Sem falar em derrota ou citar o nome do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez, nesta terça-feira (1°/11), o primeiro discurso após a derrota na eleição nacional. Apesar de defender o sentimento de "indignação e injustiça" que disse basear as manifestações de bolsonaristas inconformados com a vitória de Lula, o presidente escalou o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), para confirmar que o processo de transição dos governos deve começar na quinta-feira (3/11).
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Bolsonaro sobre protestos: 'Métodos não podem ser os da esquerda'Tereza Cristina, ex-ministra de Bolsonaro, pede fim das manifestaçõesDaniela Lima, na CNN, sobre bloqueios bolsonaristas: 'Grupelhos golpistas'Bolsonaro usa 'acabou' em reunião no STF; 'olhar para a frente', diz FachinPresidente eleito, Lula participará da COP27 no EgitoQuem estava com Bolsonaro no pronunciamento desta terça-feira (1°)Deputada Carla Zambelli tem conta no Twitter retirada do arVídeo: Bolsonaristas comemoram fake news de prisão de Alexandre de MoraesCiro Nogueira é escalado por Bolsonaro para iniciar transição presidencial"O presidente Jair Messias Bolsonaro me autorizou e, quando for provocado, com base na lei, iniciaremos o processo de transição. A presidente do PT (Gleisi Hoffmann), segundo ela, em nome do presidente Lula, disse que, na quinta-feira, será formalizado o nome do presidente Geraldo Alckmin (como coordenador da equipe de transição)", disse o ministro. "Aguardaremos que isso seja formalizado para cumprir a lei em nosso país", completou.
Bolsonaro iniciou a fala em tom de agradecimento aos 58,2 milhões de votos que teve no segundo turno. Lula, o vencedor, conseguiu 60,3 milhões. Logo depois, o presidente derrotado se dirigiu, sobretudo, aos apoiadores que bloqueiam rodovias Brasil afora.
"Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral. As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir", afirmou.
Depois, Bolsonaro valorizou o desempenho das correntes políticas à direita no primeiro turno. O PL, partido dele, vai ocupar 99 dos 513 assentos da Câmara dos Deputados. O Republicanos e o PP, os outros partidos da coligação que apoiou a reeleição do presidente, fizeram, respectivamente, 41 e 47 parlamentares.
"A direita surgiu de verdade em nosso país. Nossa robusta representação no Congresso mostra a força dos nossos valores: Deus, pátria, família e liberdade. Formamos diversas lideranças em todo o Brasil. Nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca. Somos pela ordem e pelo progresso", garantiu.
Bolsonaro não falou sobre os procedimentos que o governo precisa tomar para promover uma transição estável. Uma lei vigente desde 2002 dá, à coalizão eleita, a oportunidade de escolher 50 pessoas para cargos comissionados. Esse grupo tem a prerrogativa de acessar dados sigilosos sobre o governo atual e, assim, preparar a nova gestão.
"Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição. É uma honra ser o líder de milhões de brasileiros que, como eu, defendem a liberdade econômica, a liberdade religiosa, a liberdade de opinião, a honestidade e as cores verde e amarela da nossa bandeira. Muito obrigado", limitou-se a dizer.
Em outro momento da breve exposição, que rompeu um silêncio de quase 48 horas de duração, Bolsonaro reforçou uma de suas estratégias de campanha, relacionada à citação dos problemas impostos pela pandemia de COVID-19 e pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
"Mesmo enfrentando todo o sistema, superamos uma pandemia e as consequências de uma guerra. Sempre fui rotulado como antidemocrático e, ao contrário dos meus acusadores, sempre joguei dentro das quatro linhas da Constituição. Nunca falei em controlar ou censurar as mídias e as redes sociais".