O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar ontem a Selic, taxa básica de juros da economia, e o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Segundo o chefe do Executivo, não há razões para a taxa de juros estar a 13,5%. No entanto, o petista errou ao citar o número, que está em 13,75% desde 3 de agosto. A declaração ocorreu durante a posse de Aloizio Mercadante na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro. “Não existe nenhuma justificativa para a taxa de juros a 13,5% (sic), é só ver a carta do Copom para ver a vergonha que é esse aumento de juros e a explicação que deram para sociedade brasileira”, apontou.
Lula disse também que o país tem “cultura” de juros altos, o que “não combina com a necessidade de crescimento”. “O problema não é a independência do Banco Central, é que esse país tem uma cultura de viver com o juro alto que não combina com a necessidade de crescimento que temos”, completou. Em entrevista em janeiro, o presidente disse considerar uma “bobagem” a independência do Banco Central e afirmou que a solução para economia é que o Brasil volte a ter crescimento econômico, aliado a políticas de distribuição de renda.
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Lula afirmou também que o BNDES “foi vítima de difamação muito grande”. A declaração é uma indireta ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O chefe do Executivo defendeu ainda que a empresa pública federal é “a mais importante agência de desenvolvimento e financiamento”. “Eu não poderia deixar de lembrar a vocês que esse banco foi vítima de difamação muito grave durante o processo eleitoral. Vivemos um momento no Brasil em que as narrativas, mesmo que mentirosas, valem mais que a verdade se forem ditas muitas vezes. Vivemos nos últimos quatro anos uma mentira tresloucada”, apontou.
“Esse banco foi vítima de muita mentira. A primeira é que o BNDES nunca foi caixa-preta. De tanto martelar isso teve que gastar mais de R$ 42 milões em 2020 em uma auditoria, e o resultado foi que nada foi encontrado de irregular porque tudo foi contratado de forma séria altamente qualificada. Vocês sabem o quanto essas mentiras custam para o povo brasileiro durante o processo eleitoral?”, emendou. Lula disse também que “outra mentira” é que o BNDES “dava dinheiro” a outros países.
Lula afirmou ainda que a inadimplência de países que tomaram empréstimos com a instituição, como Cuba e Venezuela, foi incentivada pelo governo Bolsonaro, que cortou relações com esses países.”No nosso governo eu tenho certeza que eles vão pagar”, afirmou. Até setembro de 2022, Venezuela, Cuba e Moçambique somavam US$ 1,03 bilhão (R$ 5,1 bilhões) em atrasos de dívidas com o banco de fomento.
Lula afirmou que a crítica ao financiamento à exportação de bens e serviços brasileiros é uma das mentiras disseminadas contra a instituição nos últimos anos. O petista defendeu que todos os contratos têm garantias que preservam o banco em caso de inadimplência. "E vamos ser francos, os países que não pagaram, seja Cuba, seja Venezuela, é porque o presidente (Bolsonaro) decidiu cortar relações internacionais”, disse.
Bolsonaristas
O presidente Lula usou o discurso na posse do novo presidente do BNDES também para criticar os responsáveis pelos ataques golpistas de 8 de janeiro. “O que aconteceu no Palácio do Planalto, no Congresso e no STF foi uma revolta dos ricos que perderam as eleições. Nós não podemos brincar, porque um dia o povo pobre pode se cansar de ser pobre e fazer as coisas mudarem nesse país”, disse Lula.
Lula atribuiu os atos golpistas ao inconformismo da elite com a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições.A Polícia Federal tem realizado operações para identificar participantes, financiadores e fomentadores dos ataques às sedes dos três Poderes, em Brasília. O petista destacou novamente a importância do “equilíbrio social” junto com o equilíbrio fiscal. Ele lembrou que hoje há 33 milhões de pessoas passando fome. “Se nós decepcionarmos esse povo e eles pararem de acreditar em nós, não sei o que será desse país. Esse país não pode continuar sendo governado por uma parcela da sociedade, tem que ser governado para a maioria.” (Com agências)