Em reunião com presidentes de partidos e líderes da base aliada no Congresso, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teceu indiretas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Sem citar o ex-chefe do Executivo, o petista disse que "é bom a gente esquecer quem governou esse país até o dia 31 de dezembro", mas reforçou que não se deve "nunca esquecer da tentativa de golpe no 8 de janeiro".
"Estamos há um mês e dez dias no governo, não tem mais porque a gente não estar resolvendo todas as demandas que aparecem para os líderes da base, de partidos que estão participando dessa frente parlamentar de sustentabilidade para a nossa democracia. Eu tenho dito a todas as pessoas que estou com muita fé de que a gente vai superar toda e qualquer dificuldade que se apresentar", afirmou nesta quarta-feira (8/2).
"Acho que é bom a gente esquecer quem governou esse país até o dia 31 de dezembro, mas a gente não deve esquecer nunca da tentativa de golpe no 8 de janeiro, uma tentativa de golpe que, possivelmente, poderia ter sido organizada para o dia 1º (na posse), e não foi por conta da quantidade de gente que tinha em Brasília", emendou.
Lula relatou ainda o histórico de protestos pacíficos realizados por movimentos sociais e, em nova indireta a Bolsonaro, voltou a dizer que os atos golpistas teriam sidos "arquitetados pelo responsável maior de toda a pregação do ódio".
"Sempre que eu lembro daquilo (ataques aos Três Poderes), lembro de quantas vezes eu vinha a Brasília desde 1978 fazer protesto, reivindicar aumento de salário, movimento sindical, sem teto, e nós nunca tivemos nenhum intenção de invadir o Congresso, o STF ou o Planalto. A gente vinha aqui, dizia o que a gente queria e voltava para casa, na maioria das vezes sem conseguir o intento que nos trazia a Brasília. Mas essas pessoas resolveram dar um passo adiante e fazer uma tentativa de golpe neste país. Hoje, eu não tenho dúvida de que isso foi arquitetado pelo responsável maior de toda a pregação do ódio, a indústria de mentiras, indústria de notícias falsas que tomou esse país nos últimos quatro anos porque não foi de agora."
Segundo o presidente, a campanha de desinformação "vem desde as eleições de 2018, quando a gente ainda não tinha tido a experiência da indústria de fake news nesse país. Um dado concreto é que temos muita coisa para fazer A gente não pode ter tempo de ficar lembrando e discutindo as coisas do outro governo, nós agora temos a responsabilidade de fazer, e foi para isso que fomos eleitos".
Relação com o Congresso
O presidente Lula ressaltou ainda querer "restabelecer a conversa mais civilizada possível com o Congresso" e reiterou que os Poderes não são antagônicos entre si.
"Temos que entender que o Congresso não é inimigo do governo e o Congresso tem que entender que o governo não é inimigo do Congresso. Outro dia, me perguntaram qual seria a minha base no Congresso, e eu disse que ia começar a minha administração com 513 deputados na minha base na Câmara e com 81 senadores no Senado, e que depois que o jogo começasse, a gente ia ver para onde as pessoas iam se arrumando, iam se arranjando."
O petista ainda se disse confiante de que conquistará maioria ampla para aprovar as reformas e projetos de governo. "Eu tenho certeza que a gente vai conquistar uma maioria ampla para fazer as mudanças que nós precisamos nesse país. Sabemos que, em tempo de autoritarismo, muitas coisas são aprovadas e depois a gente fica tendo consciência de que essas coisas não serviram o propósito de que muita gente acreditou e apostou."
Em referência ao ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, Lula afirmou que sua missão junto com aos líderes é a de "manter relação harmônica e muito sincera" com o Congresso.
"A gente não tem que ficar contando história, a gente não tem que ficar protelando as soluções, temos que ser mais precisos porque, quanto mais a gente demora para encontrar uma solução, seja num acordo simples de votação de uma MP, de um PL ou emenda, mais fica caro aprovar aquelas coisas."
O presidente reforçou também não querer clima de "desarmonia" com a Casa. "Nós não queremos a desarmonia. Queremos divergência que é normal, faz parte do jogo democrático. A gente não tem que concordar com tudo o que um deputado ou senador deseja, mas também é verdade que eles não têm que aprovar tudo o que um governo manda. É normal que um deputado tenha uma emenda, que um senador pense diferente, que um partido não concorde e tenha proposta diferentes."
O petista disse que, em sua relação com a sociedade e o Congresso, "nunca perguntará para alguém em quem a pessoa votou". "Eu vou perguntar o que quer fazer daqui para frente. Esse será o comportamento do presidente e esse será o comportamento do governo."
Por fim, disse aos parlamentares: "A gente não tem que pedir licença para governar, a gente não tem que agradar ninguém. A gente tem que agradar o povo brasileiro que acreditou em um programa que nos trouxe aqui, e é esse programa que vamos cumprir para obter o sucesso que o povo espera do nosso governo".