Eleito com mais de 62 mil votos na primeira eleição disputada, Samuel Viana (PL) chegará à Câmara dos Deputados em 2023 aos 30 anos. Filho do senador Carlos Viana, também seu companheiro de partido, ele começou sua trajetória política trabalhando ao lado do pai, passou pelo PSD e adota um tom conciliatório ao projetar seu primeiro mandato.
Embora tenha sido eleito pelo PL de Jair Bolsonaro (PL), Viana tem um discurso afastado da ala do partido mais ligada ao presidente. Em entrevista ao Estado de Minas, o parlamentar eleito falou sobre sua afinidade com a figura de Arthur Lira (PP-AL) e projetou os desafios de seu primeiro mandato em Brasília. Esta é uma das entrevistas da série que é publicada diariamente no jornal impresso, no portal em.com.br e no canal do YouTube do Portal Uai com os deputados federais eleitos por Minas Gerais para a próxima legislatura.
O senhor começou a sua vida política trabalhando como coordenador do seu pai, o senador Carlos Viana (PL). Como foi essa trajetória até a entrada na política?
Eu vim do ensino público, estudei numa escola municipal em Belo Horizonte que se chama Governador Carlos Lacerda, me formei em Direito, abri um escritório de advocacia e tem quase 10 anos que advogo no direito previdenciário e trabalhista. Nós não somos, digamos assim, de berço político, apesar de ser filho de um senador da República. Vocês acompanharam meu pai que é o senador e jornalista Carlos Viana, está no primeiro mandato dele e, antes disso, nós nunca trilhamos essa caminhada política. Quando meu pai saiu candidato ao Senado, arrepiei. “Depois de muitos anos de televisão e rádio, o senhor vai se candidatar e enfrentar esse novo desafio?”. Então, confesso que eu tinha uma restrição, não compreendia bem o que que era política e o que que ela poderia fazer. Eu ficava com aquele preconceito de só ter coisa ruim e um monte de gente engravatada falando difícil. Com a eleição dele, eu sou curioso e falei “vamos ver como é que é”. E me coloquei à disposição para auxiliá-lo. Como ele nunca foi da política, precisava de suporte para receber os vereadores, os prefeitos, presidentes de associação, órgãos dos conselhos e deputados para poder trazer as demandas. Às vezes um senador, com a quantidade de agenda que tem, não consegue dar conta de todas as demandas do estado. Entendo um pouquinho de processo administrativo, legislativo e constitucional, por causa da formação e esse atendimento já é o que eu faço no jurídico. Foi aí que começou minha caminhada na política. Ela veio como um braço direito do senador para auxiliá-lo. Nunca tive um cargo político assim de mandato. Não fui nomeado no gabinete dele, não pode é crime de nepotismo. Nunca tive cargo em outro gabinete. Eu me filiei ao PSD e assumi a presidência estadual da Juventude do partido durante quase dois anos. Peguei logo antes da pandemia e foquei muito nos pedidos de auxílio, de apoio. A partir disso, na Juventude, comecei a construir comissões. Comecei a mostrar para as pessoas que a responsabilidade muitas vezes, não era só do senador, ou só de um presidente ou do governador. Ela era muito da base municipal, do vereador, do prefeito, porque a gente tem as regras de competência. E aí com isso de uma forma mais didática, a gente conseguiu eleger alguns prefeitos e vereadores. Com esse envolvimento, me deu vontade de sentar na mesa e participar.
O senhor recebeu mais de 62 mil votos logo na primeira disputa eleitoral de que participou. Como esses eleitores foram conquistados?
