Pouco tempo após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ser confirmada no segundo turno das eleições presidenciais contra Jair Bolsonaro (PL), grupos de caminhoneiros bolsonaristas e outros apoiadores do atual presidente começaram a fechar rodovias.
Até as 23h desta segunda-feira (31), de acordo com a PRF (Polícia Rodoviária Federal), havia bloqueios parciais ou totais em 25 Estados (incluindo o Distrito Federal) — os únicos onde não havia registros de ocorrências eram Alagoas e Amapá.
Em nota, a PRF afirma que acionou a AGU (Advocacia-Geral da União) para conseguir liberar estradas bloqueadas e diz que adotou todas as providências para o retorno da normalidade do fluxo nas rodovias afetadas.
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Na noite de segunda-feira, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) publicou uma nota de repúdio aos protestos, classificando-os como "antidemocráticos".
"Vivenciamos uma ação antidemocrática de alguns segmentos que não representam a categoria dos caminhoneiros autônomos de não aceitação do resultado das urnas. Precisamos respeitar o que o povo decidiu nas urnas: a vitória de Luís Inácio Lula da Silva", diz o texto, em nome do diretor da CNTTL, Carlos Alberto Litti Dahmer, que é caminhoneiro autônomo de Ijuí (RS).
'Posicionamento do presidente é que determinará rumo dos protestos'
Janderson Maçanero, caminhoneiro de Itajaí (SC) conhecido como Patrola, que faz parte dos protestos atuais, diz que, na sua cidade, a movimentação é composta apenas por 20% de caminhoneiros, e o restante dos manifestantes são cidadãos de diferentes profissões.
O cenário, com o propósito de não aceitar um novo presidente, é diferente de outros que o caminhoneiro participou, como em 2014, uma paralisação feita para reivindicar queda nos preços de combustíveis, e em 2019, pela contratação direta de caminhoneiros sem terceiros que intermediassem valores.
Ele afirma também que os protestos não têm liderança direta ou reivindicação específica — alguns, por exemplo, defendem um golpe de Estado conduzido pelos militares, que ele diz não ser o seu caso — mas todos têm, em comum, a rejeição a Lula e a não aceitação da vitória do petista nas eleições.
"É o posicionamento do presidente que determinará rumo dos protestos e o posicionamento da categoria. Estamos esperando ele falar. Ou Bolsonaro vai à guerra, ou ele se extinguirá do cenário político, porque aí ele não é o líder que pensávamos."
Patrola afirma que "ir à guerra", para ele, é não aceitar o resultado, mas não descreve exatamente como isso poderia se desenrolar, já que ele próprio diz não apoiar um golpe militar. Ele diz aguardar que o presidente anuncie a solução.
A aceitação dos resultados por parte de Bolsonaro, complementa, seria uma decepção para ele e para muitos de seus colegas.
Sobre quanto tempo a paralisação poderia durar, ele diz que "tempo é relativo" para os caminhoneiros. "Aqui estamos em casa. Nosso caminhão tem onde comer, onde dormir… Esse é o nosso cotidiano."
'Acredito que a categoria não terá dificuldade em negociar com o governo Lula'
Wanderlei Dedeco, caminhoneiro de Curitiba, Paraná, que atua como "conselheiro" das lideranças dos caminhoneiros, segundo sua própria descrição, se diz contra as paralisações e afirma que até o começo do dia, não acreditava que os protestos durariam por muito tempo, mas já passou a ver o cenário com "outros olhos".
"As manifestações estão crescendo rapidamente, e não tem uma intervenção imediata da PRF como houve em outras ocasiões. Além disso, a demora de Bolsonaro para se pronunciar pode contribuir para que os protestos se alastrem."
"Os protestos estão sendo feitos por caminhoneiros revoltados, que não aceitam perder, e por empresários - nos locais você só vê 'carrões' - que acreditam que vão perder algo com o governo Lula. Mas a democracia marcou presença ontem, é assim que funciona o jogo."
Dedeco foi uma das lideranças da greve de caminhoneiros de 2018, e diferentemente dos caminheiros ativos nos protestos, apoiou Lula no segundo turno das eleições.
"Já fui um crítico do PT e do Lula, acreditei na Lava-Jato. Mas se o STF não o condenou, quem sou eu para fazer isso? Eu votei no Lula e agora quero ver ele governar. Se ele fizer algo errado, pode ter certeza que eu vou criticar, diferentemente dos bolsonaristas que ficaram 'endeusando' Bolsonaro e aceitavam tudo de errado que ele fazia."
Na opinião dele, os caminhoneiros tendem a ser beneficiados com a eleição de Lula. "Com o governo Bolsonaro não havia condições para sentar e negociar. Já o governo de Lula sempre foi mais democrático, aberto a ouvir o que estava bom e o que não estava. Acredito que a categoria não terá dificuldade em negociar com o governo Lula", diz.
- Este conteúdo foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63460011