Pacheco ganhou a disputa contra o bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN) por 49 votos contra 32 —no limite para aprovação de PEC (proposta de emenda à Constituição). O número de votos é bem menor que os 57 que Pacheco conquistou em 2021, quando enfrentou a então senadora Simone Tebet (MDB-MS), atual ministra do Planejamento.
O placar foi especialmente comemorado por aliados de Lula por representar o mesmo número necessário para aprovação de PEC. Eles mencionam como prioridade a reforma tributária na casa.
A prioridade do Palácio do Planalto no Congresso passa pela recuperação econômica, com a reforma tributária e o novo marco fiscal; e pelo pacote de projetos propostos pelo Ministério da Justiça para endurecer a legislação contra ataques antidemocráticos.
Apesar disso, ministros e líderes do governo tiveram o cuidado de afastar associações entre o número de votos de Pacheco e o tamanho da base.
"Teremos de 52 a 55 votos [na base do governo]", afirmou o senador Rogério Carvalho (PT-SE), cotado para a primeira secretaria da Mesa Diretora, que será decidida nesta quinta (2).
"Não acho que isso [o resultado] impacte a governabilidade", afirmou o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), na mesma linha.
Reservadamente, o governo esperava o placar para medir o tamanho da oposição. Dos 21 senadores eleitos, sete integraram o governo passado e se tornaram símbolos do bolsonarismo, como a ex-ministra da Mulher Damares Alves (Republicanos-DF).
"Teremos que trabalhar muito", afirmou o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ao comentar o resultado.
Democracia
O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que Pacheco representa o reforço para a democracia.
"Desde cedo estávamos confiantes que a democracia ganharia esse importante reforço. Parabéns, senador! O Brasil e o presidente Lula contam contigo para trilhar o caminho da união e reconstrução", disse nas redes sociais.
Padilha disse a jornalistas que a votação "cria um ambiente muito positivo para que a gente possa avançar nos projetos de defesa da democracia, de consolidação da democracia".
Petistas já esperavam a vitória, mas ficaram apreensivos diante de novos apoios declarados nos últimos dias ao ex-ministro de Jair Bolsonaro (PT). Também gerava apreensão as reclamações sobre a influência do ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
O governo disse que não se envolveria na disputa do Senado, mas acenou com cargos, inclusive para integrantes do centrão mais próximos a Bolsonaro.
Planalto
O Planalto vinha esperando a eleição no Congresso para finalizar as indicações para o segundo escalão do governo, como estatais e bancos regionais.
Lula, por sua vez, jantou com Pacheco na semana anterior à eleição, na residência oficial do Senado. Os dois posaram para foto, num claro sinal de apoio do Planalto ao então candidato.
O chefe do Executivo, depois do resultado nesta quarta-feira, ligou para o líder do governo no Congresso e pediu para falar com Pacheco para parabenizá-lo.
Na oposição, senadores dizem que o resultado não foi o esperado, mas que o bloco sai fortalecido.
O ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos-RS), empossado nesta quarta, afirmou que Pacheco será cobrado pela promessa de que o Senado será "independente".
Já o último líder do governo sob Bolsonaro, Carlos Portinho (PL-RJ), defendeu que o placar mostra força da base bolsonarista, maior nesta legislatura.
"Éramos 23 e viramos 32 [número de votos em Marinho]. Isso mostra uma oposição fortalecida, embora tenha perdido para um governo que tem instrumentos. E perdeu por nove votos", disse.
Portinho ainda afirmou que, após as eleições, as bancadas dos partidos no Senado devem sofrer alterações, à exemplo do próprio PL, que já perdeu uma cadeira às vésperas da votação.
O senador ainda admitiu que, "sem dúvida alguma" a partir de agora, o foco do partido será trabalhar para conseguir a presidência da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).
A condução da comissão sob a presidência de Davi Alcolumbre, nos últimos dois anos, foi alvo de fortes críticas do grupo de senadores pró-Marinho, que tentaram usar a gestão para angariar votos de outros parlamentares insatisfeitos.
"A ideia que o Rogério Marinho sempre levou —quem sabe o Pacheco possa refletir a respeito, até porque não vai ser fácil governar com 32 do outro lado—, é que se buscasse a proporcionalidade [nas escolhas de comissões e para a mesa dos senadores]. E nesse aspecto o PL teria suas posições na CCJ e outras comissões", afirmou.