Terceira colocada na disputa em primeiro turno ao Planalto, a senadora Simone Tebet (MDB) ganhou holofote nacional durante participação na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID. Agora ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Simone é considerada “carta coringa” para a transferência dos 4,9 milhões de votos (4,16%) que recebeu em primeiro turno.
O Estado de Minas listou 5 momentos em que a senadora ganhou espaço na CPI da COVID e acabou alavancando sua chegada ao terceiro lugar da corrida eleitoral, agora polarizada entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e Lula.
- A participação feminina na CPI
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Dentre as mais de 1.200 páginas do relatório do senador Renan Calheiros (MDB-AL), 47 páginas foram designadas apenas para recomendações da bancada feminina, além outros pontos conseguidos por conta da ação e arguição das parlamentares.
A Bancada Feminina foi criada em março, Mês da Mulher, com a aprovação do Projeto de Resolução do Senado 6/2021, e a senadora Simone Tebet foi indicada como primeira líder. Em agosto, a bancada formalizou o nome de Leila Barros (Cidadania-DF) como nova Procuradora da Mulher no Senado. Atualmente, são 14 as senadoras em exercício.
2. Luís Miranda indica Ricardo Barros
Em uma das sessões mais marcantes da comissão, foi Tebet que convenceu o deputado Luis Miranda (DEM-DF) a revelar o nome do líder do governo da Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), no escândalo da Covaxin.
Foi Miranda e o irmão Luis Ricardo Fernandes Miranda, chefe da divisão de importação do ministério da Saúde, que trouxeram um ingrediente explosivo para CPI. Em depoimento aos senadores, os irmãos apontam para um suposto esquema de fraude na negociação para a compra de 20 milhões de doses do imunizante Covaxin, envolvendo o Ministério da Saúde e a empresa brasileira Precisa Medicamentos, que seria a responsável pela venda da vacina no Brasil, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech.
A senadora pediu que Miranda não tivesse receio de indicar o nome citado pelo presidente Jair Bolsonaro. Na época, Miranda dizia que ao descobrir o esquema foi contar ao presidente, que afirmou que um deputado estaria “metido no rolo”.
Simone defendeu uma homenagem ao servidor Luis Ricardo, irmão do deputado. Segundo Simone, Luis Ricardo impediu um negócio suspeito, e lembrou que uma das bandeiras de campanha de Bolsonaro era o combate à corrupção. Em resposta, Luis Miranda disse que, em alguns momentos, “é importante a gente esquecer o que a gente escutou”.
Com isso, em depoimento, Miranda confirmou que o presidente Jair Bolsonaro citou o nome do deputado Ricardo Barros como suspeito de ser o mentor por trás das supostas irregularidades na compra da vacina Covaxin.
3. Simone x Flávio Bolsonaro
Diversas vezes quando Simone tinha a fala na CPI, Flávio Bolsonaro, filho do presidente, a interrompia. Durante o depoimento de Emanuela Medrades, funcionária da Precisa Medicamentos, os dois chegaram a discutir.
A senadora foi interrompida por Flavio Bolsonaro e ficou irritada. “Não estou me dirigindo a Vossa Excelência. Vossa Excelência só usará o microfone quando o presidente desta comissão determinar. Peço que respeite uma senadora da República”, disse Tebet.
A discussão entre os dois continuou e ficou ainda mais acalorada. Quando todos os microfones dos senadores estavam fechados, Simone Tebet acusou o filho do presidente de tê-la ofendido. “O senhor me respeita”, pede a senadora.
“Senhor presidente, eu peço a palavra pela ordem. Se esse senador (Flavio Bolsonaro) repetir o que disse sobre mim agora, eu vou invocar o Conselho de Ética”, ameaça Simone Tebet. “Porque no microfone ele não tem coragem de dizer o que ele disse pra mim agora.”
Flávio Bolsonaro, com o microfone ligado, diminuiu o tom: “A senhora está induzindo a depoente a dizer o que a senhora quer”.
4. Destrinchando os documentos da Covaxin
Tebet também apresentou uma análise feita por seus assessores a respeito de documentos divulgados relativos à negociação pela vacina de origem indiana Covaxin, com apontamento do que, na visão da parlamentar, são indícios de fraude.
Em seu momento de fala na sessão que ouviu a servidora Regina Célia Silva Oliveira, fiscal do contrato, a senadora apresentou a análise de três versões diferentes do invoice, a nota fiscal de importação de produtos.
A primeira, fornecida pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF) e o irmão, o servidor Luis Ricardo Miranda. As outras duas, as oficiais originadas do governo federal, sendo que uma foi apresentada pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral, Onyx Lorenzoni, durante pronunciamento.
Na época, Tebet projetou em um telão na comissão, os documentos, e mostrou erros inclusive de grafia em inglês e de diagramação, além de não aparentar ter sido digitalizado.
Para a senadora, há indícios de fraude, que podem configurar o crime de falsidade ideológica.
“Nós estamos falando de falsidade ideológica formulada por alguém. Ele tem a marca e o logotipo desenquadrados, não estão alinhados em alguns pontos, como se fosse uma montagem. Eu tenho inúmeros erros de inglês, e, talvez, o mais desmoralizante dele seja o (erro) 17: no lugar de preço, ‘price’, está ‘prince'”, descreveu a senadora.
Em inglês, “price” é o equivalente à palavra “preço” em português. Já a palavra “prince” significa, na tradução, “príncipe”. Segundo a senadora, são 23 erros no documento analisado pela sua equipe.
5. Descontrolada
A senadora também foi destaque depois do episódio onde, o então ministro da Controladoria-Geral da União (CGU) Wagner Rosário chamou-a de "descontrolada". A fala de Rosário gerou tumulto entre os senadores, e o ministro precisou deixar a sessão. Naquele momento ele se tornou investigado pela CPI.
Wagner Rosário fez a declaração após Tebet ter criticado a atitude do ministro em relação ao presidente Jair Bolsonaro e ao processo de aquisição pelo governo federal da vacina Covaxin.
Na época, a senadora afirmou que a CGU "não foi criada para ser órgão de defesa de ninguém", sugerindo que Rosário atua para atender aos interesses do presidente Jair Bolsonaro. "Temos um controlador que passa pano, deixa as coisas acontecerem", afirmou Simone Tebet. Segundo a senadora, o ministro não pode se comportar como "advogado do governo"
"Bem, senadora, com todo o respeito à senhora, eu recomendo que a senhora lesse tudo de novo porque a senhora falou uma série de inverdades aqui", disse o ministro.
Tebet respondeu: “Não faça isso. O senhor pode dizer que eu falei inverdades, mas não me peça para fazer algo porque eu sou senadora da República". Tebet disse ainda que Rosário estava "se comportando como um menino mimado."
"A senhora me chamou de engavetador, me chamou do que quis", retrucou o ministro. "Me chama de menino mimado, eu não lhe agredi. A senhora está totalmente descontrolada, me atacando".
A frase gerou tumulto na comissão. Senadores foram em defesa de Tebet e chamaram Wagner Rosário de "machista". A sessão acabou suspensa pelo presidente da CPI, Omar Aziz.
O senador Otto Alencar (PSD-BA) disse que o ministro quis "agredir" Simone Tebet (MDB-MS) e a instituição Senado Federal.
Na retomada da sessão, Aziz disse que o ministro veio com "quatro pedras", peitando senadores e o grande final da participação de Rosário foi um ataque a uma senadora.
Após sugestão de Aziz, o relator Renan Calheiros (MDB-AL) aceitou transformar Rosário em investigado pela CPI. Na sequência, a reunião da CPI foi encerrada.