Lisboa — Ex-governador de São Paulo, João Doria afirmou que o Brasil precisa, urgentemente, virar a página das eleições presidenciais, ainda fonte de tensão no país.
“A eleição foi encerrada. Há um governo eleito e há que se respeitar a decisão das urnas democraticamente. Há que se respeitar, também, a oportunidade para que esse governo, que não tem 100 dias, possa exercitar corretamente suas práticas e seus compromissos estabelecidos durante a campanha”, disse. A calmaria, acredita ele, será vital para o reforço da democracia.
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“Até aqui, o ministro da Fazenda tem buscado o diálogo. Eu mesmo sou testemunha disso. Ele tem dialogado com setores produtivos, indústria, comércio, setor de serviços, setor financeiro, não só em São Paulo, mas em outras regiões do país. É assim que se constrói uma boa política pública e uma política pública que pode não ser de consenso, mas não pode ser contrária ao sentimento da sociedade civil, principalmente, da sociedade produtiva”, enfatizou.
Para o ex-governador, essas conversas são muito importantes antes de avançar, com mais força e velocidade, no programa fiscal e na reforma tributária, que, no entender dele, aliás, é absolutamente essencial. “O que o Brasil não pode qualificar neste momento é aumento de impostos, nem para o setor produtivo e muito menos para o cidadão. Há outras formas de gerar caixa, de manter o equilíbrio fiscal sem a fácil decisão de aumentar impostos”, frisou.
A mesma visão de bom senso ele tem do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. “A eleição acabou. Eu não faço juízo sobre o passado. Faço juízo sobre o presente. O governador tem feito passos positivos, a meu ver, defendendo programas de concessões, privatizações, um movimento liberal que prevê, inclusive, a privatização da Sabesp, posições corretas na área social, especialmente na educação e na proteção ambiental”, disse.
Tarcísio, segundo Doria, também se comprometeu publicamente a prosseguir o programa de despoluição dos rios paulistas. “Agora, é a vez do Tietê. O Pinheiros está limpo, está entregue, apenas no trabalho de refinamento das suas margens”, listou. “Então, os compromissos que ele anunciou recentemente, a mim, como cidadão e como morador de São Paulo, me satisfazem. E não carrego nenhum viés político. A eleição acabou, agora, tem de pensar em governar”, complementou.
Bolsonaro
Sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro, caberá, segundo Doria, à Justiça decidir se ele deve ser preso. Derrotado nas eleições, Bolsonaro é apontado como um dos articuladores dos atos terroristas que destruíram as sedes do Três Poderes em 8 de janeiro.
Ele também teria participado de um plano negociado entre o ex-deputado Daniel Silveira e o senador Marcos do Val (Podemos-ES) que visava grampear o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), prendê-lo e impedir a posse de Lula.
Doria, que organizou o Lide Brazil Conference, ressaltou as posições colocadas por quatros ministros do STF —Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso e Ricardo Lewandowisk— durante o evento sobre os movimentos golpistas no Brasil.
Eles enfatizaram a importância do reforço da democracia, da defesa da Constituição e da criminalização, dentro das regras, daqueles que precisam ser criminalizados.
“Eu só tenho feito uma pequena observação para não transformar a criminalização numa obsessão, porque, onde se tem a denominação obsessão, vai-se ao extremo”, ressalvou. Assim, no entender do ex-governador, é preciso, sim, buscar os culpados, sinalizar para que cumpram as penas que estão previstas na lei.
“Mas não transformar isso numa obsessão, porque a obsessão tangencia o extremo e desvia o Brasil de outros temas fundamentais. Nós precisamos de crescimento econômico, de redução da pobreza, de um comportamento ambiental mais adequado, de novos investimentos para o país, de atração de investidores internacionais”, ponderou.
Longe da política desde que abriu mão da candidatura ao Palácio do Planalto, Doria não quis comentar a proximidade de seu ex-partido, o PSDB, com o bolsonarismo. Os senadores da legenda, inclusive, apoiaram o senador Rogério Marinho (PL-RN) para a Presidência do Senado. O parlamentar, que é aliado de primeira hora de Bolsonaro, foi derrotado por Rodrigo Pacheco, candidato do Palácio do Planalto.