As cidades de origem dos ônibus que estão sendo investigados após os atos golpistas do último domingo (8) votaram majoritariamente em Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais.
O ex-presidente recebeu uma média de 61,6% dos votos válidos nos municípios em que ficam localizadas as empresas donas dos veículos, enquanto no país como um todo seu resultado foi de 49,1%.
Horas depois da invasão dos edifícios dos Três Poderes, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes determinou a apreensão de 85 ônibus que haviam chegado a Brasília nos dias anteriores.
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Em Londrina (PR), por exemplo, origem de cinco dos ônibus, o ex-mandatário recebeu 72,9% dos votos em outubro. Em Goiânia, matriz de quatro veículos, ele teve 63,9%. A maior votação proporcional, porém, foi no município catarinense de Pomerode, de 35 mil habitantes (80,5%).
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Grande parte das cidades que abrigam essas empresas é pequena e fica no interior: metade registrou menos de 100 mil votos válidos no último pleito, por exemplo.
O estado de São Paulo é o que concentra o maior número de emplacamento desses ônibus (35). Depois vem o Paraná (22), seguido de Minas Gerais (11) e Goiás (5).
As únicas nove cidades que estão na listagem e onde Lula venceu as eleições são a capital paulista, Mauá, Cubatão, Osasco e Embu das Artes (SP), Juiz de Fora (MG), Bituruna e Imbaú (PR) e João Pessoa (PB).
A lista de Moraes inclui apenas os ônibus identificados pela Polícia Federal até domingo, e a matriz das empresas pode não coincidir com os lugares de onde os veículos partiram, mas é comum que eles levem passageiros da região de suas garagens.
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Os proprietários dos transportes apreendidos, bem como os seus financiadores, estão sendo identificados e ouvidos pela PF no curso do inquérito que corre no STF. Até agora, 1.159 pessoas foram presas e encaminhadas ao complexo penitenciário da Papuda.
Moraes determinou no domingo que os donos dos ônibus apresentassem, em 48 horas, "a relação e identificação de todos os passageiros, dos contratantes, inclusive apresentando contratos escritos caso existam, meios de pagamento e quaisquer outras informações".
Algumas das empresas que responderam ao contato da Folha de S.Paulo nesta terça (10) negaram ter relação com os atos golpistas e disseram que normalmente não sabem qual é o motivo das viagens contratadas.
Bolsonaro tenta se desvincilhar dos atos violentos golpistas. No dia do ataque em Brasília, ele escreveu, dos Estados Unidos, que invasões e depredações de prédios públicos "fogem à regra". Também comparou a prática à atuação da esquerda e repudiou acusações de Lula contra ele.
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O ex-presidente, porém, atiçou atos antidemocráticos de seus apoiadores desde que perdeu o pleito. Na semana da derrota, em declaração rápida, ele disse defender as manifestações, apenas condenando o bloqueio de estradas.
Depois, quebrou um silêncio de 40 dias com um discurso dúbio salpicado de referências às Forças Armadas, repetiu a retórica de campanha e estimulou indiretamente seguidores que contestavam a vitória de Lula.