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Estado de Minas DEBATE NA GLOBO

Lula x Bolsonaro: muitas acusações e poucas propostas marcam debate final

Lula e Bolsonaro travaram último embate antes de votação decisiva no domingo. Com clima acirrado, propostas ficaram em segundo plano


29/10/2022 01:04 - atualizado 29/10/2022 11:20

Lula e Bolsonaro em debate da Globo
Lula e Bolsonaro fizeram último debate antes da eleição de domingo (foto: MAURO PIMENTEL/AFP )

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Messias Bolsonaro (PL) fizeram nessa sexta-feira (28/10) o último embate direto antes do segundo turno das eleições, neste domingo (30). Em debate promovido pela Rede Globo, os presidenciáveis protagonizaram um programa com poucas propostas, muitas trocas de acusações, alguma comparação entre os mandatos no Palácio do Planalto e reiteradas queixas de mentiras. Sem um vencedor claro, os participantes fizeram discursos mais voltados à própria base.

O debate teve quatro blocos de embate direto entre Lula e Bolsonaro. No primeiro e no terceiro, cada um contou com 15 minutos para administrar entre perguntas e respostas de temas livres. No segundo e quarto blocos, eles tiveram cinco minutos para debater assuntos escolhidos a partir de sugestões pré-definidas pela direção do programa.

Ver galeria . 20 Fotos Fotos do debate presidencial entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), nesta sexta-feira (28/10), na TV GloboAFP PHOTO/MAURO PIMENTEL
Fotos do debate presidencial entre os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), nesta sexta-feira (28/10), na TV Globo (foto: AFP PHOTO/MAURO PIMENTEL )

No primeiro bloco, Bolsonaro reservou sua primeira participação para dizer que herdou problemas de gestões anteriores e questionar Lula sobre acusações relacionadas ao 13º salário, hora extra e férias. Segundo o atual presidente, o petista disse na propaganda eleitoral que, no caso de uma reeleição, esses direitos seriam extintos e o salário mínimo não passaria por reajuste. 

Durante os questionamentos, o candidato à reeleição trouxe à tona uma proposta inédita de corrigir o salário mínimo para R$ 1.400 em 2023. O valor não está apresentado no orçamento federal.

Lula iniciou sua participação agradecendo votos do primeiro turno e não tratou sobre a acusação feita pelo adversário. Bolsonaro seguiu tentando arrancar respostas do petista sobre a propaganda eleitoral ao longo de todo o bloco, enquanto o ex-presidente retrucava dizendo que não houve aumento real no salário mínimo durante os quatro anos da atual gestão presidencial.

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Ainda nas pautas de economia e programas sociais, Bolsonaro insistiu na comparação entre os valores pagos no Auxílio Brasil e no Bolsa Família. Lula respondeu dizendo que o projeto de transferência de renda criado na gestão petista fazia parte de um conjunto de propostas e não era a única medida auxiliar.

Durante quase todas as respostas, os participantes se acusaram de mentirosos. Assunto recorrente em todos os debates desde o primeiro turno, a corrupção apareceu pela primeira vez quando Bolsonaro acusou Lula de superfaturar obras, como a transposição do Rio São Francisco, na qual os candidatos recorrentemente discutem acerca da autoria do projeto.

“Você levou foi grana para o teu bolso, transpondo dinheiro público para o teu bolso, nessas obras que você adorava começar e não terminar”, disse o atual presidente. O petista respondeu levantando os temas da rachadinha e compra de imóveis em dinheiro vivo pela família Bolsonaro.

Na sequência, Bolsonaro disse que seu adversário tenta se desfiliar de antigos aliados e citou ministros que trabalharam com Lula e responderam a processos por corrupção. Foi quando Roberto Jefferson (PTB), preso no domingo passado (23/10) após atirar e jogar granadas contra agentes da Polícia Federal, foi citado pela primeira vez.

“Ele acabou de tentar esconder o Roberto Jefferson, o pistoleiro dele, o homem das armas, o homem de confiança dele, o homem que recebeu a Polícia Federal a tiros, e fui eu que escondi? Fui eu que escondi?”, questionou o petista ao responder Bolsonaro, que negou sua aliança com o ex-deputado federal e recordou o envolvimento do mesmo no escândalo do mensalão.

