro prometeu recorrer da decisão proferida por Alexandre de Moraes. "Com toda a certeza, nosso jurídico deve entrar com recurso, já que foi para o Supremo Tribunal Federal. Nós vamos às últimas consequências, dentro das quatro linhas da Constituição para fazer valer aquilo que nossas auditorias constataram, um enorme desequilibro no tocante as inserções".