Eleito presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quarta-feira (1°/2), o deputado estadual Tadeu Martins Leite (MDB) disse que a relação com o governador Romeu Zema (Novo) é a "melhor possível". Candidato único, Tadeuzinho - como é chamado pelos colegas - afirmou que a ideia é colocar em tramitação projetos considerados importantes para o Executivo, entregando a decisão a respeito deles ao conjunto de deputados.
Leia Mais
Estreia na Câmara: o que disseram os deputados mineiros na posseNovo presidente, Tadeuzinho fala em tornar ALMG a 'casa do diálogo'Lira após reeleição: 'É hora de desinflamar o Brasil'Gustavo Valadares vai ser o líder do governo Zema na Assembleia LegislativaTadeuzinho foi eleito com os votos de todos os 75 parlamentares aptos para a eleição de hoje, ocorrida minutos após a posse dos componentes da nova legislatura. A chapa dele se tornou a única do pleito na semana passada, quando o núcleo de articulação política de Zema desistiu de emplacar uma candidatura própria e passou a defender a unificação. Roberto Andrade (Patriota) e, depois, Duarte Bechir (PSD), eram os nomes desejados pelo governo. Os movimentos, porém, não ganharam musculatura suficiente para vingar.
Logo depois de assentar-se pela primeira vez na cadeira de presidente, Tadeuzinho negou estremecimentos com o secretário de Estado de Governo, Igor Eto. Foi ele o responsável por comandar as conversas por uma chapa situacionista.
"Minha relação com o secretário de Governo e com o governo é a melhor possível. O diálogo tem de existir. A questão sobre outras candidaturas passou", disse o emedebista, na primeira entrevista como chefe do Legislativo. "Não existem perdedores ou ganhadores. Conseguimos construir consenso por uma candidatura única para que, ao final, todos os deputados fossem contemplados", completou.
Zema esteve na Assembleia para assistir à posse dos deputados. Depois, comentou o resultado da eleição interna da Casa. "Tenho certeza que, com diálogo, teremos Minas Gerais avançando nos próximos quatro anos. O trabalho da Assembleia Legislativa e de seu presidente é de fundamental importância", assinalou.
Segundo o político do Novo, o poder Executivo é "totalmente aberto e receptivo" às sugestões do Legislativo. "O que queremos é que os poderes mantenham suas respectivas autonomia para fazermos um trabalho em conjunto pelo bem do povo mineiro", assegurou.
O consenso em torno de Tadeuzinho refletiu na distribuição dos outros cargos da Mesa Diretora. Além do MDB, seis partidos - PT, PV, PSD, PL, PDT e Cidadania - vão ser representados na cúpula da Casa. A 1° vice-presidência, por exemplo, ficou com a petista Leninha. Mulher negra, ela valorizou a representatividade de raça e gênero inerente à escolha. Há 26 anos que uma deputada não exercia um cargo na Mesa.
"Falamos que a gente não vai voltar para a senzala. Já reafirmamos que temos capacidade e condições de construir o que chamamos de melhor política. Queremos que as vozes silenciadas, durante muito tempo, pelo machismo, pelo racismo, pelos preconceitos, também possam ser ouvidas pelo Parlamento", defendeu.
Segundo Tadeuzinho, o objetivo é começar uma "nova relação" com os Poderes. "Quando os deputados, governistas ou da oposição, apontam um caminho, é porque conhecem, de fato, os problemas do estado. Escutá-los é muito importante", pregou.
Formação de blocos abre nova temporada de conversas
Passada a eleição, os deputados voltam as atenções à formação dos blocos parlamentares. A divisão dos deputados entre coalizões vai nortear, inclusive, a escalação das comissões temáticas. Nos bastidores da Assembleia, segundo deputados ouvidos pelo Estado de Minas, há expectativa pela formação de três blocos: um governista, outro de orientação independente em relação a Zema e um terceiro, de oposição.Na aliança pró-Zema, além do Novo, devem ficar partidos como PP, Patriota, Podemos, Solidariedade e Republicanos. O segundo bloco, embora oficialmente seja chamado de independente, vai misturar, em sua composição, parlamentares que, de fato, não têm posição fixa a respeito do governo a outros que, na prática, vão votar com o governo - é o caso, por exemplo, do PL. Com nove deputados, o partido é simpático a Zema e vai dar os votos necessários ao Executivo em pautas de relevância. Apesar disso, ainda não definiu o bloco que vai engrossar.
O PDT, por sua vez, deve seguir à risca a ideia de ser independente. Eleito 2° Secretário da Mesa da Assembleia, o pedetista Alencar da Silveira Júnior disse crer que as redes sociais e a necessidade de emplacar pautas segmentadas, como as demandas classistas, demandam a formação de uma coalizão que preze pela independência.
"A política mudou. Antigamente, era governo e oposição. Não havia outro. Era o PT e o bloco de governo", defendeu. "Tem que ter um bloco independente", emendou.
O Cidadania, que forma uma federação com o PSDB e, por isso, precisa estar no mesmo bloco que os tucanos, não sabe se vai engrossar a aliança independente ou o grupo ligado ao Palácio Tiradentes. "O objetivo do Cidadania no processo é colaborar para a formação do que for melhor para o governo, para a Mesa e para a presidência da Casa", explicou João Vítor Xavier, presidente estadual do partido e 3° secretário da Assembleia.
"Os três (deputados) do Cidadania, que formam a maioria da federação, se consideram da base de governo, vão votar com o governo e apoiá-lo em tudo o que for bom para o estado", completou, em menção aos colegas Bosco e Raul Belém.
Na oposição, os cálculos apontam a presença de 20 parlamentares, filiados de PT, PCdoB, PV, Rede e Psol. "Nós, com certeza, manteremos o papel responsável de fazer resistência àquilo que não é bom para a maioria dos mineiros e mineiras, para os trabalhadores e trabalhadoras", projetou Leninha.
Protestos impedidos
Antes de Tadeuzinho ser eleito, a sessão plenária que oficializou o novo ciclo da Assembleia foi conduzida por Doutor Maurício (Novo). Apesar de estreante, ele é o mais idoso entre os eleitos em outubro, com 73 anos. Por isso, desempenhou o papel de presidente interino. Um a um, os parlamentares foram chamados para fazer um juramento e assinar o termo de posse.A instantes do início da solenidade, deputados do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro tentaram levar, às costas, um cartaz escrito "Fora, ladrão", em alusão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Cristiano Caporezzo e Coronel Sandro foram dois dos que queriam utilizar o adereço. A ideia, porém, foi vetada por Doutor Maurício.
"O compromissando não poderá, no ato da posse, fazer declaração oral ou escrita - ou ser representado por procurador. Não será permitida a abordagem de assuntos não pertinentes ao objetivo desta reunião, tampouco manifestações partidárias", explicou.
Chiara Biondini (PP), vale lembrar, não foi empossada ontem. Ela só assume um dos assentos do plenário no fim deste mês, quando completará 21 anos, idade mínima para exercer o cargo de deputada.