Jornal Estado de Minas

PODCAST

'Vou trazer o Senado para perto do povo', diz Cleitinho Azevedo

Famoso por vídeos em que aparece cobrando o cumprimento de serviços públicos, o senador eleito Cleitinho Azevedo (PSC-MG) diz que a "fiscalização" vai ser a prioridade do mandato de oito anos que vai ter no Congresso Nacional. Apesar do mote, o parlamentar, que cumpre mandato de deputado estadual, sabe das diferenças entre os trabalhos dos deputados, representantes dos cidadãos, e dos senadores, representantes dos 27 estados.



A ideia, segundo ele, é conectar a busca por recursos a Minas Gerais à necessidade de dar voz aos anseios populares.

"Vou fazer o que minha função manda, de representar a (unidade da) federação, mas vou continuar sendo um empregado do povo. Falei que ia trazer o Senado para perto do povo e vou fazer isso", disse, ontem, em participação no "EM Entrevista", podcast de Política do Estado de Minas.



Apesar de garantir estar pronto para colaborar com a aprovação de pautas do governo federal que considere positivas, Cleitinho não esconde a frustração com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Um cara que fala que é povo não rouba dinheiro do povo. Meu negócio é com ele (Lula). Não acredito nele", afirmou, acusando-o de ser leniente com supostos casos de corrupção.



Mesmo tendo apoiado o presidente Jair Bolsonaro (PL), que não conseguiu renovar o mandato, o parlamentar discorda dos bolsonaristas que protestam em ruas e estradas pedindo intervenção militar.

Defensor da Reforma Política, Cleitinho teceu críticas aos partidos e afirmou que não vai se guiar pelas orientações do PSC. "Quero que todos os partidos, inclusive o meu, se explodam: o PT, o PSC, o PSDB", bradou. "Vou sempre defender o que for bom para o país e para o povo", completou.

A íntegra da entrevista está no canal do Portal Uai no YouTube.



Na semana passada, o senhor disse que não vai se opor às propostas de Lula que forem boas para o povo. Pode detalhar como pretende atuar no Senado Federal?
Sou adepto das reformas Política e Tributária. Se ele propuser isso, por que vou querer atrasar o país só por ser oposição a ele? Não faz sentido. Acima de qualquer coisa estão o povo e a nação - patrão que paga meu salário, do Lula e de todos os políticos. É uma questão de equilíbrio e bom-senso. O que é bom para o país, vou sempre (ser a favor), independentemente do presidente.

Como o senhor pretende lidar com o PSC se o partido resolver ser oposição a Lula?
Qualquer partido, se a coisa for boa para o país, vai ser contra? Não faz sentido. É loucura. Nenhum partido manda em mim; muito menos esse. Partido nunca mandou (em mim). Nunca pedi nada a partidos. Inclusive, quando entrei, deixei bem claro: 'não quero nada de vocês. A única coisa que quero é a vaga (de candidato ao Senado)'. Me deram a vaga e vou trabalhar. Quem manda em mim é o povo. Quem paga meu salário é o povo, não o partido.



Mas o que pode acontecer se o senhor apoiar uma proposta de Lula que considera adequada e houver contestação do PSC sobre essa sua eventual posição?
Não mudo meu posicionamento e o jeito que sou. Quero que todos os partidos, inclusive o meu, se explodam: o PT, o PSC, o PSDB, qualquer partido. Quero que se explodam. Uma das coisas que quero tentar nos próximos oito anos (como senador) é propor a candidatura avulsa, para você não depender de partido. Não tenho rabo preso com partido e vou sempre defender o que for bom para o país e para o povo.

O senhor já sabe se vai integrar o bloco de oposição formal a Lula ou se estará na coalizão independente?
Ainda não. Não tive a oportunidade de conversar com nenhum senador até agora. Recebi uma carta de um senador me dando parabéns dez dias atrás. Não é de Minas ( senador citado). Tive com (Carlos) Viana (senador) em um dia em que o presidente esteve em BH e ele me deu parabéns. Os senadores têm que estar juntos para resolver os problemas de Minas. (Vamos) trabalhar em conjunto. Que seja para o povo. O senhor vai ter oito anos como senador.

Qual vai ser a prioridade do mandato?
A fiscalização. Quero fiscalizar muito. Um dos maiores projetos que temos no país é acabar com o desperdício do dinheiro público e a corrupção. Você faz isso fiscalizando. O governo que está entrando agora tem um passado para todo mundo ver o que fizeram. O que vai caber a mim é muita fiscalização para que o que aconteceu no passado não aconteça no presente ou no futuro.



