Na avaliação da cúpula do Exército, os atos são permitidos pela Constituição e, por mais que possam gerar distúrbios nas regiões militares, não devem ser encerrados por força.
A orientação foi repassada durante uma reunião que o Exército tradicionalmente realiza para o encerramento do ano de instrução, na qual a análise das ações realizadas pela Força é repassada ao generalato.
O encontro por videoconferência reuniu cerca de 150 generais da ativa e durou duas horas, segundo relatos de quatro participantes ouvidos pela reportagem.
O foco da reunião foi, especialmente, os resultados das operações de garantia de votação e apuração --o apoio logístico e de segurança ao pleito-- e os demais trabalhos realizados pelo Exército durante o ano.
As manifestações antidemocráticas em diferentes quartéis no país foram citadas por serem assunto relevante para a Força neste momento, de acordo com os generais.
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Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) estão reunidos em frente a quartéis desde o fim do segundo turno, em protesto contra a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os atos antidemocráticos pedem intervenção das Forças Armadas contra o resultado eleitoral.
A orientação aos generais foi dada em meio à insatisfação de Bolsonaro sobre como o caso tem sido conduzido pelo Exército.
De acordo com pessoas com conhecimento do assunto, o presidente ficou irritado com notícias sobre uma suposta tentativa da Força de barrar manifestações em Brasília.
O Exército solicitou ajuda ao Governo do Distrito Federal para manter a segurança e a ordem pública em frente ao quartel-general em Brasília, com envio de ambulâncias e funcionários do serviço de limpeza para garantir a manutenção da área.
Outra preocupação de militares é com o sobrevoo de drones sobre as áreas militares, como manifestantes têm feito para gravar vídeos dos protestos.
Eles também entendem que a segurança dos apoiadores do presidente deve ser feita pelas Polícias Militares, e não pelos batalhões do Exército, que têm ajudado no controle do trânsito e segurança dos prédios públicos.
Pela reunião desta quinta ser ampla e com pauta pré-definida, assuntos mais sensíveis à Força não foram tratados. Tradicionalmente, esses temas são discutidos em encontros periódicos e presenciais do Alto Comando do Exército.
As últimas horas têm sido acompanhadas com apreensão por generais da cúpula do Exército.
Em conversas reservadas, os oficiais têm argumentado que o relatório do Ministério da Defesa sobre o processo eleitoral trouxe conclusões técnicas, e não políticas.
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O documento, entregue ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na quarta (9), não aponta nenhum indício de fraude nas eleições, mas apresenta sugestões e pede a apuração sobre o momento da compilação dos códigos-fontes e a geração dos programas eleitorais.
Por outro lado, alguns generais consideraram inadequada a nota divulgada pela Defesa, nesta quinta, que diz não descartar a possibilidade de fraude nas eleições.
"Não é possível assegurar que os programas que foram executados nas urnas eletrônicas estão livres de inserções maliciosas que alterem o seu funcionamento", escreveu a pasta.
A fiscalização do pleito feita pelo Ministério da Defesa foi usada por Bolsonaro para alimentar teorias da conspiração sobre fraudes nas urnas eletrônicas.
No âmbito político, aliados de Bolsonaro aprovaram o comportamento do Ministério da Defesa de emitir a nota desta quinta e dizem acreditar que ela é importante para manter a mobilização bolsonarista pelo país.
Além disso, a análise é que o relatório fortalece Bolsonaro na oposição e indica que o presidente manterá mesmo fora do governo o discurso --sem provas-- de que o sistema eletrônico de votação não é confiável.