Setenta e seis dos 77 deputados estaduais eleitos para o novo ciclo da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) tomam posse hoje. A solenidade, prevista para começar às 14h, vai marcar o início da legislatura com o maior número de mulheres da história do Parlamento Mineiro: a bancada feminina terá 15 componentes – uma delas, Chiara Biondini (PP), só vai ser empossada no fim de fevereiro, quando completará 21 anos, idade mínima exigida pela Constituição da República para participar do Legislativo estadual.
As atividades do primeiro dia da nova Assembleia vão ter, ainda, a proclamação da escolha de Tadeu Martins Leite (MDB), o Tadeuzinho, como novo presidente da Casa. Ele encabeça chapa única, que deve ter, nos outros postos principais, Leninha (PT) na 1ª vice-presidência e Antonio Carlos Arantes (PL) na função de 1º secretário. Como o acordo em torno de Tadeuzinho tem o aval, inclusive, do núcleo de articulação política do governador Romeu Zema (Novo), os deputados já se voltam às conversas para formar os blocos parlamentares e as possibilidades de composição das comissões temáticas.
No entorno de Zema, a ideia é ter o apoio de pelo menos 40 dos 77 deputados. Os aliados do Palácio Tiradentes trabalham para construir uma coalizão com mais parlamentares do que o número de apoios conquistados no primeiro mandato. O bloco independente, formado por deputados que não são alinhados ou antagonistas a Zema, deve ter alguns parlamentares que, na prática, vão votar com o governo. Além do Novo, que vai ter dois representantes, devem orbitar em torno do Executivo partidos como PP, Solidariedade, PMN, Republicanos, Patriota e Podemos. O PL do ex-presidente Jair Bolsonaro ainda não sabe se vai engrossar formalmente o bloco pró-Zema, mas acertou, com as bênçãos de seu presidente nacional, Valdemar da Costa Neto, o apoio às pautas encampadas pelo governo.
Líder da coalizão pró-Zema durante parte do ano passado, Zé Guilherme (PP) crê que a bagagem adquirida pelo governador ao longo do primeiro mandato pode beneficiá-lo na relação com o Legislativo. “No primeiro mandato de Zema, as dificuldades que o estado passava eram muito grandes. O governador conseguiu melhorar muito a situação estadual. Com a experiência política que ele adquiriu, vejo com muito bons olhos o futuro de Minas Gerais”, diz, ao Estado de Minas.
Paralelamente, 20 parlamentares já sabem que vão começar na oposição a Zema. PT, PCdoB e PV, que formam uma federação, vão ter a companhia de deputados eleitos por Psol e Rede. Os partidos devem reeditar a frente de esquerda que atuou na Assembleia entre 2019 e o ano passado. Ex-vereadora de Divinópolis, no Centro-Oeste mineiro, Lohanna França, do PV, vai estrear no Legislativo estadual como integrante do grupo. O plano dela é caminhar com o governo em pautas que considerar positivas para a população. Nos outros casos, promete fazer o que chama de “oposição justa e democrática”.
“Minha expectativa é que seja uma legislatura de resistência a eventuais tentativas do governo Zema de permanecer loteando e vendendo o estado como ele tem feito, com avanços em algumas áreas, especialmente naquelas que se aliam ao governo federal”, projeta, em menção ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Há, por exemplo, paralisia da cultura no estado, não por falta de ação dos fazedores de cultura ou dos produtores culturais, mas pela dificuldade no trato com o governo de Minas. Isso tende a melhorar um pouco, já que, com os retornos do Ministério da Cultura e do financiamento, o governo estadual não vai poder andar na contramão desse processo”, emenda.
Novo preside sessão A sessão que vai instaurar a nova legislatura será presidida por Doutor Maurício (Novo), um dos 25 estreantes. A tarefa vai caber ao médico ortopedista de 73 anos, pois ele é o mais velho entre todos os parlamentares. Imediatamente após a posse, acontece a eleição para referendar Tadeuzinho como substituto de Agostinho Patrus (PSD), que deixa a presidência da Assembleia para, amanhã, ser oficializado como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG).
Agostinho, aliás, se tornou um dos principais rivais políticos de Zema, com direito a acusações mútuas de “sabotagem”. Para Zé Guilherme, o consenso que marca a escolha de Tadeuzinho mostra a união entre os parlamentares. Ele crê que o novo presidente vai pautar projetos considerados importantes para o Executivo – que tenta, por exemplo, autorização para aderir ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF) e, assim, renegociar dívida de quase R$ 150 bilhões contraída junto à União.
“Ele (Tadeuzinho) é uma pessoa muito preparada. Apesar de muito jovem, é muito experiente e sabe da real necessidade. É claro que ele vai pautar e a decisão é do plenário. Mas acredito que não se furtará a pautar os grandes temas para Minas Gerais”, avalia o político do PP. Lohanna França, por sua vez, atrela a chapa única à dificuldade do grupo de Zema na busca por emplacar uma candidatura própria. O Palácio Tiradentes defendeu uma construção a partir de Roberto Andrade (Patriota) e, depois, chegou a ensaiar movimento em prol de Duarte Bechir (PSD). Nenhuma das alternativas ganhou musculatura suficiente. “Tadeuzinho me parece um nome independente, que não está comprometido com postura de oposição ou base, mas com uma Assembleia independente, altiva e fiscalizadora”, assinala.