Como mostrou a coluna, Janaina demonstrou interesse em retomar as aulas no Largo de São Francisco logo após as eleições de 2022, quando não se elegeu para o Senado. Licenciada da faculdade desde que chegou à Assembleia Legislativa de São Paulo, em 2019, ela encerrará o seu mandato em 15 de março.
"Você não cabe mais aqui. As nossas salas de aula se tornaram grandes demais para você", diz uma nota elaborada pelo Centro Acadêmico XI de Agosto e obtida pela coluna.
No documento, os alunos ainda afirmam que receberam a notícia "com perturbação", classificam a parlamentar como uma "bolsonarista esclarecida" e questionam o fato de ela não ter aderido à carta em defesa da democracia articulada e lida na Faculdade de Direito durante o processo eleitoral de 2022.
A participação de Janaina como autora do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT) também é criticada.
"Desde que se tornou uma das lideranças e a principal fiadora jurídica da extrema direita, Janaína abandonou os valores democráticos que devem permear as salas de aula da principal instituição de ensino jurídico do país", diz o texto.
"Nos quatro anos sombrios que o país enfrentou sob o governo de [Jair] Bolsonaro, Janaína se apresentou como uma espécie de bolsonarista esclarecida. No entanto, as suas supostas divergências com os movimentos de extrema direita são mínimas e consideramos haver, em suas mãos, tanto sangue quanto nas mãos deles", continua.
Janaina Paschoal
Procurada pela coluna, Janaina Paschoal diz que cumprirá um dever voltando à faculdade, já que sua licença chegará ao fim, e que protestos fazem parte da democracia, mas não devem ultrapassar "os limites da manifestação do pensamento".
"Quando ninguém falava em cotas, eu as defendia. Enquanto muitos colegas são filhos e netos de diplomatas e desembargadores, eu sou neta de migrantes nordestinos e oriunda da periferia de São Paulo. Sou professora concursada. O término de minha licença implica retornar às aulas, e retornarei", afirma a deputada, por mensagem.
"Quanto aos protestos, são da democracia, desde que não ultrapassem os limites da manifestação do pensamento", finalizou.
Janaina propôs à Faculdade de Direito da USP ministrar disciplinas de segurança pública, conflitos religiosos ou bioética, mas elas já haviam sido distribuídas entre outros docentes. A deputada, agora, aguarda uma resposta da faculdade sobre qual aula poderá assumir.
Leia, abaixo, a íntegra da nota elaborada por alunos do Centro Acadêmico XI de Agosto:
"O retorno de Janaína Paschoal às atividades de docência na Faculdade de Direito da USP é uma notícia recebida com perturbação pelo corpo discente do Largo de São Francisco e pelo Centro Acadêmico XI de Agosto.
Desde que se tornou uma das lideranças e a principal fiadora jurídica da extrema direita, Janaína abandonou os valores democráticos que devem permear as salas de aula da principal instituição de ensino jurídico do país.
Exemplo notório desse desvio é ter sido uma das poucas docentes que não assinou a 'Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito’, documento histórico escrito pela Faculdade de Direito, que congregou o Brasil em defesa da democracia.
Consideramos que Janaína Paschoal tem dado uma contribuição indecente para o país. Foi a responsável por fundamentar juridicamente o processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff e, em 2018, apoiou e surfou a onda bolsonarista para alcançar um mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Nos quatro anos sombrios que o país enfrentou sob o governo de Bolsonaro, Janaína se apresentou como uma espécie de bolsonarista esclarecida. No entanto, as suas supostas divergências com os movimentos de extrema direita são mínimas e consideramos haver, em suas mãos, tanto sangue quanto nas mãos deles.
Felizmente, a população de São Paulo a negou um mandato no Senado. Por outro lado, a sua derrota na política possibilita um retorno às arcadas. É por isso que, antes que pise novamente no Território Livre do Largo de São Francisco, queremos que saiba que não é mais bem-vinda.
Hoje a Faculdade de Direito da USP é dos alunos negros e pobres. Hoje a universidade pertence aos defensores da democracia, não aos seus detratores. É exatamente por isso que você não cabe mais aqui. As nossas salas de aula se tornaram grandes demais para você."