O reitor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Janir Alves Soares, publicou, no Instagram, uma série de conteúdos simpáticos à ação de terroristas que depredaram prédios públicos em Brasília (DF), ontem. Nesta segunda-feira (9/1), a deputada estadual mineira Beatriz Cerqueira (PT) pediu, ao ministro da Educação, Camilo Santana, a exoneração do reitor.
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O perfil de Janir no Instagram mistura fotos de momentos particulares, registros da atuação como reitor e materiais de apoio a Bolsonaro - e críticas ao PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No vídeo publicado ontem, minutos após o início da invasão ao Congresso, ao Palácio do Planalto e à sede do Supremo Tribunal Federal (STF), ele celebra a ação golpista, que terminou em vandalização do patrimônio público.
"Há poucos minutos, o povo assumiu o comando do Congresso Nacional, de uma maneira pacífica. Hoje, nós tivemos a sensibilização, inclusive das pessoas responsáveis pela guarda do Congresso, pois entenderam que esta Casa é do povo - e o povo quer o respeito às leis e a manutenção do Estado e da ordem", festeja.
Na gravação, Janir lembra o bloqueio da BR-367, em Diamantina, no Jequitinhonha. A paralisação do fluxo de veículos na rodovia ocorreu no início de novembro passado, dias após a vitória de Lula sobre Bolsonaro ser proclamada.
"Este é o Brasil que nós queremos deixar para os nossos filhos e netos. Me orgulho de ser brasileiro e lutar por esta pátria. Parabéns a todos que não desistiram, ao longo de 68 dias de luta, de trabalho e de defender as cores da nossa bandeira", pontua, antes de recorrer ao lema "Deus, Pátria, Família e Liberdade", utilizado por Bolsonaro ao longo da campanha eleitoral do ano passado.
Em outra postagem, ele exime pessoas que chama de "patriotas" da responsabilidade pelos danos causados aos edifícios invadidos. Sem provas, o reitor atribui as depredações a "infiltrados".
Deputada fala em 'atentado à democracia'
No ofício em que pede a exoneração de Janir Alves Soares, Beatriz Cerqueira chama a postura do docente de "atentado à democracia". Além de reitor, ele é professor-titular da UFVJM, que têm unidades em Diamantina, Teófilo Otoni, Unaí e Janaúba.
"A partir do momento em que o senhor Janir sente-se autorizado a apoiar direta ou indiretamente de atos que afrontam a vontade soberana da população manifestada nas urnas, demonstra, que adotou um comportamento contrário aos princípios mais básicos do regime republicano, que é o único no qual as Universidades podem funcionar de forma livre", protesta a deputada.
Para a petista, a conduta do reitor conflita com o comportamento exigido aos chefes de instituições públicas. "As universidades são o espaço da democracia e do diálogo e devem ser as instituições republicanas mais importantes de qualquer Estado e que existem no contexto de uma sociedade livre e democrática", alega.
As postagens de Janir Alves Soares irritaram, também, representantes da União Nacional dos Estudantes (UNE). "Essa é uma postura inadmissível de um funcionário do Estado, principalmente por exercer o cargo de reitor de uma universidade pública, mesmo que seja um interventor", queixou-se Diego Carlos Ferreira, mineiro que ocupa a Diretoria de Universidades Públicas da entidade estudantil.
Doutor Jean Freire, outro deputado estadual do PT, também quer o afastamento do reitor. Ele pediu à Mesa Diretora da Assembleia o envio, a Camilo Santana, de um requerimento sugerindo a saída do dirigente universitário. Para Freire, houve, ontem, um "agravamento" da postura adotada por Janir.
Reitor pediu apoio da PM para bloqueio de estradas
Em novembro, Janir chegou a pedir apoio da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) no fechamento de estradas do estado. A ideia era obstruir as vias e, assim, viabilizar protestos contra o triunfo eleitoral de Lula.
À época, Beatriz Cerqueira e o deputado federal Rogério Correia (PT) pediram apuração do Ministério Público Federal (MPF) sobre a conduta do reitor.
Nas redes sociais, há fotos do professor da UFVJM com políticos à direita, como as deputadas federais Carla Zambelli (PL-SP) e Bia Kicis (PL-DF).
A reportagem acionou a UFVJM a fim de obter um posicionamento do reitor sobre as publicações e o pedido de exoneração. Em e-mail enviado à reportagem, Janir apontou, sem provas, a existência de fraude no resultado do pleito do ano passado e reiterou a acusação a respeito da existência de "infiltrados" responsáveis pelo quebra-quebra visto na capital federal.
"Na qualidade de cidadão livre e perante o estado democrático e de direito, apoio a pauta de um grupo de cidadãos, pais de família, pessoas que trabalham, produzem, pagam impostos, que são ordeiras e defendem a vida e a liberdade com responsabilidade. Essas pessoas são definidas como Patriotas. Estamos indignados com a omissão do Congresso Nacional e com o ativismo político do Judiciário perante as eleições de outubro de 2022. Muitas dessas pessoas estiveram, por aproximadamente 68 dias, manifestando em frente a diversos quartéis deste país, pedindo justiça, esclarecimentos, ordem", afirmou ele.
Sobre o pedido de afastamento feito por Beatriz Cerqueira, o docente disse ter "consciência" dos direitos que a Constituição Federal garante aos cidadãos. "Toda acusação deve obedecer o devido processo legal. Digo isso se, de fato, ainda estivermos no Estado Democrático e de Direito", defendeu.