Jornal Estado de Minas

Atos antidemocráticos

Reitor de MG responde a processo por assédio moral contra servidor

O reitor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Janir Alves Soares, conhecido por gravar um vídeo em apoio à invasão por golpistas ao Congresso Nacional, no domingo (8/1), enfrenta processo por assédio moral movido por um servidor. 





O autor da ação, o técnico administrativo da institutição Felipe Imidio Santos, foi expulso pelo reitor de um evento no auditório da reitoria, para o qual, como servidor público federal, havia sido convidado. 

Segundo Felipe, após chegar e se sentar, foi abordado pelo reitor, dizendo que ele não havia sido convidado, mas que o deixaria ficar "desde que se comportasse". 

"Não entendi nada, mas fiquei incomodado com a situação e apenas respondi que, como servidor da UFVJM, tenho conhecimento das normas de conduta. Pensando que a questão estava superada, comecei a mexer no meu celular” relatou o servidor, que que integra o Conselho Universitário (Consu) e o Conselho de Assuntos Comunitários e Estudantis (Cace), como representante dos funcionários.

Pouco tempo depois, e sem que nenhum fato novo tivesse ocorrido, Janir acionou o chefe de segurança patrimonial da universidade e, juntos, 
se aproximaram do servidor ordenando que ele se retirasse do local.





Felipe conta que questionou Janir se estava sendo expulso do evento, e a resposta foi positiva. De acordo com o servidor, para evitar mais transtornos decidiu sair, "completamente humilhado, constrangido e devastado", acompanhado pelo chefe de segurança. 

“Fui o único expulso do lugar”, afirmou. "Sempre sofri humilhações por parte dele, diariamente. Nunca fiz nada, porém, depois desse incidente, acionei Janir Alves na Justiça por assédio moral." O processo judicial está em tramitação.
O professor e diretor de uma unidade acadêmica da UFVJM, que prefere não se identificar por temer perseguição por parte do reitor, conta que precisou de afastamento psiquiátrico devido ao assédio moral que sofria de Janir. Revela que “ele agride, trata de forma truculenta na frente de qualquer pessoa. Ele chegou a dizer que eu tinha limitação de inteligência. Isso te mata por dentro.”





Ele relata, ainda, que, nas reuniões do Conselho Universitário, nada se consegue aprovar, pois o reitor faz manobras administrativas e impede o andamento do processo. 

Reitor tem postura antivacina

O professor aponta que Janir sempre adotou uma postura antivacina durante a pandemia de COVID-19 e dizia que solicitar vacina para os estudantes era ilegal. Entre as manobras administrativas promovidas por ele, segundo o docente, foi portergar a decisão e deixar de votar a exigência do passaporte de vacina na universidade. 
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"O pensamento de extrema-direita foi evidenciado na campanha eleitoral do ano passado", destaca o professor. O reitor Janir Soares usou a reitoria da universidade para gravar um vídeo de apoio ao então candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), desqualificando o opositor, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Nem mesmo os estudantes escapavam da atuação do reitor. Suellen Oliveira, graduada em Pedagogia e mestre em Ciências Humanas, nem acreditou quando, no início de 2022, conseguiu enfim se formar no mestrado da UFVJM, onde estudou por oito anos. 





A ex-aluna conta que, em sua atuação como representante dos estudantes  sendo membro de vários conselhos e organizações estudantis, e, por diversas vezes, divergente aos interesses de Janir Soares, passou a ser perseguida administrativamente por ele.
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Suellen recorreu em duas situações, que, no entanto, tiveram seus questiionamentos negados pelo reitor. Por fim, precisou até mesmo de ajuda financeira para custear a tramitação de uma Medida de Segurança a fim de garantir a sua colação de grau e diplomação.

Segundo a ex-aluna, foi somente na gestão de Janir Soares que sofreu represálias em resposta à sua atuação questionadora e de luta pelo bem coletivo, comportamento que incomodou politicamente a reitoria.





De acordo com Suellen, a conduta do reitor a adoeceu psicologicamente. "Foi profundamente doloroso. A doença atrapalhou meu rendimento acadêmico na graduação e no mestrado." 

Ela recorda ter testemunhado colegas e servidores sofrendo algum tipo de represália e adoecendo por causa disso. "Um desgaste que enfraquece a Universidade enquanto instituição."

Nota em defesa da democracia

Na terça-feira (10/1), os diretores de 11 faculdades que integram a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)  divulgaram nota à comunidade acadêmica e à sociedade em repúdio ao ato golpista realizado em Brasília no domingo (8/1).

Segundo a nota, "a postura do dirigente máximo da UFVJM, Janir Alves Soares, é totalmente desaprovada pelos diretores".

O professor e diretor da Faculdade de Medicina do Mucuri, João Victor Leite Dias, explica que a divulgação da nota era de extrema importância e necessária, "justamente para separar as convicções do reitor das dos outros membros da comunidade acadêmica". 





“A nota expressa que não comungamos do mesmo posicionamento do reitor, sabemos bem a posição do reitor da universidade, nomeado pelo presidente anterior, apesar de ele ter sido o último colocado na lista tríplice, não tendo obtido nem 7% dos votos da comunidade acadêmica”, destaca João Victor. 

“O próprio Janir se manifestou contrário ao processo eleitoral, foi e promoveu atos antidemocráticos, sem qualquer pudor, postando em suas redes sociais, nas quais se identifica como reitor."  

A reportagem tentou contato com o reitor Janir Alves Soares na ubiversidade, sem sucesso. Caso ele ou a instituição se manifestem, esta matéria será atualizada. 

Confira a nota na íntegra:


Nota divulgada pelos diretores das faculdades desaprova atitude do reitor (foto: Reprodução)