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O bloco inicial ainda teve tempo para discussões acerca da política externa. Lula bateu na tecla de que o atual presidente não tem uma agenda sólida com grandes lideranças internacionais. Bolsonaro se defendeu dizendo que fez negociações com Vladimir Putin para a compra de fertilizantes às vésperas da guerra na Ucrânia e atacou a relação do petista com governos de esquerda na América Latina.

Lula pediu sete direitos de resposta ao longo do bloco e teve um deles concedido pela direção do programa. O mediador do debate, William Bonner, também teve um momento de defesa. Bolsonaro recordou que o jornalista disse que o petista foi absolvido das condenações determinadas pela Operação Lava Jato em sabatina no Jornal Nacional, ainda no primeiro turno. Ele se justificou dizendo que se baseou na decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal.

2º BLOCO


No segundo bloco, os candidatos deveriam escolher entre os temas definidos pela produção do debate. Lula foi o primeiro a perguntar e, diante dos assuntos ‘respeito à constituição’, 'equilíbrio das contas públicas’, ‘meio ambiente’, ‘racismo’ e ‘criação de empregos’, escolheu ‘combate à pobreza' para questionar seu adversário.

Lula perguntou sobre medidas do atual governo para combater a miséria no Brasil, levantando o número de 33 milhões de pessoas com fome no país e uma matéria da Folha de S.Paulo que aponta que 24% dos brasileiros não têm o que comer em casa, dado citado de forma equivocada pelo ex-presidente, que falou em 24 milhões de pessoas.

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Bolsonaro citou o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) como argumento de que o valor pago pelo Auxílio Brasil seria suficiente para retirar a população do nível de extrema pobreza. A justificativa foi repetida pelo presidente quando Lula seguiu o indagando acerca do assunto.

Ao fim dos cinco minutos reservados para cada candidato, ambos fugiram do assunto, tratando sobre corrupção. Bolsonaro pediu que Lula parasse de “chutar números”, ao passo que o petista voltou a mencionar a denúncia de que a família do presidente comprou 51 imóveis em dinheiro vivo.

O segundo recorte foi escolhido por Bolsonaro, que selecionou ‘respeito à constituição’. O presidente disse que trabalha ‘dentro das quatro linhas’ das leis brasileiras, ironizou a “Carta pela Democracia” lançada por opositores ao seu governo neste ano e questionou Lula sobre apoio a lideranças do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

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Novamente, os candidatos fugiram do tema inicial e partiram para assuntos sem nenhuma conexão. Lula resgatou um pronunciamento de Bolsonaro em 1992, quando o então deputado se posicionou favoravelmente a uma ‘pílula abortiva’. A fala do ex-presidente iniciou uma série de acusações.
 
Ao fim do bloco, Lula teve um de cinco pedidos de direito de resposta concedidos e o usou para elencar críticas a respeito da reforma da previdência perpetrada no governo Bolsonaro.

3º BLOCO


Lula começou perguntando no terceiro bloco, estruturado da mesma forma que o primeiro, com 15 minutos para cada candidato com tema livre. Pela primeira vez, o petista trouxe o assunto da saúde à tona. Ele questionou Bolsonaro sobre a gestão da pandemia, ponto em que o ex-presidente conseguiu seu melhor desempenho no debate transmitido pela TV Bandeirantes em 16 de outubro.

Bolsonaro defendeu sua atuação, disse que foi responsável pela compra de 500 milhões de vacinas e, em duas oportunidades, encerrou sua fala dizendo que Lula deve reconhecer as ações do governo pela saúde. “Se você tomou a vacina, Lula, agradeça a mim, tá ok?”. 

Ainda sobre saúde, Lula relembrou que Bolsonaro demitiu o único ministro que entendia de saúde porque ele era a favor da vacina, referindo-se a Luiz Henrique Mandetta, e criticou a atuação de Eduardo Pazuello à frente da pasta. Bolsonaro protegeu seu ex-ministro militar ao citar o fato de ele ter sido o candidato a deputado federal mais votado do Rio de Janeiro nas eleições deste ano.

