Mais de três semanas após o fim das eleições, o Partido Liberal (PL), pelo qual Jair Bolsonaro concorreu à presidência, voltou a colocar em xeque a credibilidade das urnas eletrônicas. Nesta terça-feira (22/11), o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, fez um pronunciamento informando que enviou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), um relatório alegando inconsistência nos equipamentos, sem apresentar provas e sem mencionar resultados do primeiro turno.
De acordo com o partido, urnas fabricadas antes de 2015, cerca de 59,2% do total utilizado em 2022, apresentaram problemas ao cruzar informações disponibilizadas pelo TSE que não permitiram identificar a relação entre os votos registrados e os equipamentos.
Durante o pronunciamento, Valdemar foi acompanhado por um engenheiro e um advogado responsáveis pelo relatório. Eles não citaram relação entre as inconsistências apontadas e os resultados do primeiro turno das eleições. “Até porque eu fui eleito pela urna eletrônica, então é natural que se faça um trabalho de fiscalização para que não fique nenhuma dúvida”, chegou a dizer o parlamentar.
O PL teve resultados expressivos nas eleições para o Legislativo. O partido conseguiu montar a maior bancada do Senado, que terá 14 representantes a partir de 2023. Na Câmara dos Deputados serão 129 parlamentares da legenda, que também será majoritária na casa.
Em resposta à representação do PL, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, determinou que o partido apresente dados também do primeiro turno no relatório em 24 horas.“As urnas eletrônicas apontadas na petição foram utilizadas tanto no primeiro turno, quanto no segundo turno das eleições de 2022. Assim, sob a pena de indeferimento da inicial, deve a autora aditar a petição inicial para que o pedido abranja ambos os turnos das eleições, no prazo de 24 horas”, escreveu o ministro.
Não é a primeira vez que o PL questiona o processo eleitoral. Em setembro, antes do primeiro turno, o partido divulgou um relatório sobre as urnas que foi considerado fraudulento e mentiroso pelo TSE. O documento foi anexado ao ‘Inquérito das Fake News',que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).
O que diz o PL
O partido alega que cerca de 280 mil urnas, todas fabricadas até 2015, apresentam inconsistências que prejudicam a auditoria dos votos nesses equipamentos, que representam 59,2% do total utilizado no pleito, segundo o PL.
No pronunciamento, o partido ainda disse que Bolsonaro venceu nas urnas fabricadas após 2020, em que o PL não constatou problemas, com cerca de 51% dos votos. Nos equipamentos fabricados até 2015, Lula venceu com aproximadamente 52% dos votos, também de acordo com o relatório.
Embora o relatório do partido acene para manifestantes bolsonaristas que protestam contra resultado das urnas em todo o país, Valdemar afirmou que o documento busca contribuir com o processo eleitoral e não reflete a opinião do PL. "Este relatório não expressa a opinião do Partido Liberal. Mas é o resultado de estudos elaborados por especialistas graduados em uma das universidades mais respeitadas do mundo e que, no nosso entendimento, deve ser analisado pelos especialistas do TSE".
Membros do partido, que ganhou um incremento de parlamentares e candidatos ligados ao bolsonarismo após a filiação do presidente, se pronunciaram acerca do relatório e chegaram a aludir à possibilidade de perder os cargos conquistados no pleito de 2022. Foi o caso de Bia Kicis, eleita deputada federal pelo Distrito Federal.
Queremos transparência nas eleições mesmo que isso custe o mandato dos já eleitos. Não há democracia sem transparência e muito menos com censura.
%u2014 Bia Kicis (@Biakicis) November 22, 2022
O deputado federal eleito André Fernandes, do Ceará também seguiu o mesmo discurso.
Queremos transparência nas eleições, mesmo que isso custe mandatos dos já eleitos. É uma nação que está em jogo.
%u2014 André Fernandes (@andrefernm) November 22, 2022
No segundo turno, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu a disputa presidencial no segundo turno com 50,9% dos votos ante 49,1% de Bolsonaro. Em números totais, o petista teve cerca de dois milhões de votos a mais que o candidato à reeleição.