Jornal Estado de Minas

ATAQUES AOS TRÊS PODERES

Comandante militar explica teoria para criticar ataques golpistas

O general Richard Nunes, comandante militar do Nordeste, publicou um texto em um blog destinado à classe criticando civis e militares que, segundo ele, atingiram “patamares consideráveis” de “precipitação, superficialidade, imediatismo e conturbação”, o que denominou de “Mundo PSIC (Precipitação, Superficialidade, Imediatismo e Conturbação)”. O comportamento, de acordo com Neto, ocorre depois dos atos golpistas inflados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).



Richard Nunes é um dos genarais que, em grupos bolsonaristas em que eram organizados as tentativas de golpe em frente a quartéis, foram chamados de "melancias", uma alusão à fruta que é "vermelha" por dentro e verde por fora, usada para definir "comunistas" não assumidos.

No texto, o general critica os militares que “têm contribuído para disseminar a desinformação, a relativização de valores e, consequentemente, a desunião que enfraquece o espírito de corpo”. 

“E o que o Mundo PSIC tem a ver com isso? Tudo! Pois é exatamente na dimensão informacional que temos assistido a condutas em desacordo com a ética militar por parte daqueles que, por indignação, ingenuidade, desconhecimento e, até mesmo, má-fé, têm contribuído para disseminar a desinformação, a relativização de valores e, consequentemente, a desunião que enfraquece o espírito de corpo. Fica a pergunta: a que interesses servem tais pessoas?”, questionou.



Ao desmembrar sua teoria, o general explica que a “precipitação” nesse caso, é marca típica desse ambiente “repleto de meias-verdades e fake news, onde se disparam e replicam mensagens sem a menor preocupação com a veracidade dos fatos e a idoneidade das fontes”. 

“Toma-se como verdade, de modo absolutamente irresponsável, conteúdos com juízos de valor destinados ao ataque à reputação e à crítica a decisões dos escalões superiores. Iniciado o processo, que é realimentado por gatilhadas digitais, o que se produz é uma verdadeira marcha da insensatez. A um militar que se preza não se permite essa falta de cuidado e de lealdade para com a instituição a que serve”, seguiu.
Já a “superficialidade” tem a ver com o comportamento ético. “Em tempos de paz ou de conflito armado, lida-se com o poder dissuasório da Nação. Soluções simples para problemas complexos não são a regra. Tratar o emprego do Exército com base em análises simplórias de ‘especialistas’ de ocasião, é o caminho mais seguro para se chegar a concepções inoportunas, parciais e ineficazes, o que é inadmissível por quem quer que tenha um mínimo de seriedade no processo de tomada de decisão”, disse.





Para ele, quando um militar “extrapola a esfera de suas atribuições, e passa a opinar publicamente sobre o que não é de sua competência, contribui para o descrédito na cadeia de comando e no cumprimento da missão.”

No caso do “imediatismo”, a teoria se embasa com o caráter permanente atribuído às forças armadas no texto constitucional. 

“A relação custo-benefício de se trocar ganhos imediatos por duradouros resultados positivos costuma caracterizar vitória de Pirro. Os preceitos da ética militar indicam claramente que não se pode prejudicar a reputação e a credibilidade do Exército, conquistadas em séculos de História, por conta do oportunismo de uns e do jogo de interesses de outros, algo que tem sido observado em inúmeras postagens veiculadas em tempos recentes.”

Ainda segundo o militar, a “conturbação” talvez seja o aspecto mais danoso do Mundo PSIC. 

“A excessiva polarização da sociedade e a atuação dos extremos do espectro ideológico no ambiente informacional têm gerado visões radicais, resultando num círculo vicioso de intolerância e de absoluta ausência de diálogo. Essa situação é inaceitável aos membros de uma instituição apartidária, que se orgulha de oferecer oportunidades a todos os brasileiros, sem distinção de classe social, raça, gênero e credo.”

Para ele, o inconformismo com a tradicional postura legalista e de neutralidade do Exército tem dado ensejo a insultos a camaradas de longa data, ataques a reputações típicos de regimes totalitários, “vazamentos” de supostas informações, divulgação de memes difamatórios, tudo para tentar atingir a coesão da Força, em flagrante traição ao sacrossanto respeito à hierarquia e à disciplina.