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Estado de Minas O RECADO DOS ESTREANTES

Lohanna França: 'É preciso que Zema desça do palanque e negocie com Lula'

Eleita pelo PV, ex-vereadora de Divinópolis é professora, se posiciona na centro-esquerda e quer a valorização das instituições estaduais de ensino


13/02/2023 06:00 - atualizado 12/02/2023 21:57

A deputada estadual Lohanna França
Lohanna França (foto) é uma das representantes da federação entre PT, PV e PCdoB na Assembleia de Minas (foto: Sarah Torres/ALMG)
Uma das 20 integrantes do bloco de oposição ao governador mineiro Romeu Zema (Novo) na Assembleia Legislativa (ALMG), Lohanna França (PV) crê que a frente formada por deputados estaduais de PT, PV, PCdoB, Rede e Psol pode ser uma das pontes entre Minas Gerais e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Embora diga que pretende dialogar com o Executivo estadual "em tudo o que for possível", Lohanna é crítica de pontos da política econômica de Zema, como a defesa ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF).

Enquanto Zema aponta a Recuperação Fiscal como saída para a dívida de quase R$ 150 bilhões do estado junto à União, Lohanna teme impactos do ajuste de contas nas políticas públicas estaduais.

"Existem caminhos para negociar com o governo federal - e Lula já deixou essas portas abertas. É preciso que Zema desça do palanque, pare de atacar o governo federal e vá negociar com o ministro da Fazenda (Fernando Haddad) e com o presidente uma perspectiva melhor para que Minas possa colocar a dívida em dia", diz, em entrevista ao Estado de Minas.

Ex-vereadora de Divinópolis, na Região Centro-Oeste de Minas Gerais, Lohanna quer encampar temas como a educação pública e o meio ambiente. O trabalho em conjunto com as outras 14 deputadas da bancada feminina também está na mira. "O governo de Minas precisa sair da omissão e começar a trabalhar para proteger a vida das mineiras. Em pautas assim, a gente vai deixar de lado toda a nossa diversidade e trabalhar de forma coletiva para proteger nossas mulheres", pontua.

Qual será a prioridade de seu mandato?

 

Sou professora. A defesa da educação é prioridade absoluta do mandato. Como vim do movimento estudantil, a defesa da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), dos estudantes das universidades públicas do estado e da estrutura da UEMG vão ser prioridades dentro da questão da educação. A defesa da cultura (também será prioridade), especialmente dos fazedores de cultura do interior. Sabemos que a maior parte dos recursos públicos do Fundo Estadual de Cultura e das outras fontes de financiamento ficam para a Região Metropolitana de BH, sendo que temos uma cultura viva e pujante no interior abandonada do ponto de vista orçamentário.

 

E (há) a defesa do Meio Ambiente, já que, para quem entendia que cuidar dele era coisa de hippie e de gente muito anarquista e diferente, agora as chuvas e os eventos cada vez mais extremos estão mostrando que a proteção ao Meio Ambiente é uma questão de sobrevivência e urgente a todos nós.

 

Leia: Base de Zema na ALMG se divide em dois blocos, e PL vai liderar um deles 


A senhora está no bloco de oposição a Zema. Como projeta a relação de seu mandato, em termos individuais, com o governador?

 

Me considero uma pessoa de centro-esquerda, moderada, mas que sabe as batalhas e as pautas das quais não dá para mão. A defesa do serviço público como organização capaz de levar a prestação de serviços de qualidade a quem está na ponta é inerente ao meu trabalho. Então, pretendo dialogar com o governo em tudo aquilo o que for possível. Por, justamente, saber onde não posso ceder, sei onde posso. Existem bandeiras que, para a gente, são inegociáveis. Dentro do que entendemos que pode ser favorável para a população, vamos negociar, sim.

Estou no bloco de oposição e me entendo como progressista e com viés de esquerda, mas entendo que é importante, também, conseguir negociar e construir alianças. Se não, quem perde é o povo mineiro.

A senhora citou a defesa do serviço público, tema que está relacionado ao Regime de Recuperação Fiscal defendido por Zema para negociar a dívida bilionária contraída junto à União. Por outro lado, parte do funcionalismo teme os impactos desse ajuste de contas. Qual a sua posição a respeito?