Em seu primeiro ano, o que o senhor pretende emplacar em termos de projetos de lei?
Há a questão da reforma política. Quero levar à esfera federal a questão da taxa de licenciamento (veicular), que conseguimos reduzir em Minas. Há alguns estados que cobram essa taxa, de R$ 135, sobre a qual não há prestação de serviço. Queria levar (o projeto) ao nível nacional, para que outros estados também possam retirar a taxa de licenciamento. Não adianta querer pautar 30 projetos em um ano. Não passa. Vamos focar em ao menos cinco projetos anuais para poder passá-los.

Depois de uma eleição tão acirrada, o senhor crê ser possível unir os integrantes do Congresso em prol de pautas favoráveis ao país?
Vou sempre lutar pelo bem comum. Independentemente de quem for e do partido, se for coisa boa para a população (vou apoiar). Posso falar por mim, mas fui vereador e estou passando pela Assembleia: falar que vamos achar essa a união onde a maioria acaba defendendo os próprios interesses, acho difícil. Enquanto os políticos não tomarem vergonha na cara e não deixarem seus interesses próprios fora da política... Tem de haver consciência muito grande. É com o tempo.

Tinha de ter 513 'Cleitinhos' (na Câmara) e 81 'Cleitinhos' senadores. A maneira (correta) de fazer política é pautando o bem comum. O país está acima de Cleitinho, Zema, Bolsonaro ou Lula. Político não é para ser idolatrado; é para ser cobrado e fiscalizado. Político tem de dar resultado. São muito bem pagos. Você não tem que idolatrar políticos. Podemos ter opiniões diferentes, mas temos de nos respeitar. O país é um só. A eleição passou. Se o povo se unisse para defender seus interesses e cobrar dos políticos, o país não estava desse jeito. Mas o país se divide... Isso precisa acabar. Falo de ambas as partes - e não estou generalizando.





Em sua opinião, a campanha eleitoral deste ano não foi sangrenta demais?
Passei por isso como (candidato) a senador. Tive situações de ofensas e outras coisas. Das duas partes (eleitores e outros candidatos).

O senhor, quando esteve aqui pela última vez, listou a geração de empregos e a situação das estradas como os principais problemas de Minas. Como pode atuar para resolver as duas questões?
Li uma matéria que aponta que os recursos (federais) para infraestrutura são bem pequenos. O governo tem de se reinventar. O que o governo pode fazer e a gente pode ajudar? Parcerias público-privadas. Quero fazer uma proposta a Zema, que é administrador, para as estradas: vamos atrás dos empresários. Posso usar a representatividade que tenho para isso. Meu irmão (Gleidson Azevedo, prefeito), em Divinópolis, conseguiu, com um projeto de gestão compartilhada, quase R$ 20 milhões com parcerias público-privadas, para quase todas as áreas.

Mas o empresariado só costuma prestar atenção à privatização de uma rodovia quando ela está pronta. Quando o trecho está em situação ruim, há poucos interessados. Não há diversos casos em que podem haver dificuldades para concretizar parcerias público-privadas?
Pode ser, mas vou tentar. O 'não' eu já tenho. Vou atrás do 'sim'. (O que pode acontecer) se os três senadores se unirem para resolver isso com o governador, os 53 deputados federais e os 77 deputados federais e começarem a trabalhar em torno disso? O problema é que um defende uma coisa e, outro, outra. Sabe o que resolve? Nada.



No Senado, estão os representantes dos estados; na Câmara, os representantes do povo. Como deputado, o senhor, muitas vezes, se definiu como um 'empregado do povo'. Como fará para lidar com as diferenças de atuação existentes entre senadores e deputados?
Vou fazer o que minha função manda, de representar a (unidade da) federação, mas vou continuar sendo um empregado do povo. Falei que ia trazer o Senado para perto do povo e vou fazer isso. Vocês vão ver durante o mandato. Quero estar nos municípios. Meu gabinete vai estar de portas abertas para todo mundo, não só para prefeitos e vereadores. Você representa a federação (como senador), mas não deixa de ser empregado do povo. Quem paga meu salário é o povo. Continuarei fazendo o que sempre fiz.

Em agosto, o senhor disse ter sido vítima de 'ingratidão' de Romeu Zema. Depois, o chamou de 'o melhor governador de Minas'. Houve, ainda, os eventos pró-Bolsonaro em que estiveram juntos. Essa 'ingratidão' está superada?
Sempre vou falar o que meu coração pede para falar. Naquele dia estava em pré-campanha e tinha a expectativa dele me apoiar, mas não veio. Fiquei frustrado. O apoiei na primeira campanha dele. Não tenho nenhuma mágoa. Isso não me impediu de falar que era um excelente governador e que torcia por ele. Isso passou e nos aproximamos com o apoio a Bolsonaro em Minas. É passado. Quero que ele continue fazendo o que fez e que possa desenvolver mais ainda o estado. Se puder ajudar, estarei à disposição.

