Após uma campanha agressiva, o Brasil chega neste domingo (30) ao segundo turno da eleição presidencial entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ambos com forte rejeição popular.
O ex-presidente, de 77 anos, que venceu o primeiro turno por 48% a 43%, mantém uma pequena vantagem nas pesquisas de intenção de voto, com 53% dos votos válidos contra 47% para o presidente, de acordo com uma pesquisa do Instituto Datafolha nesta quinta-feira (27).
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Lula e Bolsonaro fazem último debate antes de votação decisivaMPT de Minas abre 360 investigações de assédio eleitoral, 205 em BHCampanha eleitoral em Minas Gerais, estado-chave de um Brasil dividido"É uma eleição histórica, é raro que isso aconteça. Dificilmente a gente vai ver nos próximos anos uma eleição com esse nível de embate, de polarização, de dois candidatos que já governaram o país e chegam muito competitivos", afirma Nunes.
Ambos vão se enfrentar frente à frente nesta sexta no último debate transmitido pela televisão.
Lula, um ex-metalúrgico, foi presidente duas vezes entre 2003 e 2010 e foi preso no âmbito da operação "Lava Jato". Mas ressurgiu politicamente após a anulação de suas condenações por irregularidades processuais.
Bolsonaro, um ex-capitão do exército de 67 anos, tenta se reeleger após um mandato turbulento, marcado pelos 688.000 mortos da pandemia de covid-19, níveis alarmantes de desmatamento na Amazônia e tensões institucionais.
No primeiro turno, o presidente e seus aliados foram surpreendidos ao apresentar um desempenho melhor do que o apontado nas pesquisas.
- Campanha suja e "guerra de rejeições" -
Analistas já esperavam uma campanha de alta voltagem no segundo turno. Mas os ataques nas redes sociais e na televisão, repletos de desinformação, dominaram o debate público.
O lado bolsonarista acusou Lula de querer fechar igrejas, promover a "ideologia de gênero" nas escolas e fazer um pacto com o "diabo".
A campanha lulista contra-atacou, associando o adversário à pedofilia e ao canibalismo.
"As autoridades devem tomar todas as medidas disponíveis para combater a desinformação, proteger a liberdade de expressão e garantir que todos os cidadãos" possam votar, disse em Genebra Ravina Shamdasani, porta-voz do Escritório de Direitos Humanos da ONU.
"É uma eleição polarizada em que a guerra da rejeição vai ser definidora para determinar quem vai ganhar", aponta Nunes.
A consultoria Quaest, que Nunes dirige, detectou em suas pesquisas que "metade do eleitor que vota no Lula vota nele para tirar o Bolsonaro. E metade do eleitor que vota no Bolsonaro na verdade vota nele para não deixar o Lula voltar".
Quem escolhe Lula por convicção é motivado, sobretudo, pela lembrança de dias melhores, quando o petista deixou o poder com uma popularidade de quase 90% após uma gestão em que 30 milhões dos mais de 200 milhões de brasileiros saíram da pobreza.
"Apoiávamos Lula na época e apoiamos agora", diz Ana Gabriele dos Santos, uma fazendeira de 25 anos, que cresceu ouvindo quanto seus programas sociais ajudaram a região do semi-árido nordestino, reduto do lulismo.
Bolsonaro, cuja popularidade minguou após sua resposta negacionista à pandemia, recuperou terreno com a leve melhora da economia, o aumento dos repasses do Auxílio Brasil, e sua insistência na defesa dos valores conservadores como "Deus, pátria e família".
"Ele é como nós", disse o empresário Gilberto Klais, morador de Nova Santa Rosa, no Paraná, a segunda cidade que mais votou em Bolsonaro no primeiro turno (82%).
- Bolsonaro vai questionar os resultados? -
A campanha também foi marcada pelos questionamentos constantes de Bolsonaro - sem apresentar provas - às urnas eletrônicas, uma atitude que despertou temores de que ele não vai aceitar uma eventual derrota e que ocorram distúrbios como a invasão ao Capitólio nos Estados Unidos após a derrota de Donald Trump.
Nas últimas semanas, Bolsonaro parecia ter moderado o discurso, voltando suas críticas aos institutos de pesquisa.
Na semana passada, voltou a dizer que aceitará os resultados desde que as Forças Armadas não detectem nada de "anormal".
Apesar das tensões, muitos analistas descartam uma ruptura institucional.
"Bolsonaro não terá o apoio das Forças Armadas, das elites econômicas e, portanto, ficará sozinho com o apoio do seu eleitorado mais radicalizado. Isso não será suficiente para um golpe bem sucedido", afirma Rogério Dultra dos Santos, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF).
De qualquer forma, o vencedor deverá adotar um discurso de união, defende Nunes.
"O Brasil continuará dividido depois da eleição porque não se tata mais de uma disputa entre dois nomes, mas entre duas visões de mundo muito diferentes".