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Estado de Minas DOCUMENTO OFICIAL

DF: Governo fez petição ao STF para retirar acampados do QG, antes da posse

Documento de 27 de dezembro, no entanto, não foi enviado. José Múcio teria descartado medida


19/01/2023 18:02

Documento
Documento oficial pede autorização judicial para entrar na área de jurisdição do comando do Exército e desmontar o acampamento bolsonarista no QG em Brasília (foto: Reprodução)
Existe um documento oficial elaborado pelo Governo do Distrito Federal para o ministro Alexandre de Moraes, do STF, em que pede autorização judicial para entrar na área de jurisdição do comando do Exército e desmontar o acampamento bolsonarista no QG em Brasília. A petição, que o blog Capital S/A, do Correio Braziliense, teve acesso, foi elaborada na noite de 26 de dezembro e inserida no Sistema Eletrônico de Informações (SEI) do GDF, no dia 27,  às 11h19 da manhã, pelo histórico registrado. E lá continua, conforme apurou o blog.

Reunião no Buriti


Naquela mesma manhã, do dia 27, o governador Ibaneis Rocha recebeu Flávio Dino e José Múcio no Palácio do Buriti, na condição de futuros ministros da Justiça e da Defesa do presidente eleito Lula. Dino levou a grande preocupação que tinha com a segurança da cerimônia de posse no dia 1o de janeiro. Segundo a blog apurou, Ibaneis disse a eles que iria fazer uma ação mais enérgica com o DF-Legal. E foi mencionado também que seria enviado o pedido de autorização judicial a Moraes para que a PM pudesse entra lá e realizar uma operação de desmonte.

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Freio


Dino teria gostado das ações. Mas Múcio, na reunião a portas fechadas, teria pedido a Ibaneis que não fosse feito nada naquele momento. Teria afirmado que "tais providências não seriam necessárias", por já ter informações do Exército de que o acampamento, de forma voluntária, seria desfeito no dia 29 de dezembro. O que não aconteceu.

Nova tentativa


Diante da permanência do acampamento no QG, o GDF, por meio da Casa Civil, atualiza a petição, que já estava inserida no Sistema, mas não tinha sido enviada a Moraes. No entanto, outras avaliações chegam: de que já estava muito perto do dia da posse e o tempo até obter a decisão judicial, preparar a ação de retirada e executá-la, estaria em cima da hora do evento, podendo gerar um distúrbio generalizado que colocasse ainda mais em risco as celebrações na Esplanada.

"Combate a atos antidemocráticos"

O documento elaborado pela Casa Civil do DF, que estava pronto para ser assinado e enviado ao STF, no dia 27, destaca :

"..... no combate a atos antidemocráticos, que afrontam a Constituição Federal, solicito autorização judicial para que o Governo do Distrito Federal proceda a desocupação do acampamento no Quartel General do Exército em Brasília."

A petição está ainda no SEI do GDF, mas em campo restrito. Para acesso público apenas por meio da Lei de Acesso à Informação. O texto relata ainda que o Exército estava "limitando a atuação" da Secretaria de Segurança Pública do DF. Descreve o acampamento como sendo de "um grupo político que tem contestado o resultado das eleições presidenciais de 2022."

Ordem de recuo

A PM já tinha tentado entrar duas vezes no acampamento. E teve de recuar por ordem do Exército. "Tinham tanques e 300 soldados nos mandando sair" , conta um oficial da PM, que pediu para ter de nome preservado.

Manifesto de preocupação

O GDF frisou ainda na petição que "os graves acontecimentos ocorridos na cidade preocupam a população e este governo", citando os atos de vandalismo na região central de Brasília, em 12 de dezembro, data da diplomação de Lula; e a tentativa de explosão de uma bomba num caminhão próximo ao aeroporto na noite do dia 24 de dezembro.

Múcio em atuação diplomática 

O pedido de Múcio para que nenhuma medida mais forte fosse tomada naquele momento passava pela atuação de diálogo, que vinha mantendo com as Forças Armadas. Ainda não tinha tomado posse como ministro da Defesa de fato e tinha de fazer a mediação diplomática para que o clima não ficasse ainda mais tenso com a posse de Lula.

Respeito ao Exército

Não se queria tomar, naquela altura, atitudes que ofendessem a autoridade do comando do Exército dentro da área de sua própria  jurisdição. E uma decisão do STF respaldando uma ação policial, no acampamento autorizado pelos militares, poderia eclodir crise gravíssima no dia da posse.

O governo eleito, porém não empossado, não queria enviar sinais de revanchismo às Forças Armadas. Múcio, no entanto, esteve na berlinda por não ter conseguido ajudar a evitar os atos golpistas no dia 8 de janeiro. Não ter conseguido que o Exército tivesse desmobilizado o acampamento do QG até aquele dia. E de onde partiu a massa que vandalizou a Praça dos Três Poderes.

Defesa de Múcio

O presidente Lula saiu em defesa ontem do ministro José Múcio. Em entrevista a jornalista Natuza Nery da GloboNews, foi questionado porque não o demitiu. Afirmou que "seria injusto tirar um bom jogador do time, porque ele perdeu apenas um gol".

Também destacou que o que aconteceu foi algo muito imprevisível. "Ninguém podia prever que aquilo aconteceria. Nunca na história deste país houve algo assim", reforçou.

Trauma no DF

Enquanto isso, o GDF sofre uma intervenção federal na Segurança Pública, tem o governador afastado por decisão do Supremo e o ex-comandante da PM preso.

Integrantes do governo local deixam transparecer o abatimento e parecem bastante traumatizados com os últimos acontecimentos. Procurados pelo Correio, não quiseram se pronunciar sobre o que ocorreu nos dias em que a petição a Moraes foi elaborada e quase enviada.

O documento com a petição ao Supremo não consta no memorial de defesa de Ibaneis Rocha entregue ao STF. Mas poderá agora vir a ser usado para apontar que não houve cumplicidade do GDF com a "incubadora de terroristas" , como se referiu o ministro da Justiça Flávio Dino ao acampamento do QG.


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