O senhor, Zema, Braga Netto e o próprio Bolsonaro rodaram Minas Gerais para tentar inverter o resultado do primeiro turno no estado, vencido por Lula. O presidente até cresceu em Minas e encostou em Lula, mas não o ultrapassou. Por que a virada não aconteceu?
Foi quase um empate técnico. O que faltou foi o governador não ter apoiado no primeiro turno. Teríamos uma onda boa. Zema fez diferença depois que apoiou no segundo turno. A diferença de (cerca de) 560 mil caiu para (cerca de) 50 mil.



O senhor já calculou quantos de seus eleitores votaram em Bolsonaro em Lula? Com o desempenho que obteve, certamente o senhor teve votos dos dois lados.
Não fiz essa estatística. Sou empregado e vou trabalhar. Uma coisa é eu ser contra Lula. Sou empregado de quem votou em mim e em Lula. Vou trabalhar para eles do mesmo jeito. Minha questão, aqui, é com Lula. Sou verdureiro e sei o que passei. Meu pai dizia que vim de origem humilde e que tinha de honrar meu nome. O que me decepcionou com Lula nos governos anteriores foi ele ter se corrompido. Um cara que veio de onde veio, virou presidente e se corrompeu. Um cara que fala que é povo não rouba dinheiro do povo. Meu negócio é com ele. Não acredito nele. Pronto e acabou.

Você que votou nele e em mim, pode ter certeza: vou te representar. Quem votou em Simone (Tebet) ou Ciro (também). Quem não votou em mim, também vou representar. Sou 100% povo. Sempre votei a favor do povo. Todos os projetos que fiz foram a favor do povo. Meu negócio é com ele (Lula). Ele enganou todo mundo. Minha origem é humildade.

O senhor, então, se identifica com Lula pela origem humilde, mas se decepcionou com ele?
Ele tinha de honrar esse povo, chegar lá, bater na mesa e dizer 'corrupção, comigo, não tem'. O que mais acaba com o país é a corrupção. Este país não é pobre. O que precisamos mudar são os políticos, (que têm) de tomar vergonha na cara e parar de roubar do povo. Ele deixou isso acontecer. Meu problema é com ele, não com o povo. O povo, vou defender e honrar.



O senhor falou sobre a Reforma Política nesta entrevista. Quais as bases da mudança que propõe, além da candidatura avulsa?
É a (pauta) mais difícil, pois mexe com o político. Para o político, é muito fácil mandar fazer qualquer tipo de reforma que prejudique o povo. Não está prejudicando ele. (Defendo) menos partidos. São muitos partidos que não servem para nada, a não ser para ficar fazendo laranjas. Tenho uma sugestão sobre os fundos partidário e eleitoral. Teve uma mulher que gastou (o fundo) em procedimento estético. Falam que vão pegar o dinheiro para igualar (as condições) do candidato que está chegando agora ao que tem mandato. O que mais escutei foram candidatos dizendo que prometeram algo, mas não deram. É uma mentira. Diminui ou acaba com essa porcaria. Se não conseguir acabar, sabe o que fazer? divide igualmente entre os candidatos de um partido.

Há, nas ruas, manifestações contra o resultado da eleição presidencial que têm acarretado em pedidos antidemocráticos, como uma 'intervenção federal'. Qual a sua opinião sobre as pessoas que estão nas ruas?
Os protestos são legítimos? Desde que as manifestações sejam pacíficas e não tirem o direito de ir e vir, não vejo nenhum problema, até porque é democrático. Quando Bolsonaro ganhou, o que mais teve foi manifestação contra ele. Faz parte da democracia. O que não pode é parar as estradas. Tenho visto vídeos muito agressivos. Sou contra essas situações.

Mas o senhor concorda com os pedidos de intervenção federal, que levaria os militares ao poder?
Sou a favor da democracia e contra uma interferência do Exército. O Ministério da Defesa vai soltar um relatório amanhã (hoje) sobre a eleição. Se estiver tudo ok e a eleição foi limpa e honesta, segue o jogo. Vamos trabalhar e fiscalizar quem ganhou.

Em agosto, o senhor disse que, como senador, poderia enviar mais emendas às cidades. Que área, como saúde, educação e segurança, pretende priorizar na hora de conversar com os prefeitos sobre o destino do dinheiro?
Quase todo político acaba alimentando mais a sua base, o grupo político que deu apoio. Não tive tanto isso. Posso contar nos dedos os prefeitos que me apoiaram. Meu mandato estará aberto a todos que me procurarem. Se tiver demanda que eu achar que tenho de ajudar, farei com o maior prazer. Pode ser até prefeito que falou mal de mim. Não vou estar ajudando ele, mas a cidade.