Enquanto o governo federal engata em pautas estratégicas, como os programas sociais e a reorganização das contas públicas, o maior partido de oposição, o PL, se organiza para tentar barrar os projetos do Executivo no Congresso e defender pautas conservadoras.
O partido aposta ainda nas eleições municipais de 2024 e quer triplicar o número de prefeituras que controla, aumentando a capilaridade e a força para as eleições nacionais de 2026.
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O PL realizou na quarta-feira da semana passada (2/3) uma reunião de bancada na Câmara dos Deputados para definir o posicionamento da legenda em relação às pautas prioritárias da base governista, além de discutir a estratégia para as eleições de 2024.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, conduziu as tratativas e anunciou a criação de um Observatório Estratégico pelo partido, formado por especialistas, para acompanhar as propostas pautadas no Congresso Nacional pelo Executivo. Segundo Costa Neto, o grupo vai fornecer aos parlamentares análises e matérias para unificar o posicionamento da bancada.
“Então, temos que fazer uma crítica ao governo, o governo errou em alguma coisa, eles vão dar tudo pronto. O que você tem, qual é o questionamento, o que você tem para falar. Se você seguir aí, você vai dar espaço para o cidadão poder falar”, orientou o presidente do PL. A ideia é que os parlamentares recebam o posicionamento da legenda pronto, e acrescentem suas ideias pessoais.
"Combatendo e fiscalizando"
O líder do PL na Câmara, deputado Altineu Côrtes (PL-RJ), também reforçou a necessidade de unificação na atuação da legenda. “A gente fortalecer nossa unidade nessa oposição é o fortalecimento que a gente vai construir para 2024”, frisou.
Segundo o parlamentar, o partido precisa fazer uma “oposição responsável” ao governo Lula. “Combatendo e fiscalizando, e colocando, através desse trabalho de base do observatório, em um discurso unificado”, acrescentou. Ele defendeu ainda a necessidade de “virar a página” dos problemas vividos pela oposição.
Os esforços de unificação do partido ocorrem em meio a uma disputa interna entre a ala bolsonarista e os parlamentares considerados mais moderados da legenda, alinhados a Costa Neto. O presidente puxa o esforço para tornar o PL mais coeso, enquanto os bolsonaristas querem assumir o comando da sigla. Na reunião da bancada, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) chegou a mencionar que traições ao bolsonarismo não serão perdoadas.
PL quer ampliar prefeitos em capitais
O PL se organiza também para as eleições municipais do ano que vem. Atualmente, o partido tem 328 prefeituras, mas pretende aumentar o número para mais de mil. Atualmente, as legendas com maior capilaridade nos municípios são o MDB, com 784, o PP, com 685, e o PSD, com 654. O PL visa ainda prefeituras das grandes capitais brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
A estratégia do partido para alcançar a meta passa pela destinação de recursos parlamentares para as bases nos municípios, pela atuação dos filiados como cabos eleitorais e, principalmente, do ex-presidente Jair Bolsonaro e sua esposa, Michelle Bolsonaro, em campanha.
Em entrevista à imprensa após a reunião da bancada, Costa Neto disse esperar o retorno de Bolsonaro até, no máximo, abril. Não há ainda definição sobre a data. Enquanto o ex-mandatário ficará em encontro com os prefeitos e visitas a municípios, Michelle terá o papel de atrair o público feminino.
Ela foi anunciada como presidente do PL Mulher, e o partido planeja um evento ainda em março, mês das mulheres, para alavancar sua atuação e o início das viagens. “Ela tem levado muita gente para os lugares que foi, pena que entrou tarde na campanha (de Bolsonaro) e não deu para ajudar nisso”, avaliou.
Pautas de ação estão definidas
O PL definiu ainda uma posição contra as grandes pautas previstas para serem enviadas ao Congresso Nacional pelo governo. A primeira delas é a reoneração dos combustíveis promovida na semana passada. O governo federal determinou a volta da cobrança do PIS/Cofins sobre o álcool e a gasolina por meio de uma Medida Provisória, que passa a valer desde sua assinatura, mas precisa do aval do Congresso para se manter.
“Os deputados e deputadas federais do PL se manifestaram contrários ao fim das desonerações fiscais dos combustíveis, que já estão provocando aumentos no preço da gasolina, do etanol, do diesel e do gás de cozinha, afetando principalmente as camadas mais vulneráveis da população”, escreveu Valdemar Costa Neto em comunicado à imprensa sobre a reunião do partido.
A legenda deve se mobilizar para colocar a medida em pauta e, com a maior bancada na Câmara e grande bancada no Senado, pode trazer um risco de derrota à base governista. Membros do Centrão também sinalizaram que podem votar contrários à medida. O governo, por sua vez, quer atrasar ao máximo a votação da medida, que tem duração de quatro meses, para não correr risco de desgaste.
O partido firmou ainda que será contra qualquer proposta para regularização das mídias, pauta defendida pelo Executivo e que deve tramitar, pelo menos, em uma proposta do “Pacote da Democracia” redigido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, que quer responsabilizar as plataformas digitais por conteúdos golpistas e ilegais divulgados, e no PL da Fake News, que tramita no Senado.
A oposição vai bater nos escândalos envolvendo integrantes da Esplanada de Lula para desgastar o governo. O mais recente é o do ministro das Comunicações, Juscelino Filho que, entre outras denúncias, utilizou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para participar de um leilão de cavalos de raça.