O corregedor-geral eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, acatou nesta quinta-feira (19/1) a abertura de ação de investigação judicial eleitoral contra Jair Bolsonaro (PL) por abuso de poder político e econômico no processo eleitoral. O caso pode levar à inelegibilidade do ex-presidente.
A suspeita foi levada ao Tribunal Superior Eleitoral pela coligação encabeçada pelo atual mandatário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que acusa o adversário de realizar atos de campanha nas dependências do Palácio do Planalto e do Palácio da Alvorada.
Leia Mais
Bolsonaro: procuradores veem elementos para denunciar ex-presidenteEx-vice-líder de Bolsonaro flagrado com dinheiro na cueca negocia com PSBDefesa de Bolsonaro pede que minuta golpista não seja levada em contaO ministro do TSE lembrou, inclusive, que em uma dessas ações houve uma liminar (decisão provisória e urgente) a fim de impedir a reiteração das lives.
O então chefe do Executivo usou as dependências da residência oficial dos presidentes da República, por exemplo, para anunciar apoios de aliados no segundo turno do pleito --em uma violação à legislação eleitoral, segundo especialistas consultados pela reportagem.
De acordo com a acusação, Bolsonaro usou palácios como "palco de encontro" com governadores, deputados federais e celebridades e se valeu "de todo o aparato mobiliário do prédio público", em flagrante desvirtuamento da finalidade dos bens públicos.
Ao analisar os argumentos apresentados pela coligação petista, Gonçalves entendeu que há elementos para a abertura da ação de investigação eleitoral. Além de Bolsonaro, o candidato a vice Walter Braga Netto (PL) também é citado e passa à condição de investigado.
"Resta claro que a narrativa da petição inicial , em tese, é passível de se amoldar à figura típica do abuso de poder político, havendo elementos suficientes para autorizar a apuração dos fatos e de sua gravidade no contexto das eleições 2022", afirmou Gonçalves.
Foi estipulado um prazo de cinco dias para que os dois apresentem argumentos em sua defesa. A coligação de Lula deverá ser intimada para que forneça novo endereço para citação de Bolsonaro.
O magistrado lembrou que a legislação autoriza o uso da residência oficial pelo presidente que busca a reeleição desde que cumpridas três exigências: somente poderá realizar contatos, encontros e reuniões, ou seja, compromissos em que se dirige a interlocutores diretos; as tratativas devem ser pertinentes à sua própria campanha; e essas agendas não podem ter "caráter de ato público".
De acordo com o corregedor, "não foi concedida autorização irrestrita que convertesse bens públicos de uso privativo dos chefes do Executivo, custeados pelo Erário, em bens disponibilizados, sem reservas, à conveniência da campanha à reeleição".
Após o primeiro turno, Bolsonaro realizou anúncios diários no Palácio da Alvorada, nos quais recebeu o endosso público de governadores reeleitos como Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ratinho Jr. (PSD), do Paraná. Os encontros tiveram ampla divulgação em redes sociais.