O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu paciência aos seus apoiadores nesta terça-feira (14), disse que ainda está terminando de montar sua equipe e prometeu afastar "bolsonaristas escondidos" em postos estratégicos do governo.
As declarações foram dadas em Santo Amaro (80 km de Salvador), onde o presidente assinou a medida provisória que recria o programa Minha Casa, Minha Vida.
"Estamos apenas há 40 dias no governo. A gente ainda nem conseguiu montar as equipes que temos que montar porque nós temos que tirar bolsonaristas que estão escondidos às pencas no governo", afirmou.
Na sequência, ele disse que o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), é quem tem a responsabilidade de "tirar aquela gente infiltrada" do governo.
Em discurso, o presidente ainda fez referência a Jair Bolsonaro (PL), a quem chamou de Bozo, e disse que o ex-presidente não teve coragem de encará-lo após a derrota nas urnas em outubro.
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"O nosso Bozo foi se esconder nos Estados Unidos com medo de me passar [a faixa] na posse. Não teve coragem de me encarar de frente e me passar a posse como uma pessoa normal faz."
Ao lançar o programa Minha Casa, Minha Vida, Lula afirmou que "a roda-gigante do país começa a girar hoje".
Disse ainda que deve organizar uma agenda de viagens pelo país com os ministros para retomar obras que estão paradas. E citou como exemplo as cerca de 4.000 obras de escolas e creches que estão interrompidas.
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Lula desembarcou em Santo Amaro de helicóptero por volta das 16h20 e seguiu de carro até o residencial que seria inaugurado.
Em um ambiente confortável, cercado de apoiadores e políticos aliados, foi recebido com um show do grupo de samba de roda Samba Chula. Subiu no palco ao lado do governador Jerônimo Rodrigues (PT).
A inauguração aconteceu na área externa do residencial, onde foram montados um palco e um toldo.
Cerca de 200 cadeiras foram disponibilizadas para o público, que foi bem maior: de pé, apoiadores se espremiam por entre os gradis para ver o presidente. Levaram adesivos do PT e toalhas com a imagem de Lula.
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Ao relançar o programa habitacional, Lula anunciou como meta a contratação de dois milhões de imóveis até o final de seu governo, em 2026.
O Minha Casa Minha Vida foi substituído em 2020, no governo Bolsonaro pelo Casa Verde e Amarela, que não decolou. O programa sofreu reduções expressivas de verba ano a ano e tirou de seu foco a faixa 1, voltada às famílias mais pobres.
Nesta terça, o presidente fez uma entrega simultânea de 2.745 unidades habitacionais nos estados da Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco e Paraná em um investimento de R$ 206,9 milhões.
Na cidade de Santo Amaro, cidade visitada pelo presidente, foram 684 unidades entregues em dois conjuntos habitacionais.
O relançamento do programa teve como principal novidade a retomada da faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida, destinada a famílias com baixa renda, extinta pela gestão Bolsonaro.
Esta faixa será voltada para famílias com renda bruta mensal de até R$ 2.640 –antes, a renda exigida era de R$ 1.800.
A meta do novo governo é que até 50% das unidades financiadas e subsidiadas sejam destinadas a esse público. O subsídio oferecido a famílias dessa faixa de renda varia de 85% a 95% do valor do imóvel.
O governo também informou que os novos empreendimentos estarão mais próximos a comércio, serviços e equipamentos públicos. O presidente Lula ainda prometeu a inclusão de varandas nas casas do programa.
A meta do governo federal é estabelecer parcerias com estados e municípios para acelerar a entrega de ao menos 170 mil imóveis em residenciais que estão com obras avançadas.
A Folha de S.Paulo mostrou que o novo Minha Casa, Minha Vida herda um passivo de 130,5 mil moradias cujas obras estão atrasadas ou paralisadas.
O levantamento do Ministério das Cidades, obtido pela Folha em janeiro, mostra que são 1.115 empreendimentos atrasados ou paralisados, todos ainda do Minha Casa, Minha Vida. O mais antigo teve o contrato assinado em 2009, ano em que ele foi lançado, mas a maioria foi contratada entre 2014 e 2018.
Juntos, os empreendimentos já receberam aportes de R$ 4,8 bilhões, sendo que a maioria (R$ 3,8 bilhões) foi para obras paralisadas.
O Brasil tem uma deficiência de 5,9 milhões de casas, segundo diagnóstico da Fundação João Pinheiro para o ano de 2019, o mais recente disponível.
Nesse universo, há cerca de 1,5 milhão de domicílios precários, que incluem aqueles improvisados em barracas ou viadutos e os classificados como moradias rústicas (sem reboco ou de pau a pique).