Neste terça-feira (27) está previsto um encontro entre Tebet e Lula para tratar do ministério.
O nome da senadora como titular do Planejamento é defendido pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que quer mulheres em postos mais importantes no governo. No entanto, a proposta não foi bem aceita pelo futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sob o argumento de que ele e Tebet têm visões diferentes sobre a condução da área econômica.
Nesta segunda-feira (26), Haddad conversou com integrantes do MDB e fez um apelo para que o senador eleito Renan Filho (MDB-AL) assuma a pasta.
O ex-governador de Alagoas havia sido sondado pelo futuro ministro da Fazenda para chefiar o Planejamento há cerca de 20 dias. A bancada do Senado, porém, resolveu pleitear um ministério que tivesse o que consideram uma "função finalística".
Por isso, ficou resolvido que Renan Filho seria o titular do Ministério dos Transportes. Nesta segunda, emedebistas repetiram a Haddad que o senador eleito foi indicado pela bancada para comandar outra pasta e, por isso, não deve ir para o Planejamento.
Olhando o embate político de longo prazo, quem acompanha a formação dos ministérios diz ainda que no Planejamento Tebet poderia ganhar musculatura para fazer sombra sobre Haddad, que vem sendo preparado para ser um nome de peso em futuras disputas eleitorais do partido, inclusive à Presidência da República.
Historicamente, Economia e Planejamento trabalham em sintonia. No Lula 3, a parceria entre os titulares precisa ser mais afinada ainda, dada a ambição do futuro governo de recuperar o planejamento de longo prazo e também promover uma reforma administrativa.
Quem acompanha o processo de negociação afirma que também há divergências em relação à constituição do novo Planejamento. Mesmo sendo um ministério já poderoso, por incluir a gestão do Orçamento, o MDB almeja engordar a pasta com outras atribuições.
Desde a semana passada, como a Folha de S.Paulo mostrou, o MDB pleiteia que o ministério também incorpore o PPI (Programa de Parcerias de Investimentos). Essa área, até o momento, está designada para a Casa Civil, de Rui Costa.
Segundo integrantes do futuro governo, há a possibilidade de que o programa seja transferido da alçada de Costa para o Planejamento, com o objetivo de acomodar a senadora. O futuro titular da Casa Civil, porém, resiste a ceder o programa.
Tebet tem indicado que topa assumir o Planejamento. Além dela, o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) também é cotado para a pasta.
A senadora também sinalizou que gostaria que a pasta ficasse com Caixa e Banco do Brasil. Esses bancos públicos, por tradição, são subordinados à Fazenda, e sua eventual transferência para o Planejamento não foi bem recebida.
Segundo a reportagem apurou, essa proposta é de difícil aceitação. O grupo de trabalho da Transição responsável pela área de Desenvolvimento Regional propôs que os bancos regionais fossem para o Planejamento, mas a sugestão foi rechaçada.
A senadora preferia ter ficado com o Ministério do Desenvolvimento Social. A pasta, no entanto, foi reivindicada pelo PT por ser responsável pela gestão do Bolsa Família, programa que é a vitrine do partido e vai iniciar o governo com um dos maiores orçamentos entre os ministérios.
Desde então, o governo eleito tem buscado alternativas para a senadora, que foi importante para ampliar os votos de Lula no segundo turno.
Como desejo inicial já foi frustrado, interlocutores do PT dizem que será politicamente complicado não atender novos pleitos da senadora. Na sexta, quando conversou com Tebet, Lula também colocou sobre a mesa os ministérios do Turismo e Cidades como opções.
A senadora rejeita ocupar o Turismo. Já em relação a Cidades, o entrave ocorre porque a pasta é reivindicada pela bancada do MDB na Câmara. A avaliação no partido é que se Lula der a Tebet a pasta, isso criaria um problema político com os deputados, o que poderia gerar desgastes ao petista em votações na Casa.
Tebet chegou a ser convidada para o Ministério da Agricultura, mas rejeitou assumir a pasta. Depois, o PT passou a trabalhar com o cenário em que ela assumiria o Ministério do Meio Ambiente. Como mostrou a Folha de S.Paulo, Gleisi Hoffmann inclusive sondou a senadora para a pasta na segunda-feira da semana passada (19).
A emedebista, porém, não queria passar por cima de Marina Silva (Rede-AP) e condicionou aceitar o Meio Ambiente somente se a colega declinasse.
O plano do PT era que Marina fosse a autoridade climática do governo e assumisse o órgão, que teria status de ministério, ligado à Presidência da República. A deputada eleita pela Rede, porém, deixou claro que preferia ser ministra. Por isso, Lula indicou ainda na semana passada que nomearia Marina como titular da pasta ambiental.
Lula reafirmou a Tebet que gostaria de tê-la no primeiro escalão do governo e a sondou para o Planejamento. A senadora tem dito a aliados que não condicionou o apoio a Lula a um espaço no governo, e que, por isso, só aceitaria uma pasta em que ela julgasse que poderia colaborar com o governo.
A senadora relatou ainda que não teria tanta afinidade com a política econômica do PT e que isso poderia ser uma dificuldade. A parlamentar, porém, recebeu apelos, inclusive de representantes do mercado financeiro, para aceitar o ministério.
A escolha do titular do planejamento se arrasta há semanas.
Gleisi Hoffmann almejava o posto e chegou a ser cotada, mas Lula preferiu que ela permanecesse como presidente do PT. O senador eleito Wellington Dias (PI-PT) chegou a ser cogitado para o posto, mas acabou escolhido para Desenvolvimento Social.
Ventilou-se um convite para o economista Persio Arida, mas ele declarou em entrevista à Folha de S.Paulo que não tinha intenção de retornar ao governo, sinalizando que sua contribuição ficaria restrita a sugestões para o grupo de trabalho dedicado à transição na economia. O economista André Lara Resende foi convidado para assumir a pasta há uma semana, mas declinou.