 

Na forma como está proposto hoje, o Regime de Recuperação Fiscal não apenas prejudica as carreiras do serviço público, mas a prestação de serviços, já que vai inviabilizar a ampliação de alguns serviços do estado. Se a Recuperação Fiscal for efetivada da forma que está, como vamos ocupar os 11 hospitais regionais de trabalhadores, uma vez que não poderemos ter ampliação da folha (de pagamento)? São perspectivas importantes que mostram que ser contra o regime da forma como ele foi construído hoje não é só defender o servidor público. É isso também, mas não apenas. É ter compromisso com a prestação de serviços à população que está na ponta e depende do estado para ter acesso aos direitos fundamentais.


Existem caminhos para negociar com o governo federal - e Lula já deixou essas portas abertas. É preciso que Zema desça do palanque, pare de atacar o governo federal e vá negociar com o ministro da Fazenda (Fernando Haddad) e com o presidente uma perspectiva melhor para que Minas possa colocar a dívida em dia.

 

Leia: 'Zema governou olhando para trás', diz deputado líder da oposição na ALMG 


O governador defende, também, a privatização de estatais. A senhora pensa que isso pode ser debatido ou é contra a ideia?

 

Temos de discutir caso a caso. No geral, o que o governador tem trazido é uma perspectiva de venda do estado, inclusive em áreas fundamentais. Vemos o governador, por exemplo, com uma facilidade em entregar os serviços públicos de saúde para organizações sociais de saúde (OSS) que é algo impressionante. Existem OSS sérias, mas existem outras envolvidas em diversos escândalos. A gente não pode deixar que a gestão da saúde vá por esse caminho.

Lula, quando foi presidente, avançou em algumas questões de privatização e fez uma reforma do funcionalismo que à época, foi criticada por alguns setores da esquerda. Temos de discutir caso a caso, mas sem lotear Minas e sem fazer com o que o patrimônio do estado vá para a iniciativa privada. Não se trata de uma empresa, mas do governo do estado de Minas Gerais.

 A senhora compõe uma legislatura com recorde de mulheres: 15. No último ciclo, a Assembleia formalizou a criação de uma bancada feminina. Como esse grupo pretende trabalhar junto nos próximos quatro anos?

 

É um grupo muito diverso. Temos mulheres mais à direita, mulheres mais à esquerda e mulheres de centro, com pautas regionais interessantes. Mas tenho certeza que algumas questões nos unem: Minas Gerais lidera o ranking de feminicídios. Essa questão nos une. A defesa das delegacias da mulher e a cobrança para que o governo de Minas nomeie delegadas (também une). Temos um vazio na questão das delegacias da mulher que é impressionante.


O governo de Minas precisa sair da omissão e começar a trabalhar para proteger a vida das mineiras. Em pautas assim, a gente vai deixar de lado toda a nossa diversidade e trabalhar de forma coletiva para proteger nossas mulheres.

 

Leia: Oposição a Zema na ALMG terá 20 deputados; parlamentar do PT será o líder 


Deputados do bloco de oposição têm falado em utilizar a coalizão como ferramenta de diálogo com o governo Lula. Como a reprodução, em Minas, da união entre PT, PCdoB, PV, Psol e Rede, pode auxiliar a interlocução dos deputados com o governo federal?


Existem pautas muito interessantes para trabalhar nesse sentido: habitação, por exemplo. Com o retorno do governo Lula, a gente tem perspectiva óbvia de retorno de investimentos no 'Minha Casa, Minha Vida', que estava praticamente parado, já que o 'Casa Verde e Amarela' foi só uma nova logomarca - não houve, de fato, a construção expressiva de casas para os brasileiros. O vice-presidente (Geraldo Alckmin) já se reuniu com construtoras para poder alinhar o retorno do projeto. Isso, naturalmente, vai ter impacto sobre os planos de Zema de privatizar a Cohab - e sobre a construção de moradias em Minas.

Em ciência e tecnologia, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) tem sofrido sob o governo Zema. Os investimentos são muito pequenos e deficitários. Temos a perspectiva de, com o retorno dos investimentos em ciência e tecnologia a nível federal, isso ter impacto na Fapemig e, por consequência, na Uemg - já que vários alunos da Uemg, apesar de não receberam diretamente recursos do governo federal, são bolsistas da Fapemig. O bloco é o caminho natural para que o governo federal converse com Minas Gerais, já que, pelos gestos que o governador tem feito, o poder Executivo não será esse caminho.


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