A minha leitura como quem está começando e aprendendo ainda, porque não tenho muitos anos de experiência em campanha, é de que a gente tem alguns vieses de trabalho que podem fazer com que o eleitor confie o voto a você. O principal viés que a gente teve em 2022 foi o ideológico, a pauta prioritária foi a polarização, então muitas pessoas podem votar e votaram com base nisso: “Eu não quero saber qual a bandeira de trabalho, qual a história dessa pessoa. Eu quero saber se ela é Lula ou Bolsonaro”. Não fiz campanha com base nisso, já tive um outro viés de preparação, sou do Renova BR, que é uma escola de formação política e a gente tem mais com base a democracia, o diálogo, fazer política com base em evidências e prestação de serviço. Os municípios do interior e o povo em geral, eu sinto que têm muita carência do político, porque a maioria dos municípios não tem recurso suficiente para fazer a gestão adequada do serviço que prestam. Eles precisam de Brasília. Acredito que essa eleição tenha vindo muito da presença. Rodei mais 250 municípios de Minas Gerais e acredito que ela veio muito do diálogo, de buscar compreender qual a dor e a necessidade de cada região. Se você der uma olhadinha lá no meu Instagram e tudo, vai ver que é uma política mais focada em associações a produtores rurais, ao municipalismo. Então, fiz muito esse trabalho e também focar no desenvolvimento social, que é no que eu acredito e gosto muito.
O senhor afirmou que quer fazer uma política humanizada. O que seria esse conceito na prática?
A gente tem vários tipos de políticos. Tem gente que entra lá porque, por exemplo, tem uma empresa de mineração. Não estou falando aqui que a mineração é ruim, não estou entrando nessa pauta. Mas uma pessoa que entra na política porque tem uma empresa ou vínculo com a mineração e só defende ali interesses ligados a esse setor, vai querer as comissões, usar das ferramentas de trabalho para fomentar esse setor e muitas vezes não tem um capital humano por trás, pode ter um capital econômico que indiretamente vai gerar desenvolvimento e tudo, mas não diretamente. O que eu chamo de humanizar a política é o político compreender um pouco mais das dores e das necessidades das pessoas e tentar buscar a solução em cima disso. O que que era muito comum, e eu observava e não gostava, o político chegava a um lugar e fazia promessas que, tecnicamente, nem conseguiria executar. Ele pegava a dor daquela pessoa e usava isso pra converter em esperança e voto. Temos hoje um senador da República que pode ajudar, e estou aqui para fazer essa ponte, a gente está aberto a construir isso e usar os instrumentos que um mandato tem para poder resolver esse problema. É isso que considero humanizar a política.
Mais de 30% dos votos do senhor vieram de municípios do Norte de Minas. O senhor pretende criar projetos específicos para essa região. E por que acha que obteve sucesso ali?
Quando comecei a fazer essa construção política, fui à procura de parceiros regionais que pudessem trabalhar comigo, me apresentar e unir forças. Encontrei uma pessoa que me deu uma oportunidade de trabalhar, que apoiou o senador na época da campanha dele e por quem tenho um carinho enorme, que é o deputado estadual Arlen Santiago (Avante). Ele já tem mais experiência que a gente e foi quem abriu as portas do Norte de Minas para mim. Pensando já no eixo de trabalho do mandato, a gente não dá conta de cuidar de todo o estado, de todas as áreas, por isso que é dividido em 53 deputados para Minas e 513 no Brasil. Então, estou fazendo planejamento estratégico focado em quais ações, quais comissões quero trabalhar. A gente está ligado ao municipalismo, que é o que eu já disse que trabalhei. Continuar atendendo vereadores, prefeitos, associações e o terceiro setor. Estou trabalhando também a questão do agro. As pessoas acham que o agro é só agronegócio, só os grandes produtores. Tem as demandas dentro dessa questão, da tecnologia, melhoramento genético, pesquisas, mas a gente não pode esquecer que a bandeira e o trabalho também tem o agricultor familiar. Esse agricultor familiar, além de demandas de produção, também tem demandas sociais que vão desde, por exemplo, levar uma internet, fazer um correio chegar. Tem a questão da escassez hídrica, que afeta a região onde fui bem votado. Então, tudo isso caminha dentro dessa bandeira que quero trabalhar. Acredito que eu tenha que esperar ver como vai se dar o trabalho em Brasília, quais são as oportunidades que eu vou ter de comissões e tudo mais. Sou advogado previdenciarista, tenho muita vontade de trabalhar a pauta da seguridade social, porque vi o povo aqui sofrer bastante com corte de benefício, perícias desumanas. Quero ver o que é possível fazer pra gente poder discutir eventuais propostas que o novo governo tiver no direito previdenciário. A gente sabe que é uma pauta que eles têm, da reforma previdenciária, então eu quero participar do debate.
