O Ministério da Cultura (MinC) lançará no próximo dia 20 uma portaria que vai congregar todas as pastas e movimentos sociais envolvidos no planejamento da construção do museu que marcará a memória da escravidão, no Cais do Valongo, no Rio de Janeiro. A decisão foi tomada em reunião, após a visita das ministras Anielle Franco e Margareth Menezes ao local, na última quinta-feira (9/3). Segundo interlocutores ministeriais ouvidos pelo Correio, um dos motivos para a medida é a disputa entre o Ministério da Cultura e da Igualdade Racial sobre quem encabeçará o projeto.
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'Muitas tendências'
Gestores que tentaram executar um projeto no local tiveram dificuldades. “Tem muitas tendências dentro do movimento preto e não se consegue fechar uma posição. Quando se estabelece uma tese, o resto do grupo se antagoniza. Há sempre algum tipo de protesto e rejeição dos movimentos. O problema nem é tanto recurso, é definição. Não se consegue definir com clareza o que será realizado, pelas divergências do grupo mobilizado, da sociedade civil”, explicou um militante que participa do movimento social, mas preferiu não ser identificado.
Além dos dois ministérios, outra pasta que deverá entrar no plano de ação será o Ministério da Educação (MEC), que, pela sua larga produção de estudos da cultura africana e da sua diáspora, terá o objetivo de fortalecer o legado dos negros para o Brasil.
Revitalização
O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) será o financiador de parte do projeto, mas não se limita apenas à estrutura do museu que será construído em um antigo armazém, localizado em frente ao sítio arqueológico. O foco será também na intervenção no território por meio da revitalização da área.
“Acontece que, sempre quando se faz um museu, como está sendo proposto, e quando não se apoia a região, vem a crítica de gentrificação. Passa pela oportunidade de locais de venda, para o pessoal da região, algum tipo de crédito orientado, espécie de microcrédito para quem já vive na região, sempre privilegiando o território e a comunidade preta”, explicou a fonte ministerial.
Essa é a terceira etapa da consolidação do projeto Porto Maravilha, que é composto pelos aparelhos culturais Museu do Amanhã, Museu de Arte do Rio (MAR) e AquaRio. A primeira fase foi de intervenção urbana, com a implosão de viadutos e recolocação do espaço urbano. A segunda foi de construção de locais culturais, para trazer demanda turística e desenvolvimento de serviços na região.
Agora, se inicia a fase habitacional para levar movimento em todos os turnos para a região. O museu no Cais do Valongo será mais um elemento para o ecossistema da Região Portuária, que virá com a edificação e venda de imóveis na região.