Eleito para o quarto mandato como deputado federal por Minas Gerais, Padre João (PT-MG) diz estar esperançoso para os próximos quatro anos com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente da República.
Ao Estado de Minas, o congressista afirmou que o petista terá governabilidade para aprovar políticas públicas em prol da população. Em Minas, o deputado federal ressaltou que vai trabalhar em prol das comunidades quilombolas, focando na ascensão da agricultura familiar. Ele destacou, ainda, que os ideais esquerdistas não conflitam com os preceitos religiosos. Padre João acredita que a verdadeira religião e a autêntica política andam juntas.
Ao Estado de Minas, o congressista afirmou que o petista terá governabilidade para aprovar políticas públicas em prol da população. Em Minas, o deputado federal ressaltou que vai trabalhar em prol das comunidades quilombolas, focando na ascensão da agricultura familiar. Ele destacou, ainda, que os ideais esquerdistas não conflitam com os preceitos religiosos. Padre João acredita que a verdadeira religião e a autêntica política andam juntas.
Esta é uma das entrevistas da série que é publicada no jornal impresso, no portal em.com.br e no canal do YouTube do Portal Uai com os deputados federais eleitos por Minas Gerais para a próxima legislatura. Confira abaixo os principais pontos da entrevista do Estado de Minas com o deputado federal Padre João (PT-MG).
O senhor está indo para o seu quarto mandato agora na Câmara dos Deputados, já passou por diferentes governos. Que balanço o senhor faz desse seu período na Câmara dos Deputados e como o senhor enxerga os desafios para esse próximo mandato?
Na minha vida política, eu também tive dois mandatos de deputado estadual. Então, a gente iniciou em 2013, dois mandatos, depois fui para o (mandato) federal. O primeiro mandato da Dilma, eu iniciei junto (a ela) e foi um mandato de muitas conquistas. Ela foi uma pessoa, até de certa forma, injustiçada, porque foi quando a gente mais avançou com políticas e programas. Programas indo direto para os municípios. Avançamos muito com o Minha casa, minha vida, com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), patrulhas para agricultura familiar, acesso à água. Então, foi um momento muito importante para o povo lá na ponta. A continuidade do programa Luz Para Todos. (Foi) como o estado brasileiro conseguiu ir ao encontro do cidadão e daqueles que estavam mais distantes.
Já o segundo mandato da Dilma teve muitas dificuldades, porque dentro do próprio governo, já tinha uma outra concepção de estado que foi roendo o estado por dentro, foram negando, foram criando dificuldades. Porque, na própria economia, já tinha restrições a determinados direitos. Tivemos desafios na própria agricultura. Então foi um momento de conflito, a ponto de ter ministro que era deputado, atravessou a avenida e votou pelo impeachment. Então, foi um momento desafiador dentro de uma conjuntura política. Depois, com o (Michel) Temer, avança a tal PEC 241, que hoje é a Emenda Constitucional 95, do teto de gastos, que estão revendo agora, pelo menos para dar condições, uma certa governabilidade. A Reforma Trabalhista, (a Reforma da) Previdência, que é quando foi tirando poder dos sindicatos, da organização da classe trabalhadora.
Já no governo Bolsonaro, a minha avaliação é que o estado aniquilou mais ainda com cortes astronômicos na própria Saúde, em plena pandemia. O corte na Saúde, o corte na Educação, não reajuste na própria alimentação escolar, corte do acesso aos medicamentos. Muito difícil para o povo brasileiro. Temos mais de 120 milhões de brasileiros num determinado grau de insegurança alimentar e mais de 30 milhões em situação de fome mesmo. Acho que não teve uma área que a gente não teve retrocesso.
Mas há esperança. Acho que desde a eleição do Lula, se criou o novo cenário, de uma expectativa da macroeconomia, da macropolítica, ambiental, econômica, a relação com os outros países. Não foi uma coisa à toa tanto chefe de estado se manifestar de imediato na eleição do Lula. Então, há um novo cenário no Brasil e essa inserção do Brasil na política mundial.
Como o senhor avalia que será a relação do Lula com o Congresso Nacional?
Com otimismo. A partir da posse, o poder de negociação amplia. (A votação da PEC da Transição na Câmara dos Deputados) teve uma folga de mais de 20 votos. Eu acredito que vai ter governabilidade. Acho que é o mais importante. E uma governabilidade retomando programas sociais.
