
Juscelino Filho foi recebido por Lula, ontem, para dar explicações sobre as denúncias das quais é alvo por uso indevido de recursos públicos. O Palácio do Planalto não emitiu comunicado oficial a respeito da reunião. Logo após o compromisso, o ministro afirmou nas redes sociais que a conversa com o presidente tinha sido "muito positiva".
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"Saí há pouco do Palácio do Planalto, onde tive uma reunião muito positiva com o presidente Lula. Na ocasião, esclareci as acusações infundadas feitas contra mim e detalhei alguns dos vários projetos e ações do Ministério das Comunicações. Temos muito trabalho pela frente", postou.
O ministro declarou, ainda, que vai viajar com Lula para "inaugurar a Infovia 01, entre as cidades de Manaus e Santarém, ampliando o acesso à internet na Região Amazônica". Procurado, o Ministério das Comunicações não se pronunciou sobre a reunião.
Na última quinta-feira, em entrevista à BandNews, Lula declarou que Juscelino Filho teria de provar sua inocência para permanecer no cargo. "Se ele não conseguir provar a inocência, não pode ficar no governo", frisou o presidente.
Derrotado no ano passado por Arthur Maia (BA) na escolha interna do União Brasil para presidir a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara, Juscelino Filho, apadrinhado por Elmar Nascimento (BA), cacique da sigla, estava na "lista de espera" para ocupar posto ou cargo relevante que fosse entregue à bancada.
A legenda e o PSD são as duas únicas siglas que não apoiaram oficialmente Lula na campanha do ano passado, mas somam cargos no terceiro mandato do petista. O União Brasil tem 59 deputados e oito senadores; o PSD soma 42 e 16, respectivamente.
Os parlamentares dos dois partidos, portanto, são relevantes para que Lula consiga apoio para suas propostas no Congresso, já que o núcleo duro do petista conta com cerca de 120 integrantes na Câmara e 20 no Senado - quantitativo insuficiente até mesmo para atingir o mínimo necessário para começar uma sessão plenária.
Em entrevista à CNN, Juscelino Filho disse que mostrou na reunião com Lula - da qual participaram também os ministros das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e da Casa Civil, Rui Costa - as agendas realizadas em sua mais recente viagem, de 10 dias, ligada à expansão do 5G, entre outros pontos.
Questionado a respeito das falas da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que defende sua saída, o titular das Comunicações respondeu que não comentaria as declarações da deputada federal. Os gabinetes de Padilha e Costa também não se manifestaram.
Cálculo político
A manutenção do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, no cargo passou por um cálculo político, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser informado de que uma dispensa, neste momento, teria troco do União Brasil no painel de votação do Congresso.
Lula conversou sobre o assunto, nos últimos dias, com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); e com o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), um dos fiadores de Juscelino. Todos disseram que demitir o ministro agora poderia trazer graves consequências para a aprovação de projetos caros ao governo, como o novo arcabouço fiscal.
Ficou acertado, então, que Lula daria um tempo para Juscelino se explicar em público, mas também cobraria fidelidade do União Brasil nas votações.
Esclarecimentos
O presidente pediu a Juscelino que fosse às ruas, à TV e às redes sociais explicar "ponto a ponto" as acusações. De acordo com relatos de auxiliares, Lula cobrou que o ministro "se defenda, vá a público e se manifeste". O silêncio do ministro, até agora, incomodou o Planalto.
A Comissão de Ética Pública da Presidência vai analisar, em reunião no próximo dia 28, denúncias de desvios éticos envolvendo Juscelino. O colegiado pode recomendar ao presidente a demissão do ministro. Nos bastidores do governo, a situação de Juscelino é considerada insustentável a médio prazo.