O deputado federal mineiro Rafael Simões, do União Brasil, disse, nesta quarta-feira (15/2), que a bancada do partido na Câmara Federal ficou "surpresa" com as críticas da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. Na semana passada, a dirigente defendeu o que chamou de "freio de arrumação" na relação entre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e o União.
Embora tenha o controle de três ministérios, a legenda fruto da fusão entre DEM e PSL tem mantido postura independente em relação ao Palácio do Planalto, o que irritou a cúpula petista.
Ao Estado de Minas, Simões explicou que a independência dos 59 deputados federais do União Brasil foi acertada após reunião entre os integrantes da bancada.
"Alguns colegas ficaram meio sentidos com a colocação dela, de usar 'freio de arrumação'. Para nós, que somos caipiras, isso serve para ajeitar bois dentro de um caminhão. Não é nosso caso. Somos pessoas preparadas, que sabem o que estão fazendo lá (no Congresso)", afirmou.
Na semana passada, Gleisi defendeu uma conversa com lideranças do União a respeito das bases do acordo que deu ao partido espaços no governo Lula.
"Acho que temos que fazer um freio de arrumação, porque, mesmo sendo contemplado como foi, é um partido que não está fazendo entrega. É um partido que tem dificuldades pela sua composição interna e pelo distanciamento também que sempre teve de nós. No processo eleitoral, totalmente distantes e historicamente também", assinalou à Folha de S. Paulo.
Ao detalhar a "surpresa" que tomou conta dos deputados federais do União por causa das declarações de Gleisi, Simões afirmou que a bancada da agremiação na Câmara não conversou a respeito dos indicados para as pastas entregues ao partido. Hoje, o partido é representado na Esplanada dos Ministérios por Daniela Carneiro, a Daniela do Waguinho (Turismo), e Juscelino Filho (Comunicações). Há, ainda, o caso de Waldez Góes, indicado para a Integração Nacional. Embora seja filiado ao PDT, ele deve se mudar para o União e é ligado ao senador Davi Alcolumbre (AP), um dos caciques da sigla.
"Se houve essas indicações, elas partiram, acredito, do próprio presidente Lula. Se houve alguma tratativa, não foi com a bancada. A bancada se reuniu ontem. Discutimos por longo tempo essa questão, até por conta de situações que estão circulando em blogs e reportagens. Nós, da bancada do União Brasil, a terceira maior da Câmara dos Deputados, definimos pela independência", garantiu o deputado mineiro.
"Não queremos discutir cargos no governo federal. Queremos discutir o Brasil; o que é bom para o país", completou.
'Oposição por oposição' é ideia rechaçada
Os bastidores do União Brasil ficaram agitados, também, por causa de uma opinião dada pelo presidente nacional do partido, Luciano Bivar, deputado federal por Pernambuco. Na edição de ontem de "O Globo", Bivar disse que o senador Sergio Moro (PR), histórico opositor de Lula, pode mudar de sigla se sentir desconforto com a aproximação de parte dos correligionários ao governo federal.
"Moro vai votar como quiser, não será coagido por ninguém, mesmo porque não tem cargos no governo. Mas ele e os demais saberão qual é a posição oficial do partido, e quem se sentir incomodado poderá sair sem qualquer prejuízo. Como tapar o sol com a peneira?", admitiu.
Rafael Simões, porém, crê que a questão já está superada. Ontem, na reunião dos parlamentares federais do União Brasil, a esposa de Moro, Rosângela, que exerce mandato por São Paulo, levou aos colegas a posição do marido.
"Oposição por oposição não vai existir, pelo menos da minha parte - e acredito que também da parte de Moro. Vamos estar lá vigilantes, para que as coisas aconteçam dentro da normalidade", pontuou.