Jornal Estado de Minas

POVOS ORIGINÁRIOS

'Hospitais para yanomamis depende de saída de garimpeiros', diz secretário

Duas semanas após ter descrito um cenário de guerra e classificado como alarmante o cenário da saúde pública nas comunidades yanomamis em Roraima, o secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Ricardo Weibe Tapeba, fez nesta terça (7/2) um balanço dos trabalhos iniciais da força-tarefa do governo Lula (PT) para conter a crise.



"Estamos aqui há praticamente um mês com nossas ações de urgência e emergência em ação coordenada pelo governo federal para salvar vidas, combatendo o que nós estamos chamando de projeto de genocídio em curso do povo yanomami", afirmou Tapeba em entrevista coletiva na sede do Dsei-Y (Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami) em Boa Vista.

Apenas no mês de janeiro deste ano, o DseiY fez remoção de 223 indígenas em estado grave, o que incluem movimentações dentro do próprio território quanto a transferência polo de saúde básica de Surucucu para Boa Vista.

Agora, após o primeiro momento da instalação do hospital de campanha ao lado da Casai-Y (Casa de Saúde Indígena Yanomami) e do envio da Força Nacional do SUS, a ideia da secretaria é implantar pelo menos dois hospitais de campanha no território yanomami, um na região do Surucucu e outro no Auaris para desafogar a alta demanda de pacientes que precisam ser removidos por aviões da área indígena para a capital.



"Estamos aguardando a conclusão da reforma da pista de Surucucu para a gente tentar antecipar ou agilizar a implantação de um novo hospital de campanha naquela região. Entendemos que neste momento precisamos de no mínimo dois hospitais de campanha funcionando no território e temos clareza de que é possível fazer o tratamento de muitos desses pacientes no próprio território", disse.

No entanto, para implantar as unidades, Weibe relatou que é preciso que ocorra a saída dos garimpeiros destas regiões. "Nós acreditamos que só será possível assegurar uma universalização da saúde indígena do povo yanomami com a retirada dos garimpeiros para a das comunidades e dos nossos profissionais", completou.

Atualmente, de acordo com o Centro de Operações de Emergência Yanomami, criado para lidar a nível nacional e local com a crise, a terra yanomami possui 68 unidades de saúde, entre polos-bases e unidades básicas de saúde. Cinco pontos estavam fechados pelo avanço de garimpeiros ilegais na região e duas unidades voltaram a atender os indígenas.



Ainda de acordo com Weibe, será avaliada a portaria de emergência sanitária por desassistência ao povo Yanomami, que tem período de vigência de 90 dias e pode ser prorrogada. "O que nós devemos ter como horizonte é que tão logo haja uma normalidade, uma segurança no território, caberá à Sesai recompor as equipes a partir do contrato de recrutamento com profissionais da saúde", disse.

Região com 30 mil habitantes em Roraima, a terra indígena yanomami vive uma explosão de casos de malária, incidência de verminoses facilmente evitáveis, infecções respiratórias e agravamento da desnutrição, especialmente entre crianças e idosos.

O quadro foi agravado pela permanência de garimpeiros ilegais no território.