Jornal Estado de Minas

ENTREVISTA

Roberto Andrade: 'Desafio é conseguir que projetos cheguem ao Plenário'


O deputado estadual Roberto Andrade (Patriota), líder do governador Romeu Zema (Novo) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e reeleito para o terceiro mandato, se colocou à disposição para a disputa da eleição da presidência da Casa. O pleito é feito a cada dois anos e deve ocorrer em fevereiro, após a posse dos 77 parlamentares escolhidos pela população mineira. O atual presidente, Agostinho Patrus (PSD), foi eleito conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e já está nomeado por Zema para a vaga. Em entrevista ao Estado de Minas, Andrade defendeu a harmonia e a independência da Assembleia, falou sobre a relação entre os poderes e elencou os principais desafios para os próximos anos.



“Nós queremos a plenitude do artigo 6 da Constituição de Minas, que os poderes são independentes e harmônicos. A Assembleia tem uma independência que é intocá- vel e inquestionável. Agora, a parte da harmonia ela não existiu e nós queremos essa plenitude. Vamos lutar por essa segunda parte porque é bom para o governo, para a Assembleia e principalmente para Minas Gerais e para os mineiros”, afirmou.

Natural de Viçosa, na Zona da Mata de Minas Gerais, Roberto Andrade é empresário do ramo da construção civil e deputado estadual desde 2015. Ele esteve no PSB até 2020, quando se transferiu para o Avante. No ano passado, foi para o Patriota, sua sigla atual. Na Assembleia, presidiu a Comissão de Desenvolvimento Econômico.

Quais os principais desafios da Assembleia nos próximos quatro anos?
O governador foi reeleito, somos da base do governo e temos uma Assembleia praticamente de oposição, principalmente por parte do presidente, nos últimos dois anos do mandato dele. Isso impediu que muitos projetos tivessem tramitação aqui. O desafio dos próximos quatro anos é que a Assembleia e os deputados consigam que os projetos cheguem ao Plenário e sejam discutidos.



Nós temos 28 projetos do governo do estado que não saíram nem da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Então, o principal desafio é que os 77 deputados tenham a oportunidade de apreciar, aprovar ou não, os projetos do governo. Seja onde a gente estiver, queremos participar desta construção para que os projetos não sejam engavetados. Além disso, nós temos centenas de projetos dos deputados, que ficaram parados em função desse travamento de pauta constante aqui na Assembleia. Também temos o desafio da manutenção das conquistas, como o Assembleia Fiscaliza, que foi um avanço. 

Como é a relação enquanto líder de go- verno na ALMG e qual o papel entre os Poderes?
Quando eu assumi a liderança do governo, eu falei que precisava de uma reunião com o governador e com todos os secretários do primeiro escalão. Outro dia, quando vi a reunião do Lula com os ministros, eu brinquei que ele assistiu à minha porque ele falou exatamente o que eu disse: vocês precisam me ajudar a ajudar o governo a ter um bom relacionamento na Assembleia, porque o entendimento dos secretários com os deputados tem sido muito ruim.

Os secretários continuam sendo técnicos, mas começaram a entender que tem que ter essa questão da importância de atender bem os deputados, porque o deputado conhece bem a região dele, que leva a demanda. Então, o deputado, além de ter uma função legislativa e de fiscalização, ele também representa e é muito cobrado na região dele. Às vezes, ele é cobrado como a solução de tudo na cidade, saúde, educação. Os deputados precisam dessa relação com os secretários e então eu mesmo tive que intervir de vez em quando para construir essa relação. 




O deputado estadual Roberto Andrade é natural de Viçosa, no Sul de Minas (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Como o senhor avalia que vai ser a relação do governador Romeu Zema com a Assembleia?
Estamos com uma expectativa de que ele vai continuar fazendo um bom governo. Ele aprendeu a fazer política, entendeu o que é política. Porque nós tivemos um grupo de pessoas competentes, bem-intencionadas, mas que não tinham a menor experiência, que não sabiam o que era política e que assumiram pensando uma coisa e depois viram que no dia a dia da política era outra, que o relacionamento com a Assembleia era completamente diferente e elas tiveram que mudar esse trato com o mundo político. O governo não tinha essa experiência e esse entendimento. 

