Em uma das imagens, ela está em cima da escultura com uma das mãos tocando a frase pichada: "Perdeu, mané". Em seguida, ainda em cima da obra, ela exibe as mãos sujas de tinta e sorri.
Depois, ela senta na estátua e pega o celular das mãos de um homem, que está em pé. Na sequência, a mulher desce da escultura e abraça o homem, que também está sorrindo.
No momento em que a mulher está em cima da estátua, o homem aparece nas imagens de pé com o celular apontado para a cena. É possível ver ainda que há dois traços de tinta no rosto da mulher.
A frase pichada na escultura é uma referência à resposta do ministro Luís Roberto Barroso (STF) ao assédio feito por um apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). "Perdeu, mané. Não amola!", disse o ministro ao homem que o abordou na rua, em Nova York, em novembro.
A Folha de S.Paulo identificou uma moradora do interior de São Paulo que seria a mulher das fotos e falou com ela por telefone. Ela foi localizada por meio de busca em redes sociais, o que levou a uma pessoa que, sob condição de anonimato, indicou conhecer a mulher das imagens.
Segundo essa pessoa, a mulher esteve em Brasília no final de semana da invasão às sedes dos Três Poderes e transmitiu a ação dos vândalos em tempo real em seu perfil no Instagram.
Embora ela tenha apagado postagens de suas redes sociais, foram feitos prints de um de seus perfis reforçando a sua ligação com os atos.
Em uma de suas últimas publicações, a mulher compartilhou um vídeo com o título "Convocação 18/12 e 19/12. Chamada aos patriotas". Nele, um homem afirma que é preciso "dar força às Forças Armadas" e "lotar Brasília" para repetir o "7 de Setembro" de 2022.
A Folha de S. Paulo falou com a mulher por telefone na sexta-feira (20). Ela demonstrou surpresa quando foi questionada sobre a vandalização da estátua e disse: "Eu vandalizei estátua?". A partir desse momento, ela ficou em silêncio e deixou de responder às perguntas que lhe eram feitas.
Depois desse contato, ela não atendeu mais as ligações nem respondeu às mensagens.
A escultura "A Justiça" é uma das principais obras do mineiro Alfredo Ceschiatti, e está avaliada entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões. Esculpida em granito, a estátua tem mais de três metros de altura e fica na praça dos Três Poderes, em frente à entrada principal do STF.
A escultura de 1961 retrata a deusa da Justiça na mitologia grega. A mulher está sentada, de olhos vendados, com uma espada no colo. Diferentemente de outras representações, "A Justiça" de Ceschiatti não tem a balança em mãos.
Peritos da Polícia Federal devem indicar qual a substância usada para vandalizar a obra. A frase "perdeu, mané" também foi pichada várias vezes nos vidros do STF.