O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou no início desta semana um jatinho fretado por seu partido para fazer o deslocamento entre São Paulo e Brasília, onde está atuando o gabinete de transição. A equipe de Lula não divulgou os valores pagos pelo serviço.
A empresa contratada funciona no mesmo endereço de outra que havia prestado serviços durante a campanha de Lula à Presidência. No período, foram 11 serviços prestados ao custo de R$ 2,68 milhões.
A decisão de usar um serviço custeado pelo PT acontece após a polêmica viagem de Lula para o Egito, para participar da COP27. A Folha de S.Paulo revelou na ocasião que o presidente eleito viajou para o país do norte da África a bordo de um avião do empresário José Seripieri Filho, fundador da Qualicorp e dono da Qsaúde.
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A viagem para Brasília foi feita em um avião modelo Cessna 560XLS, prefixo PP-IVA, da empresa Millennium Locadora, segundo informou o jornal O Globo.
Durante a campanha eleitoral, o petista contratou por 11 vezes a empresa Mill Taxi Aéreo para serviços de deslocamentos do então candidato a presidente. As notas apresentadas à Justiça Eleitoral se referem a serviços que variam de R$ 69,8 mil a R$ 664,3 mil
A Millennium Locadora e a Mill Taxi Aéreo funcionam no mesmo endereço, em Manaus (AM).
A viagem de Lula ao Egito num jatinho de Seripieri Filho gerou repercussão negativa para o gabinete de transição. Na ocasião, Lula foi ao Egito para participar da reunião global do clima da ONU.
O presidente eleito deixou a conferência da ONU sobre mudanças climáticas no Egito e seguiu para Portugal no mesmo jato. A aeronave do modelo Gulfstream tem capacidade para transportar 12 pessoas e autonomia para voar direto ao país africano.
Lula depois disse que o empresário já iria participar da COP e que ele apenas pegou carona. E também culpou o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) por não ceder uma aeronave da Força Aérea Brasileira ao governo eleito.
"Tinha um amigo que queria ir na COP e tinha um avião. Fui com ele. Um avião novo, de boa qualidade, com muita segurança. É importante lembrar que um presidente eleito tem que cuidar da sua segurança, sobretudo num país em que tem bolsonaristas raivosos se espalhando pelo mundo afora", afirmou.
"Você sabe que segurança é uma coisa séria, e quem tem responsabilidade de cuidar somos nós. Se o Estado brasileiro fosse democrata e a gente tivesse um presidente responsável, quem sabe ele tivesse oferecido um avião da FAB para me levar. Mas não ofereceu. Paciência", completou.
Seripieri Filho, conhecido como Júnior, ficou preso por três dias em julho de 2020 em decorrência da Operação Paralelo 23, que investigou pagamentos para a campanha de José Serra (PSDB) ao Senado em 2014.
Ele se tornou réu acusado de corrupção, lavagem e caixa dois na Justiça Eleitoral de São Paulo. O senador também responde ao processo. A investigação ocorreu no âmbito de um conjunto de inquéritos apelidado de "Lava Jato Eleitoral", por envolver desdobramentos de delações enviados a esse braço do Judiciário.
No fim de 2020, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso homologou acordo de colaboração de Seripieri firmado com a Procuradoria-Geral da República. O compromisso previa o pagamento de R$ 200 milhões pelo empresário como ressarcimento aos cofres públicos.