Jornal Estado de Minas

DINHEIRO PÚBLICO

Cartão corporativo: Bolsonaro comia pastel na rua e carnes nobres em casa

Notas fiscais de uma parcela dos gastos do cartão corporativo de Jair Bolsonaro (PL) durante os quatro anos de mandato (2019-2022), avaliadas pela agência de transparência Fiquem Sabendo, revelam um presidente diferente do que era mostrado nas redes sociais. O cardápio na residência do ex-chefe do Executivo era, comumente, composto de camarão, bacalhau e corte nobres de carne, alimentos bem mais caros do que o pastel e o espetinho com farinha que ele saboreava nas saídas presidenciais e postava na internet.





Os registros fiscais foram analisados pela Fiquem Sabendo e por repórteres do Estadão, em um trabalho feito pessoalmente nos registros da Secretaria Geral da Presidência. As notas não são digitalizadas, e a consulta, autorizada após um pedido da Fiquem Sabendo por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), foi feita "in loco", durante três dias, período em que 20% do total de notas foi averiguada pela equipe.

De acordo com a agência e o Estadão, o cartão pode ser utilizado para despesas da residência, mas Bolsonaro “disse por 15 vezes em lives que não utilizava o método de pagamento (cartão corporativo)”. O então presidente também não recebia convidados ou promovia jantares no Palácio da Alvorada, o que aponta que os gastos eram apenas para si e a família, sem ocasião especial.


Cartão corporativo


Seis meses após ser eleito presidente, em 7 de junho de 2019, o cartão corporativo foi utilizado para comprar 6,3 kg de picanha maturatta, 15 kg de filé mignon sem cordão e ainda peças de costela defumada, batata palha, potes de palmito e azeitona. Um mês depois, em um café da manhã com a imprensa, Bolsonaro afirmou que “falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira” e classificou o tema como um “discurso populista”.





Ainda antes de junho, em abril de 2019, outra compra de itens luxuosos foi registrada: foram adquiridos 7,2 kg de bacalhau, 4,2 kg de camarão rosa e 108 kg de filé de robalo. Em um ano, foram ao menos 14 compras de picanha, 47 de filé mignon e 15 de bacalhau, De acordo com a agência, as despesas eram frequentes e realizadas, às vezes, mais do que uma vez na semana.

Os registros fiscais também mostram gastos em restaurantes, como 19 idas ao Outback, um total de R$ 5,7 mil com uma média de R$ 300 por visita no estabelecimento — a última ida registrada foi em 17 de dezembro de 2022, pouco mais de 20 dias antes de encerrar o mandato.

Gastos de Bolsonaro


Com o Brasil de volta ao Mapa da Fome, o então presidente negou os dados de agências nacionais e internacionais, que afirmam que 30 milhões de brasileiros estão na linha de pobreza, e disse que ninguém “vê alguém pedindo pão no caixa da padaria”.

“Extrema pobreza é quem ganha até 1,9 dólares por dia, são 10 reais. O Auxílio Brasil hoje paga 20 reais por dia, então esses 30 milhões podem buscar o Auxílio Brasil”, declarou em uma entrevista à Jovem Pan em 26 de agosto de 2022.

Até o momento, R$ 40 milhões de gastos de Bolsonaro nos quatro anos de mandato foram registrados. O valor é inferior ao usado por Lula (PT) nos dois mandatos e por Dilma Roussef (PT) em um mandato. No entanto, apenas Bolsonaro afirmava que "nunca tirei um centavo" do cartão.