O ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Fábio Augusto Vieira afirmou, em depoimento prestado à Polícia Federal, que não recebeu ordens para impedir o deslocamento dos bolsonaristas à Esplanada dos Ministérios, ação que possibilitou a invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, no último domingo (8/1). Ele ainda revelou que o Exército teria impedido a prisão de golpistas pela PMDF.
Fábio foi exonerado um dia após os atos e foi preso na terça-feira (10/1), por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. No depoimento, obtido pela CNN, o policial militar declarou que o setor de inteligência apontava que não havia indicativo de ações violentas no ato — que já era esperado pelos órgãos de segurança pública. O PM afirma que, mesmo durante escolta policial realizada na descida dos bolsonaristas até a Praça dos Três Poderes, “não havia indicativo de desordem ou violência”.
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Imagens inéditas das câmeras de segurança mostram destruição em BrasíliaVídeo mostra homem com camisa de Bolsonaro quebrando relógio de Dom João VIAutores de ameaça de bomba no Aeroporto de Brasília viram réusJanja diz que golpistas levaram conjunto de prata do PlanaltoOutro ponto levantado por Fábio Augusto para afirmar não ter responsabilidade quanto à invasão e depredação da Praça dos Três Poderes, foi ser comunicado, “apenas na madrugada de sábado (7/1)”, sobre a chegada de novos ônibus de bolsonaristas em Brasília. “Até então, a inteligência havia identificado poucos veículos, o que corroborava a informação de uma reunião sem indicadores de violência”, diz o depoimento.
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Ao saber do maior fluxo de bolsonaristas na capital, o ex-comandante questionou o comando operacional responsável pela ação de monitoramento dos atos e foi informado que “o contigente era suficiente” para manter a ordem.
O policial também apontou erros na segurança da Praça dos Três Poderes: o gradil, que é responsabilidade do Congresso Nacional, estava posicionado de maneira errada e “não havia contingente suficiente da Polícia Legislativa e não havia policiamento suficiente no Planalto, que é de responsabilidade do Exército”.
Durante a invasão, Fábio afirmou ter agido de maneira enérgica e ter, ele próprio, se envolvido na contenção dos golpistas. Ele disse ter sido “ferido em combate com vândalos” e entrado “em luta corporal com manifestantes”, além de determinar “a detenção de todos”.
As trocas de comando na PMDF, realizadas pelo ex-secretário da Segurança Pública Anderson Torres, também foram apontadas por Fábio como um fator que dificultou “o fluxo de informações” para o comando da PM, antes dos atos ocorrerem.
Exército impediu prisões de golpistas e desmonte de acampamento bolsonarista
O ex-comandante da PM revelou que, após a contenção dos golpistas, o Exército tentou impedir os agentes da polícia militar de realizar as prisões dos criminosos.
A intervenção do Exército não foi inédita, de acordo com Fábio: por três vezes soldados impediram a PMDF de desmobilizar o acampamento bolsonarista instalado em frente ao quartel general do Exército.
O policial disse que “chegou a mobilizar 500 homens com objetivo de acabar com o acampamento”.