Um dos três acusados de tentar explodir uma bomba em Brasília em 24 de dezembro, o blogueiro bolsonarista Wellington Macedo de Souza foi candidato a deputado federal nas últimas eleições pelo PTB em São Paulo e escolheu a empresa de um dirigente da própria legenda para prestação de serviços de campanha.
Ele se apresentou na urna como Jornalista Wellington Macedo e adotou o slogan de "preso político". Macedo já teve cargo no governo de Jair Bolsonaro (PL) e acumula processos e prisão por causa de manifestações golpistas e violentas. Antes, produzia inúmeros conteúdos no Ceará contra grupos políticos.
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Roberto Jefferson comanda o PTB. O ex-deputado bolsonarista foi preso após atirar granadas e disparar tiros de fuzil em policiais federais em outubro passado.
A legenda foi procurada, mas não respondeu à reportagem. Ronzani, dono da empresa contratada, negou qualquer irregularidade. A reportagem procurou Macedo por email e telefones, mas não obteve respostas. Ele está foragido. A reportagem não conseguiu contato também com sua defesa.
Na eleição, ele obteve apenas 1.118 votos e não foi eleito. Na terça-feira passada (10), se tornou réu em ação no Tribunal de Justiça do Distrito Federal pela tentativa de explodir uma bomba em um caminhão de combustível próximo ao aeroporto de Brasília. Também são processados Alan Diego dos Santos e George Washington de Oliveira Sousa.
Este último foi preso e disse que a explosão seria para "dar início ao caos" que levaria à "decretação do estado de sítio no país", o que poderia "provocar a intervenção das Forças Armadas".
Em 2019, Wellington Macedo foi nomeado assessor no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, na gestão de Damares Alves, eleita senadora pelo Republicanos no DF. Ele foi lotado na Diretoria de Promoção e Fortalecimento dos Direitos da Criança e do Adolescente no ministério, com salário de R$ 10.373,30, segundo o Portal da Transparência.
Sua permanência no cargo se deu entre janeiro e outubro daquele ano. Em publicação nas redes sociais, Damares negou que ele tenha sido seu assessor direto e disse repudiar "tentativas levianas de associar minha imagem às ações dele e/ou do grupo ao qual faz parte".
Em setembro de 2021, Macedo foi preso pela Polícia Federal no âmbito do inquérito aberto para investigar a organização de manifestações violentas no feriado de 7 de Setembro. Ele incitava invasão do STF (Supremo Tribunal Federal), o que acabou por ocorrer em 8 de janeiro deste ano.
O blogueiro cumpria, desde outubro de 2021, prisão domiciliar e estava de tornozeleira eletrônica. Por causa dessa prisão, ele passou a ser apontado como injustiçado por bolsonaristas, o que fez com ele que ele adotasse o slogan de "preso político" na campanha.
A PF tem registros de que ele também participou de tentativa de invadir a sede da corporação em Brasília, em 12 de dezembro, quando veículos e ônibus foram incendiados diante de uma tímida reação da Polícia Militar do Distrito Federal. Ninguém foi preso na ocasião.
Segundo informações da PF, ele rompeu a tornozeleira no dia 25 de dezembro --um dia depois da tentativa de explosão de um caminhão. Reportagem deste domingo (15) no programa Fantástico, da Rede Globo, cita que o monitoramento da tornozeleira permitiu à polícia refazer os passos do grupo na noite em que plantou a bomba no veículo.
Macedo era ativo nas redes sociais, com chamamentos a protestos antidemocráticos, alusões a um golpe militar e organização de caravanas para atos. Em 2019, participou da posse de Bolsonaro e --segundo relatos, tinha atuação afinada com o chamado gabinete do ódio, grupo que distribuía ataques e notícias enganosas.
Na declaração de bens enviadas à Justiça Eleitoral, Macedo mencionou ter apenas um carro no valor de R$ 78 mil.
Na eleição de 2022, os R$ 175 mil recebidos por Macedo d o diretório do PTB representaram o oitavo maior valor entre 148 candidaturas beneficiadas. Ele ainda foi destinatário de mais R$ 50 mil da direção nacional da legenda.
Os R$ 99 mil repassados para a empresa do dirigente do PTB representam 44% de todo valor gastos com fornecedores. À reportagem Roberto Ronzani, dono da empresa, diz que se reuniu algumas vezes com Macedo a partir de indicação de um integrante do partido, que ele diz não se lembrar quem, e que o trabalho foi realizado e dentro da legalidade.
O valor teria sido gasto com materiais impressos. Ronzani encaminhou à reportagem imagens de panfletos impressos com o rosto de Macedo, de Bolsonaro e de Tarcísio de Freitas (Republicanos), atual governador de São Paulo e ex-ministro de Bolsonaro.
O empresário é presidente do PTB em Guarulhos desde março de 2021. Também é membro do diretório estadual da legenda em São Paulo.
A ALK está situada no bairro Jardim Pinhal, no mesmo endereço da sede do partido em Guarulhos, comandado atualmente por Ronzani. Os emails da empresa e do diretório do PTB também são iguais e levam o apelido do empresário, conhecido como Roberto Pezão.
Segundo dados da Junta Comercial de São Paulo, a ALK foi fundada em 2018 e tem capital social de R$ 10 mil. O empresário e político diz fazer materiais de campanha desde 2004.