Na versão dada por ele aos policiais, à qual a Folha teve acesso, Sousa fez referência ao discurso armamentista do presidente da República --marca de Bolsonaro durante seu mandato e da campanha que em 2018 o levou ao Palácio do Planalto.
Sousa afirmou que trabalha como gerente de um posto de gasolina no interior do Pará e que, desde outubro de 2021, quando obteve licença como CAC (colecionador, atirador desportivo e caçador), já teria gastado cerca de R$ 160 mil na compra de pistolas, revólveres, fuzis, carabinas e munições.
Preso na noite de sábado (24), Sousa afirmou em depoimento à Polícia Civil que planejou com manifestantes do QG (Quartel General) no Exército a instalação de explosivos em pelo menos dois locais da capital federal para "dar início ao caos" que levaria à "decretação do estado de sítio no país", o que poderia "provocar a intervenção das Forças Armadas".
Na versão dada por ele aos policiais, ele mencionou o artefato localizado no sábado nas imediações do aeroporto de Brasília e também planos da instalação de explosivos em postes próximos a uma subestação de energia em Taguatinga, cidade do Distrito Federal.
Sousa disse que, após o segundo turno das eleições, passou a participar de protestos no Pará em apoio a Bolsonaro e contra o resultado das eleições, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e que no dia 12 de novembro foi para Brasília.
Narrou que fez o trajeto de carro, uma caminhonete, e colocou no bagageiro "duas escopetas calibre 12, dois revólveres calibre .357, três pistolas, sendo duas Glocks e uma CZ Shadow, um fuzil Springfield calibre .308, mais de mil munições de diversos calibres e cinco bananas de dinamite".
De acordo com a versão dele, o único item que não tinha licença para "possuir" eram as dinamites que teria adquirido por R$ 600 de um "um homem do Pará", entregues na capital do país.
O suspeito afirmou ainda que não possuía a guia de transporte de armas e, caso fosse parado pela polícia na estrada, acionaria o grupo armamentista Pró-Armas para ajudá-lo a contornar a eventual situação.
O número de armas de fogo nas mãos de CACs chegou a 1 milhão em julho deste ano. O aumento foi de 187% em relação a 2018.
O governo eleito anunciou a revogação de decretos presidenciais que facilitaram o acesso da população às armas e ao descontrole sobre a circulação desses produtos no país.