O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, defendeu nesta terça (14) que é preciso ter boa vontade com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e elogiou sua política econômica.
"O investidor é muito apressado, muito afoito. A gente tem que ter um pouco mais de boa vontade com o governo, 45 dias é pouco tempo. Tem uma boa vontade enorme do ministro Fernando Haddad de falar, 'olha, nós temos um princípio de seguir um plano fiscal com disciplina'. Tem um arcabouço que está sendo trabalhado, já foram elaborados alguns objetivos", disse Campos Neto durante evento do banco BTG Pactual nesta manhã.
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"Se a gente fizer uma mudança agora, sem um ambiente de tranquilidade e um ambiente onde a gente está atingindo a meta com facilidade, o que vai acontecer é que você vai ter um efeito contrário ao desejado. Ao invés de ganhar flexibilidade, você pode terminar perdendo flexibilidade", afirmou no programa.
A expectativa sobre uma mudança nas metas de inflação foi gerada por uma entrevista de Lula, que considerou exagerados os patamares atuais e defendeu 4,5%, o mesmo nível fixado em seus dois primeiros mandatos.
Campos Neto sofreu uma série de ataques de Lula, que chamou os juros de "vergonha", a autonomia do BC de "bobagem" e se referiu ao presidente do BC como "esse cidadão".
As críticas do governo a Campos Neto se acentuaram depois de uma imagem captada pela fotógrafa da Folha Gabriela Biló, em 10 de janeiro, mostrando que ele ainda era integrante de um grupo de WhatsApp chamado "ministros Bolsonaro".
Depois que a imagem da tela de celular do senador Ciro Nogueira (ex-Casa Civil) foi a público, Campos Neto deixou o grupo.
Nesta terça, durante o evento do BTG, o presidente do BC afirmou ainda que a mudança de postura da atual gestão em relação à questão ambiental trouxe ganhos ao Brasil.
"A boa vontade com o brasileiro é enorme. Tinha um tema ambiental de fato, e a gente falava muito com investidores sobre isso. Eu levantei muito essa bandeira, que esse era um tema que vai definir se o dinheiro vai voltar ou não", afirmou. "Se você não for inclusivo e não for sustentável, você não faz parte da recuperação."
Campos Neto também disse que teve "uma conversa muito boa" com Simone Tebet, ministra do Planejamento, sobre gastos públicos.
O presidente do Banco Central também disse achar justo que haja questionamentos sobre os juros estarem altos, e que o BC deveria ter uma comunicação mais didática sobre as razões disso, como a de que as ações devem ter resultado em um tempo mais longo.
Na palestra, também defendeu a importância da autonomia dos BCs, e deu como exemplo o caso do Peru. O país tem o mesmo presidente do Banco Central desde 2007 e mesmo com as notícias sobre impeachment do presidente e fortes protestos nas ruas, o câmbio não teve variações bruscas.