O colégio eleitoral de São Tomé das Letras, no Sul de Minas, ou de Conceição do Pará, no Oeste do mapa mineiro: essa foi, aproximadamente, a diferença de votos que manteve a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL) no estado, que repete o resultado das eleições gerais do Brasil desde 1955. A diferença entre eles caiu de cerca de 560 mil votos para menos de 50 mil entre os turnos. O candidato à reeleição conseguiu ganhar mais eleitores em todas as mesorregiões de Minas, mas não foi o suficiente para sair exitoso do pleito.
Leia Mais
Mateus Simões espera proximidade maior com a Assembleia LegislativaConheça os mineiros cotados para virar ministros de LulaBolsonaristas seguem em protesto e voltam a fechar Av. Raja Gabaglia, em BHLula terá desafios como vacinação baixa e mortalidade materna em altaVeja a história das eleições pelas capas do jornalEM se firma com cobertura plural, ampla e vitoriosa das eleiçõesA maior variação de Bolsonaro se deu no recorte mais populoso do estado. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o candidato do PL conseguiu 335.263 votos a mais do que no primeiro turno, enquanto para Lula o crescimento foi menor que a metade do adversário: 148.343 votos. Como resultado, o postulante à reeleição venceu na região com cerca de 120 mil votos de frente.
Na Região Central, Bolsonaro também conseguiu uma virada, crescendo quase quatro vezes mais que Lula entre os turnos. O candidato à reeleição teve 20.802 novos votos, enquanto o petista conseguiu 5.357 eleitores a mais.
No Vale do Mucuri, região onde Lula vence por larga folga, ocorreu a menor diferença entre os crescimentos. Bolsonaro teve 10.197 votos a mais e Lula, 7.481. Vale lembrar que, embora tenha crescido menos que o adversário, o petista também teve variação positiva em todas as mesorregiões do estado.
No resultado geral, Bolsonaro ganhou 902.056 votos entre os turnos e Lula, 388.389, crescimento cerca de 2,3 vezes maior para o candidato do PL. O resultado rendeu uma diferença de 49.650 votos de vantagem para o petista, que conseguiu a vitória em Minas, e no Brasil, apesar do avanço do adversário. Veja o quadro para entender a dinâmica dos votos.
Sucesso relativo da campanha mineira
Embora tenha conseguido um avanço expressivo e descentralizado em Minas, Bolsonaro não conseguiu vencer no estado e teve um desempenho similar ao do cenário nacional, o que levanta questionamentos sobre a estratégia de campanha em Minas.
Com a aliança formada com o governador reeleito Romeu Zema (Novo) quase instantaneamente após o resultado do primeiro turno, Bolsonaro reservou uma parte significativa de sua agenda para visitas a Minas Gerais. O candidato à reeleição fez seis viagens ao estado em um mês de campanha, quatro delas passando por Belo Horizonte.
Coordenada por Zema, a campanha no estado também foi reforçada pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que, ao lado da ex-ministra e senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF), percorreu seis cidades mineiras em dois dias com cultos evangélicos.
Para o cientista político e CEO do instituto Atlas/Intel, Andrei Roman, o sucesso do braço mineiro da campanha pela reeleição de Bolsonaro é relativo. Primeiro, porque nem no cenário estadual nem no nacional o candidato à reeleição saiu vitorioso. Depois porque, apesar de o crescimento no número de votos ser significativo, não foi o esperado.
“A gente viu um recorte bastante claro dessa distância, mas longe do que era esperado pela campanha e longe do que precisaria para ser realmente impactante e mudar o quadro nacional. Foi um crescimento grande, mas não na magnitude esperada. Isso mostra um pouco dos limites da estratégia do Zema e que os votos de Lula eram bem estratificados em Minas”, avalia.
Roman ainda pondera que o crescimento verificado nas urnas mineiras não é muito diferente do percebido no cenário nacional. Enquanto Bolsonaro teve aumento na votação cerca de 2,3 vezes maior que Lula em Minas, no Brasil, essa variação foi de 7.134.009 a mais para o candidato à reeleição e 3.086.495 para Lula, também cerca de 2,3 vezes maior. No país, a distância entre ambos era de cerca de 6 milhões de votos no primeiro turno e caiu para aproximadamente 2 milhões.
“Esse movimento a favor do Bolsonaro não se deu apenas em Minas e, olhando também em conjunto, acabou não sendo diferente do que aconteceu em outros estados. No plano geral, houve aumento maior de Bolsonaro, mas insuficiente”, aponta.