Brasília - O enviado especial do governo dos Estados Unidos para o clima, John Kerry, reforçou ontem a disposição da Casa Branca em contribuir para o Fundo Amazônia, mas evitou falar em valores e ressaltou que há dificuldades na tramitação das propostas no Congresso de seu país.
Por isso, ele abriu a possibilidade de novas frentes para levantar recursos, como o mercado de carbono, e financiamentos por meio de bancos multilaterais de investimento e também de filantropia. Kerry afirmou que, no total, há US$ 13,5 bilhões previstos em propostas tramitando no Congresso americano, sendo que parte desses recursos poderiam ser usados para o Fundo Amazônia, caso as medidas fossem aprovadas.
Ele participou de reunião com a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. Os dois emitiram um comunicado conjunto após o encontro e responderam às perguntas de jornalistas. Kerry foi questionado especificamente sobre eventual aporte americano ao fundo.
"Nós temos uma proposta legislativa no Senado que tem US$ 4,5 bilhões como meta e temos outra na Câmara que tem US$ 9 bilhões como meta. Ela é bipartidária em ambas as Casas, mas sabemos que haverá uma luta pelo caminho. Então, também estamos trabalhando com o banco multilateral de desenvolvimento, e também estamos trabalhando com o mercado de carbono", afirmou o norte-americano.
Essas propostas versam sobre o envolvimento dos Estados Unidos em medidas em benefício de questões ambientais, sem ser específicas para a Amazônia. A ministra Marina Silva ressaltou que um aporte no Fundo Amazônia seria uma novidade para o governo dos Estados Unidos, que costuma realizar suas ações de co- operação no âmbito de sua agência governamental, a Usaid. Acrescentou que Kerry está comprometido a viabilizar os recursos, mas depende do Congresso para isso.
"Os Estados Unidos têm um mecanismo muito particular de cooperação, que é através da Usaid. É uma inovação muito grande aportar recursos diretos, não renováveis, e fazer isso no âmbito do Fundo Amazônia", disse. "O que tratamos é que o governo vai buscar viabilizar esses recursos, mas isso passa pela aprovação do Congresso americano", emendou.
Marina também buscou deixar claro, ao lado de Kerry, que a cooperação envolvendo a Amazônia não significa que o país está abrindo mão de sua soberania. "Nossa soberania impõe responsabilidades e entendemos o caráter que a Amazônia tem de equilíbrio do planeta", destacou. "Mas temos a clareza da soberania desse território."
John Kerry chegou a Brasília no domingo, e desde então teve uma série de agendas com autoridades brasileiras. Manteve reunião no Palácio do Itamaraty com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), com a secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores, Maria Laura Rocha, e com a própria Marina. Ontem, o ex-senador americano também se encontrou com o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
No início de fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma visita ao presidente dos EUA, Joe Biden. Na ocasião, a Casa Branca acenou com cerca de US$ 50 milhões (R$ 260 milhões) para cooperação ambiental – o valor foi considerado decepcionante por negociadores brasileiros.