Jornal Estado de Minas

FUTURA MINISTRA DA CULTURA

Quem é Margareth Menezes, futura ministra da Cultura no governo Lula

Margareth Menezes será a próxima ministra da Cultura no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que prometia desde a campanha alçar a atual secretaria ao status de ministério de novo.

 

A cantora confirmou a informação durante entrevista coletiva no Centro Cultural Banco do Brasil, sede da transição, na manhã desta terça (13/12).





 

Seu nome ganhou tração para o cargo com o apoio de Rosângela Silva, a Janja, logo antes de o presidente eleito começar a divulgar seus futuros ministros.

 

Desde o começo do governo de transição, a artista também fez parte do grupo de cultura ao lado da atriz Lucélia Santos, o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira, o secretário nacional de Cultura do PT, Márcio Tavares, o músico e poeta Antônio Marinho e a deputada federal Áurea Carolina.

 

Ela também se apresentará no festival com artistas como Pabllo Vittar, Valesca Popozuda e Paulinho da Viola, organizado para a posse de Lula, em 1º de Janeiro.

 

Trajetória de Margareth Menezes 

 

Menezes, nascida em Salvador, começou a carreira como atriz nos anos 1980. Ela se apresentou em peças como "Máscaras", de Menotti Del Picchia, e "Inspetor Geral", de Nikolai Gogol.





 

Foi na música, porém, que a baiana despontou. No fim dos anos 1980, a cantora deu voz à música "Faraó (Divindade do Egito)", um clássico do Carnaval no país.

 

Desde então, ela se tornou uma das grandes intérpretes do samba-reggae, o ritmo surgido nos blocos afro baianos - como Olodum e Ilê Ayê - que depois veio ser a base da axé music.

 

A cantora se consolidou nos anos seguintes, fazendo pontes entre a música negra baiana e a jamaicana, gravando com Jimmy Cliff, e absorvendo temas de religiões de matriz africana em sua estética.

 

Desde o começo da década de 1990, Menezes tem uma carreira fora do Brasil, tendo feito shows de abertura e cantado na banda de David Byrne, ex-vocalista do Talking Heads, além de ter sido indicada ao Grammy, nos Estados Unidos, e se destacado no nicho da world music.

 

Menezes chegou a se apresentar com gigantes da música mundial, como os guitarristas Jimmy Page, do Led Zeppelin, e Ron Wood, dos Rolling Stones, além das frequentes parcerias com os conterrâneos tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil, entre muitos outros.





 

Nos anos 2000, Menezes firmou o conceito de afro-pop brasileiro, gravando um de seus maiores sucessos até hoje, "Dandalunda", de Carlinhos Brown.

 

Entre os grandes nomes do axé e do samba-reggae que saíram da Bahia, Menezes é uma das pioneiras, além de ser a mais reconhecida no exterior e quem mais tem ligações com a música e a cultura negra.

 

O último álbum de inéditas lançado pela cantora é "Autêntica", de 2019. Com 13 faixas, o disco é produzido por Tito Oliveira, tem foco na ancestralidade afrobrasileira e traz canções autorais e de outros artistas, como "Capim Guiné", do BaianaSystem.

 

Na sexta (9/12), mesmo dia em que foi nomeada ao Ministério da Cultura, a artista lançou "Macaco Sessions com Margareth Menezes", projeto audiovisual gravado numa festa embalada por sucessos de sua carreira.





 

Recriação da pasta da Cultura 

 

Menezes ocupa a pasta numa tentativa da gestão petista de repetir a fórmula de Gilberto Gil, que comandou o ministério entre 2003 e 2008 - embora o cantor já tivesse uma vivência na política institucional quando assumiu a pasta.

 

Em 2004, Menezes criou a Associação Fábrica de Cultura, organização cultural voltada aos moradores da Ribeira e expandiu o trabalho com quatro sedes na Península de Itapagipe, em Salvador. Ela também é a embaixadora brasileira da Iov-Unesco, que visa preservar e promover a produção cultural no país.

 

Depois do convite de Lula a Menezes vazar, o presidente ouviu ponderações de interlocutores sobre as dificuldades para recriar a pasta e as vantagens de um quadro mais técnico.

 

Outras opções para o Ministério da Cultura  

 

A artista não foi a primeira opção de Lula. Antes de convidá-la para seu governo, o petista fez a proposta à atriz Marieta Severo e ao rapper Emicida, mas nenhum deles aceitou o convite.





 

nomeação da cantora dividiu opiniões na classe artística.

 

O fotógrafo e produtor de cinema Luiz Carlos Barreto, por exemplo, criticou a escolha do presidente. À Folha de S. Paulo, ele disse que o Ministério deve ser chefiado por um "gestor que conheça bem as entranhas de Brasília", não um artista.

 

"Como diz a Fernanda Montenegro, quando ela foi convidada por Sarney para ser ministra da Cultura - eu a fui sondar -, o lugar de artista é na trincheira da criatividade, não é nos gabinetes das repartições públicas, oficiais", disse Barreto, acrescentando que preferia ver o retorno de Juca Ferreira, que chefiou a pasta nos governos de Lula e Dilma.





 

 

 

 

Algumas alas do PT também se opuseram à escolha e defendiam, por exemplo, que a deputada federal Jandira Feghali fosse indicada para o cargo.

 

Já o músico Caetano Veloso celebrou a nomeação de Menezes. "Acho ela muito boa. Se ela foi convidada, então tem que ser mantido o convite", afirmou ele a Folha de S. Paulo.

 

A cantora Maria Gadú também comemorou. "Margareth vem como um respiro e um símbolo. Mulher, preta, baiana. Passou por teatro, atuou internacionalmente como movimentador cultural. Fez turnê com David Byrne. Não é só esse lance de ser artista. Ela circula há tantos anos colocando o Brasil em outro panorama. Chegou a hora de o Brasil recolocar Magareth no panorama."

 

Na sexta, Menezes jantou, em Salvador, com amigos da área cultural. Apesar de confirmar que será a próxima ministra cultural do país, a cantora ainda não se pronunciou sobre os planos para o setor.