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Em dois momentos no terceiro bloco, Bolsonaro leu trechos de documentos para atacar Lula. Um deles com propostas atribuídas a Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice na chapa do petista, e outro que o atual presidente relacionou ao próprio Partido dos Trabalhadores com propostas como desmilitarização das polícias e desarmamento da população civil. Lula se defendeu de ambos os artifícios dizendo que não fazem parte de seu programa de governo.

A segurança pública surgiu como tema pela primeira vez também no terceiro bloco. O incidente envolvendo o ataque de Roberto Jefferson à Polícia Federal foi novamente trazido à tona por Lula e o ex-deputado voltou a ser repelido pelos candidatos, que tentaram associar a imagem do líder do PTB ao seu adversário. 

Assim como no debate da Band, Bolsonaro tratou a passagem de Lula pelo Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, como uma visita aos chefes do tráfico e questionou o petista sobre a não transferência de Marcola, líder da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC), a um presídio de segurança máxima durante a gestão petista. Diferentemente do debate anterior, Lula não estendeu o tema, fez críticas à gestão bolsonarista e foi incisivo na pauta do desarmamento. “Recolhemos milhares de armas e tocamos fogo em praça pública. Porque no meu governo a gente vai distribuir livros. A gente vai distribuir cultura. A gente vai facilitar o acesso das pessoas às coisas que eduquem, e não às coisas que matam”.

4º BLOCO


O quarto e último bloco foi, novamente, com temática determinada pela direção do debate. Bolsonaro abriu os trabalhos escolhendo ‘criação de empregos’ como assunto para o embate. O atual presidente disse que seu governo gerou postos de trabalho, apesar das dificuldades impostas pela pandemia de COVID-19. A crise sanitária foi constantemente apresentada como barreira que dificultou o sucesso econômico de seu mandato.

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Lula respondeu dizendo que houve uma alteração nas métricas de emprego durante o governo Bolsonaro para abranger empregos informais e que pretende rediscutir a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para garantir direitos trabalhistas. O petista ainda afirmou que, se eleito, fará viagens internacionais ainda antes de tomar posse para negociar investimentos estrangeiros.

Assim como no primeiro bloco, os candidatos fugiram do objeto da pergunta e chegaram até mesmo a discutir sobre quem levou mais apoiadores durante visita a Teófilo Otoni, cidade mineira no Vale do Mucuri, em campanha de segundo turno.

A segunda pergunta do bloco teve o tema escolhido por Lula, que optou por tratar sobre meio ambiente. Os candidatos debateram o desmatamento da Amazônia, e Bolsonaro comparou números das duas gestões, os mesmos levantados durante debate na Band. Em favor de sua gestão, Lula citou pela única vez o nome de uma de suas alianças formadas nessa campanha ao elogiar Marina Silva, que foi também sua ministra do Meio Ambiente.

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Debates anteriores


Antes do debate da Globo, os candidatos à presidência da República se enfrentaram em 16 de outubro no programa organizado por TV Bandeirantes, TV Cultura, portal UOL e jornal Folha de S.Paulo. Na ocasião, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, e o ex-presidente Lula (PT) tiveram uma hora e 40 minutos para discutir suas propostas.

Em 21 de outubro, Lula e Bolsonaro foram convidados pelo pool de veículos formado por CNN Brasil, SBT, Estadão/Rádio Eldorado, Terra, Veja e NovaBrasil FM, mas apenas o presidente compareceu para uma entrevista de uma hora. A Coligação Brasil da Esperança, responsável pela campanha de Lula, alegou “incompatibilidade de agendas”.

No dia 23, Bolsonaro concedeu nova entrevista, desta vez para a Rede Record TV. O objetivo da emissora era realizar um debate entre os dois candidatos que chegaram ao segundo turno, mas Lula não participou por causa de outros compromissos de campanha. Assim, o candidato à reeleição foi sabatinado por jornalistas durante uma hora.

O primeiro turno das eleições de 2022 foi realizado em 2 de outubro. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu 48,43% dos votos válidos (57.259.504), enquanto Jair Bolsonaro (PL) terminou com 43,20% (51.072.345). Quem vencer no segundo turno, marcado para este domingo (30), tomará posse em 1º de janeiro de 2023.


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