Jornal Estado de Minas

POLÊMICA

Luis Nassif denuncia censura em filme sobre 150 anos de Poços de Caldas


O filme “ Pra sempre Poços de Caldas”,  gravado na cidade, Foi exibido neste domingo (6/11)  mas, mal estreou e o longa já trouxe polêmicas. Em um post no Twitter, o jornalista Luis Nassif disse que teve a participação censurada na obra. 




 
Na rede social, o jornalista e escritor postou: “Dediquei dois livros à minha cidade, Poços de Caldas. Recentemente, dei depoimento para um documentário sobre a cidade. O prefeito bolsonarista Sérgio Azevedo (que nem conheço) ordenou ao diretor que editasse o filme e retirasse meu depoimento. O lançamento foi hoje. E o depoimento era sobre a história da cidade, sem nenhuma conotação política”. 
 
 
O documentário de 150 anos de Poços de Caldas trata de temas que fazem parte da história da cidade, em uma conversa informal entre duas mulheres numa mesa de um café. Enquanto degustam quitutes regionais, elas conversam sobre a cultura, a paisagem e a memória local, numa fusão narrativa entre ficção e documentário. 
 

 
 
Procurado, Nassif confirmou que o depoimento foi retirado. “Foi um documentário que fizeram de Poços, sobre os 150 anos da cidade e fui convidado para dar um depoimento. Eu tenho os livros “O menino de São Benedito", finalista do Jabuti, e a biografia do Walter Moreira Salles. Fui a Poços, dei o depoimento, nada que envolvia política, inclusive. Fui convidado para assistir ao documentário e iria, mas dias antes, fui informado que o prefeito Sérgio Azevedo (PSDB) ordenou que minha participação fosse retirada para que o documentário fosse exibido durante a cerimônia festiva. O pessoal da produção reagiu, mas o produtor depende da prefeitura para muitos projetos e acabou cedendo”, disse. 




 
Questionado sobre qual o motivo que teria levado o prefeito a censurar a participação no documentário, Nassif levanta a hipótese de uma denúncia que ele teria feito, às vésperas do primeiro turno das eleições deste ano, em que sugere que o prefeito Sérgio Azevedo teria ajudado financeiramente participantes de uma motociata que teve a participação do president Jair Bolsonaro (PL), derrotado na tentativa de reeleição por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em Poços de Caldas. 
 
"Provavelmente  foi represália porque eu levantei essa hipótese no Twitter. Certamente, foi uma represália em relação a isso”, considerou.
 
O prefeito Sérgio Azevedo declarou voto e fez campanha para Bolsonaro, inclusive com vários posts em rede social,  e promoveu ações, como adesivaços. 
 
 


O produtor do filme, Bruno Benetti, reiterou a versão. Ele disse que na última semana foi procurado pelo secretário de Comunicação da Prefeitura Municipal de Poços de Caldas, Paulo Ney de Castro Júnior, com um pedido para a edição do material, sem o depoimento do jornalista Luis Nassif. 




 
“De quinta para sexta, eu tive um chamado do secretário Paulo Ney me informando que para exibir o filme na comemoração dos 150 anos da cidade, o prefeito pediu para tirar o Nassif. Eu tentei explicar, disse que não tem nada a ver. Ele me levantou alguma situação entre o prefeito e o jornalista, mas eu não estava sabendo. Eu fiquei mal, sem saber como comunicar minha equipe, o jornalista Luis Nassif, que falou super bem da cidade, inclusive do futuro. A equipe e eu ficamos mal. Não tirei do trailer, não tirei do pôster e a remoção foi apenas para o aniversário da cidade. Ele segue no documentário”, contou. 
 
O secretário de comunicação Paulo Ney foi procurado pela reportagem e negou a acusação de censura. “O depoimento dele não foi retirado do filme, até porque o filme não é da prefeitura, ele foi retirado da apresentação durante a cerimônia de condecoração pelos 150 anos cidade, por ser de entendimento da administração que ele não merecia este destaque”.  
 

Quem é Luis Nassif?


Luis Nassif é jornalista, mineiro, nascido em Poços de Caldas. Em 1986, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo, pela reportagem "O Plano Cruzado", publicada no jornal Folha de S.Paulo, onde assinou uma coluna econômica e política durante muitos anos. Ganhou o Prêmio de Melhor Jornalista de Economia da Imprensa Escrita do site Comunique-se entre 2003 e 2005. Atualmente escreve para o site GGN.
 
Nas composições que faz dos possíveis cenários econômicos, não deixa de analisar áreas correlatas que também são relevantes na economia, como o sistema de Ciência & Tecnologia.




 
Nassif também é compositor, bandolinista e pesquisador de choro.
Na literatura, é autor das obras “O Menino do São Benedito e Outras Crônicas" (Editora Senac, 2007) - 126 crônicas com as reminiscências e impressões pessoais de Nassif sobre diversos temas, como a infância em Poço de Caldas, MPB, esporte e o país. “O Jornalismo dos Anos 90 (Editora Futura, 2003)”, “Os Cabeças-de-Planilha (Editora  Ediouro, 2007)” e “Walther Moreira Salles: o banqueiro embaixador e a construção do Brasil" (2019). 
 

Sobre o filme


O filme “Para sempre Poços de Caldas”  foi produzido por Bruno Benetti, dirigido por Marcelo Leme com a produtora Alterea Filmes e Co-produção Feeling Good films, por meio de financiamento da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais. A obra também tem patrocínio Departamento Municipal de Eletricidade (DME), Secretaria de Cultura de Poços de Caldas, Gestão Cultural Lavanda Cultural com realização Governo de Minas Gerais - Governo Diferente Estado Eficiente. 

O projeto financiado com recursos públicos prevê, no edital, em seu artigo 6.2, que não serão admitidos projetos de caráter político partidário. A própria legislação estadual, que aprovou o projeto, garante em seu artigo 3º a livre criação, divulgação, experimentação e autonomia dos agentes culturais. 
 
 
*Jéssica Balbino é colunista do DiversEM