Dos mais de 85 mil votos que o senhor recebeu, quase um quarto deles vem da Zona da Mata e 15% das regiões Sul e Sudoeste de Minas. Quais são as ideias específicas que o senhor tem para essas regiões?
Um grande gargalo que tem na Zona da Mata é a tal MG280. É um lugar que não tem rodovia. É um trecho estadual, embora eu seja (deputado) federal. Mas a gente vai ter que buscar junto ao próprio governo federal uma parceria para o asfaltamento daquela região. Eu acho um absurdo a gente ter municípios, ainda de certa forma, isolados.
O nosso trabalho, de fato, é o fortalecimento da agricultura familiar, avançando com a agroecologia, produção orgânica, empoderando as comunidades quilombolas. A economia dos nossos municípios passa pela agricultura e pecuária. Temos que diversificar a produção de proteína, avançar na piscicultura.
É importante avançarmos mais na saúde pública, educação pública. A gente tem votos espalhados no estado inteiro, porque as nossas bandeiras de lutas são universais. Na Zona da Mata a gente tem atingidos também pela mineração. Então a gente quer lutar pela questão do meio ambiente. Já é uma luta que a gente vem fazendo, para que as atividades econômicas não sejam predatórias, sobretudo a atividade minerária. Ela tem (que ter) respeito com essa geração, com as gerações futuras e com o meio ambiente. Vamos atuar nas comissões específicas lá na Câmara Federal para fortalecer essas lutas.
Em relação às obras, como o senhor acredita que o governo estadual, que é mais privatista, vai lidar com o governo federal, que vai no sentido contrário das privatizações?
Eu acho que alguns trechos não têm volta. Se você pega a BR-040, (que está) em fase de concessão, e a gente percebe que tem até uma lentidão, porque está beneficiando determinadas empresas. Quanto mais demorar essa nova estação, (vai privilegiar) determinado grupo, que é uma coisa absurda. Estamos formalizando a denúncia no próprio Ministério Público Federal.
Agora, alguns (pontos) são estratégicos não privatizar, não conceder. Como o próprio Ceasa, que é abastecimento, segurança alimentar. A parte de rodovia, de infraestrutura, acho que cabe aprofundar um debate, cabe aprofundar no debate e a gente chegar, de fato, no entendimento, mas que não pode explorar o usuário, que não onere o usuário e tenha uma garantia de serviço com qualidade.
A questão é crítica na Região Metropolitana. O transporte tem que ser discutido enquanto transporte metropolitano e, em algumas áreas, o governo tem que intervir. Olha a BR-381 que tem lotes que estão parados. A BR-262 está buraco só. Como sobrepõe a BR-381 com a BR-262, então quando pega de João Monlevade até a divisa com o Espírito Santo, está um caos, não dá para trafegar. Essas concessões já em curso têm que avançar e o controle maior é que não onere o usuário, mas que dê garantia, segurança ao usuário.
Saímos de um governo que fez um uso muito forte da religião. O senhor, como padre, como vai balancear temas polêmicos de interesse do Estado brasileiro, como o aborto, com as questões religiosas?
Eu acho que não vai ter esse conflito. Isso é um oportunismo que só (acontece) em campanha (eleitoral). Eles trazem esse tema só em campanha porque sabem da simplicidade do nosso povo, que eles conseguem manipular, deturpar alguma fala.
A gente não vai ter dificuldade, pois o Lula tem compromisso com a saúde pública. Temos que reestruturar bem o SUS, ter políticas e programas que cuidem, de fato, das mulheres, das crianças. Já temos leis claras que permitem o aborto em determinada circunstância. É mais uma maneira de atacar num oportunismo eleitoreiro, do que esclarecer o nosso povo dos seus direitos e confundir a questão religiosa com a política.
A verdadeira religião promove a vida, a verdadeira religião garante a dignidade. A autêntica religião também não conflita com a verdadeira política, porque a própria política também é para promover a vida. A palavra política é o cuidado com o bem comum, o cuidado com a cidade. O Lula sempre falou que é católico, sempre falou que, pessoalmente, é contra o aborto. Porém, ele disse que a questão do aborto é uma questão de saúde pública. A mulher pobre, às vezes, faz aborto em casa, enquanto aquela que, às vezes, até frequenta a igreja, mas tem muito dinheiro, vai para fora do país e faz o aborto.