O senhor já se encontrou com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Qual foi o teor dessa reunião?
Vou te confessar uma coisa aqui: na primeira reunião que tive com ele, nós levamos um queijo para ele como bons mineiros para mostrar um pouco daquilo que a gente sempre tem, que é esse carinho para lidar com as pessoas. Então, de fato, fui para me apresentar. Tive um outro momento que foi uma reunião interna que fizemos já de orientação de como se deve dar o trabalho do próximo mandato. Já te adianto que me chamou muita atenção e que gostei muito. Ele tem muito a ver com o meu perfil político. Lira é uma pessoa muito institucionalista, ele é uma pessoa que cumpre as palavras, dialoga com os deputados, todos eles, da esquerda, da direita e do centro.
Ainda sobre Arthur Lira, como o senhor avalia o orçamento secreto?
O orçamento tem um porquê de ser chamado secreto, que acredito que a gente possa melhorar. Basicamente, a gente tem os recursos que já estão previstos do outro exercício, que são votados na lei de orçamento anual. Ao longo do ano, outros recursos chamados de primários são arrecadados pelo país, até maiores ou fora do que se estava esperando. Eles precisam ser redestinados e tem que ter votação. Então, começam a entrar aquelas emendas de relatoria, esse orçamento para ser redistribuído. Nas emendas de relator, não é indicado, de fato, quem seria o parlamentar que estava ali destinando aquele recurso, então aquilo dificultava saber qual era a pessoa. Acredito que é um ponto que tem que ser implementado porque não vejo problema na publicidade. Mas não vejo problema em implementar a destinação do orçamento de uma forma conjunta com a Câmara ou com o Senado, executada pelos ministérios dentro do teto de gastos, com responsabilidade fiscal. Ela pode ser interpretada como uma partilha da responsabilidade com o Parlamento. Porque quando a gente vai à base, às cidades, às vezes os representantes não conseguem chegar direto nos ministérios ou no Executivo, que seria o detentor desse recurso, então ele dá uma possibilidade ao parlamentar de também ajudar nessa destinação.
Falando sobre a composição política da Câmara, o senhor foi eleito pelo PL. Que posição vai adotar diante do governo Lula?
Para deixar bem claro e ser traçado um perfil do futuro deputado federal Samuel Viana, eu não gosto de radicalismo e militância de ambos os lados. Tenho um perfil mais do diálogo, da razoabilidade e da proporcionalidade. Não tenho problemas em dialogar, participar do debate. Se a gente entender que a decisão que está sendo tomada não é boa, pode ter certeza que vamos usar da fala, vamos usar do nosso mandato para discordar. Se for algo suprapartidário, com responsabilidade fiscal, pautas que são acima de qualquer situação, que são do povo, não tenho problema nenhum em votar e ser a favor independentemente de ela ser (votada) durante um governo em que não estarei na situação, eu estarei na oposição. Lembrando que a minha oposição é junto com o PL. Já posicionei isso pro Valdemar (Costa Neto). Trabalho em grupo. Mas não tenho o perfil de muitos parlamentares, inclusive os que foram eleitos por essa militância e esse esse formato de política.
O senhor apoiou a candidatura de seu pai ao governo de Minas, em disputa que foi vencida por Romeu Zema (Novo). Como é a relação do senhor com o governador e como espera trabalhar com o governo do estado?
Eu estive com o governador, acredito que duas ou três vezes em eventos focados no segundo turno. Ainda não tive a sua oportunidade de estar lá já falando do mandato, mas já conversei com uma pessoa por quem tenho também um carinho enorme, foi meu professor na faculdade, que é o Mateus Simões, nosso vice-governador eleito e já deixei claro o meu interesse e do senador de caminharmos juntos. O governador Romeu Zema é uma pessoa muito boa. É uma pessoa que eu admiro. Acho até que o próximo mandato pode ser histórico, porque agora ele já vai ter oportunidade de executar muitas coisas, então eu acredito que a gente vai ver um desenvolvimento diferenciado no estado. Talvez até batendo algum recorde aí. E é isso que a gente espera. Então, espero a partir de 2023 estar mais próximo não só dele mas também da Assembleia Legislativa. A gente não consegue fazer boa política, um bom mandato, sozinho.