Ao menos desde 2003, não há dois candidatos a presidente da Assembleia em uma mesma eleição. Qual a importância dessa via única?
A importância de fazer uma chapa única é que a gente consegue contemplar todos os partidos para a composição da Mesa Diretora. O presidente para um partido, o vice de outro, e assim por diante. Quando há disputa, os partidos da chapa que perdeu não vão participar. Então, quando há um consenso, existe a oportunidade de construir e os trabalhos já começam com um clima melhor para a formação das comissões. Existem algumas, por exemplo, que são mais importantes para determinados partidos, como a de Educação é para o PT. Tudo isso é conversado e, às vezes, abre-se mão de uma comissão para determinado bloco. Estamos conversando para ver se a gente consegue construir esta chapa única, ainda não descartamos esta possibilidade. Ainda faltam 20 dias.

Caso seja eleito presidente, qual será a postura do senhor e quais as suas propostas?
Como presidente, a gente vai ter que fazer algo parecido, mas de uma maneira diferente. A gente tem que separar o que é líder de governo, que eu tenho uma função na qual eu represento o governo, e como presidente da Assembleia eu representaria 77 deputados. É completamente diferente. Sendo eleito, eu vou presidir um poder. Então, a minha conversa e a minha defesa na Assembleia vão ser dos deputados, e não do governo. Naturalmente, a gente vai ser cobrado e também há a relação com os outros poderes, como o Judiciário. Temos que impor a Assembleia como um poder que deve ser respeitado.



Se eu for presidente da Assembleia não vai ter gaveta, nem dos projetos dos deputados nem dos projetos do governo. O que for constitucional vai para o Plenário, que é a instância máxima. Os 77 deputados são soberanos, não é o presidente não. Caso eu seja eleito, também pretendo voltar com a Assembleia para o interior, fazer audiências para discutir determinados problemas, em um hospital ou universidade, por exemplo. Quando faz aqui, tem que vir o prefeito, o presidente da Câmara, o diretor da instituição.

Já quando acontece na cidade, a gente junta mil pessoas. Então, a Assembleia tem que se voltar para o interior. Fazer audiências públicas na área de saúde, de educação. Discutir o problema de uma estrada lá onde ela está passando.

A oposição tem reclamado da judicialização de alguns projetos, como a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal, que foi para o Supremo Tribunal Federal (STF). O senhor teme que essas idas à Justiça atrapalhem a harmonia entre os parlamentares?
Se você tem um projeto que desde 2019 está parado na Comissão de Constituição e Justiça e ele não é nem apreciado, não tem outro caminho. O governador não tinha nem alternativa, porque ele estava com a faca no pescoço, inclusive na dívida do estado. Então, ou ele sinalizava que o projeto do Regime de Recuperação Fiscal estava caminhando na Assembleia ou ele judicializa. Foi uma questão de sobrevivência. Assim como no pedido de urgência, ele não tinha outra alternativa. 





Como o senhor analisa os ataques ocorridos em Brasília em 8 de janeiro?
Esse ambiente do Brasil, dessa polarização de esquerda e direita, tomou um rumo que eu vejo que são meia dúzia de radicais, tanto de um lado como do outro, que estão fomentando essas coisas e criando esse clima ruim para o país. Foi uma afronta à democracia, mas teve muito inocente que foi usado e manipulado para entrar ali naquela idiotice.

Uma hora eles vão respeitar as urnas. Eu acho que o Lula foi muito feliz na fala dele com os governadores, de que ele vai conversar com todos, independentemente do partido, mas que também quer que os governadores respeitem o resultado da eleição e da vitória dele.