O suposto plano de gravar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), revelado pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) na última semana, pode ter sido orquestrado inicialmente em setembro de 2022. Além disso, inicialmente teria a ajuda de um hacker.
Bolsonaro recebeu uma visita - fora da agenda oficial - de Walter Delgatti Neto, conhecido como 'hacker de Araraquara'. O nome do hacker ficou conhecido na Operação Lava-Jato. Ele foi preso por acessar contas de aplicativos de mensagens de autoridades responsáveis pela operação.
No dia 10 de agosto de 2022, De acordo com a revista Veja, responsável por expor o suposto plano do ex-deputado Daniel Silveira e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a aproximação de Delgatti e Bolsonaro foi intermediada pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Na época, os três conversaram sobre supostas "fragilidades técnicas das urnas eletrônicas".
Plano
Já na primeira quinzena de setembro, Zambelli chamou Delgatti para uma nova conversa, com o então presidente Jair Bolsonaro. "Eu encontrei a outra (Zambelli) e ela levou um celular, abriu o celular novo, colocou um chip, aí ela cadastrou o chip e ele (Bolsonaro) telefonou no chip. Foi por chamada normal", disse Delgatti.
De acordo com o hacker, o objetivo era que ele grampeasse o ministro - assim como fez na 'Vaza-Jato'. "Ele (Bolsonaro) falou: 'A sua missão é assumir isso daqui. Só, porque depois o resto é com nós'. Eu falei beleza. Aí ele falou: 'E depois disso você tem o céu'" relatou.
Segundo os relatos de Delgatti, na suposta conversa, Bolsonaro disse que já havia interceptado mensagens em que o ministro e servidores da Justiça questionavam a confiabilidade das urnas e uma preferência pelo presidente Lula (PT).
Conforme o plano revelado por Marcos do Val, o intuito era gravar uma fala "comprometedora" do ministro de que ele teria interferido nas eleições. Com isso, Bolsonaro conseguiria, supostamente, anular o resultado das eleições.
Enquanto aguardava novos direcionamentos sobre o plano, Delgatti tentou convencer um funcionário da operadora TIM a ajudar a grampear o telefone de Moraes.
Na ocasião, o funcionário teria que fornecer um chip com o mesmo número usado por Moraes. O funcionário da operadora não aceitou participar do plano.
De acordo com a revista, no dia 26 de setembro eles tentaram registrar no 1º Ofício de Notas e Protesto de Brasília um documento que denunciava o suposto plano, mas, de acordo com a Veja, eles não tinham provas suficientes para tornar o caso público.
Plano contra Moraes
Na semana passada, o senador Marcos do Val fez uma live afirmando que Bolsonaro o coagiu a participar de um golpe de estado. Depois,ele alegou que o ex-deputado Daniel Silveira instigou o plano e que o ex-presidente simplesmente acatou a ideia.
De acordo com Marcos do Val, Moraes sabia do plano desde dezembro, quando foi orquestrado, supostamente, pelo Silveira e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Quando o caso veio a público, Delgatti disse que o relato do senador era uma "continuação" do plano iniciado em setembro.
Ainda na semana passada, o ministro Alexandre de Moraes abriu um inquérito contra o senador Marcos do Val para apurar crimes de falso testemunho, declaração caluniosa e coação.