O industrial do setor têxtil Josué Gomes não será mais presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo). A destituição do empresário foi aprovada em uma assembleia realizada nesta segunda-feira (16/1), no 15º andar do prédio da avenida Paulista, em São Paulo.
Nem a sinalização de prestígio político de Josué, que recebeu nesta segunda o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços Geraldo Alckmin (PSB), e o ex-presidente Michel Temer (MDB), para a reunião da diretoria da entidade, o salvou da degola.
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Segundo pessoas presentes na reunião, ele deixou a assembleia depois que a maioria dos presentes considerou que suas respostas aos questionamentos apresentados pela oposição não eram satisfatórias. O placar ficou em 24 votos a favor dos argumentos dele, e 62, contra.
A votação que decidiu por sua abstenção começou depois que um advogado ligado à oposição confirmou que os sindicatos poderiam seguir com a assembleia mesmo depois de o presidente ter se retirado. Isso porque ele não encerrou a plenária.
Josué Gomes
Josué Gomes ficou um ano no cargo e substituiu Paulo Skaf Josué Gomes da Silva assumiu a presidência da Fiesp em janeiro de 2022, após uma eleição vista como uma espécie de saída negociada de seu antecessor, Paulo Skaf, que ficou no cargo por 17 anos.
Quase dois anos antes de um processo eleitoral atravessado por polêmicas -o grupo liderado por José Ricardo Roriz, da indústria plástica acusou o processo de ser atropelado, inviabilizando a formalização de sua chapa-, Skaf havia anunciado que não seria candidato a um quinto mandato.
No início de 2020, o então líder da entidade da indústria paulista começava a se movimentar para aprovar uma mudança no estatuto da federação que permitisse uma nova reeleição. Desde sua primeira eleição, em 2004, ele havia aprovado duas mudanças no regimento da federação.
Depois que a movimentação se tornou pública, Skaf acabou recuando e anunciou quem teria seu apoio na disputa no ano seguinte, em 2021: o empresário Josué Gomes, filho de José Alencar (1957-2011), vice nos dois primeiros mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, e presidente da indústria têxtil Coteminas.
A escolha surpreendeu pelo perfil político dos dois.
Skaf estava à frente da Fiesp quando a federação instalou um gigante pato inflável em frente ao prédio da avenida Paulista contra a alta de impostos e o retorno da CPMF em 2015. O pato foi uma espécie de personagem no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Em 2019, já durante o governo Jair Bolsonaro (PL), Skaf se aproximou do então presidente. A Fiesp passou então a ser vista como uma entidade bolsonarista.
Josué, por outro lado, chegou a ser conhecido como o "menino do Lula". Em 2018, quando ainda era filiado ao PR, mesmo partido de seu pai, o empresário era disputado por partidos à esquerda e à direita e era visto como um vice dos sonhos. Ciro Gomes (PDT) foi um dos que tentou atraí-lo para uma chapa.
Além de ter recursos próprios para financiar uma campanha eleitoral, Josué tem interlocução com o mercado financeiro e apoio em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país. Na época, ele dizia que não seria candidato pois, à frente da Coteminas, passava muito tempo fora do Brasil. Em 2014, foi candidato ao Senado por Minas Gerais, mas não se elegeu.
Fiesp
Na Fiesp, em 2021, Josué Gomes recebeu 97% dos votos. No anúncio do resultado, ele afirmou: "Suceder Skaf na presidência já é um desafio enorme, especialmente nesse momento, que pela primeira vez em mais de várias décadas, a indústria de transformação apresentou participação no PIB inferior ao da agropecuária."
Uma das primeiras medidas tomadas por Josué Gomes no comando na Fiesp foi a criação de conselhos superiores, em uma sinalização de descentralização das decisões.
Em outra diferença no estilo de gestão, Josué Gomes é avesso a entrevistas e aparece pouco em público. Ainda assim, o novo presidente da Fiesp, em uma de suas poucas entrevista a jornalistas, fez críticas a Bolsonaro, marcando um novo momento político da entidade. No início de seu mandato, a Fiesp criticou o aumento da taxa básica de juros e defendeu a necessidade de "pensar além do Copom".
O novo estilo de gestão não agradou a todos. Presidentes de sindicatos, acostumados à facilidade de acesso com Skaf, frequentemente presente em almoços na entidade e fora dela, estranharam o jeito do novo presidente. Havia ainda insatisfação com a ocupação dos departamentos, tradicionalmente liderados por nomes indicados pelos sindicatos.
O choque culminou na articulação de um pedido de assembleia extraordinária cujo objetivo final era pressionar Josué Gomes a abrir mão do cargo.